Magnano se preocupa com Huertas e Varejão e torce para que troquem de time
Marcelinho Huertas e Anderson Varejão preocupam, e muito, o técnico da seleção brasileira de basquete Rubén Magnano a pouco mais de cinco meses para a estreia nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. As situações do armador e do ala-pivô na NBA são vistas com temor pelo argentino. A questão é saber: como eles estarão à época da Olimpíada? Huertas só atuou em 29 dos 55 jogos do Los Angeles Lakers e tem média de 11,4 minutos. Varejão entrou em 31 de 52 partidas do Cleveland Cavaliers, e tem média de 10 minutos em quadra – a quantidade mais baixa desde que entrou na NBA, em 2004.
E diante deste quadro, Magnano não esconde. Gostaria de ver os atletas em outras equipes até o fim da temporada. Mas o prazo para isso é curto. A janela de transferência da liga americana se encerra no próximo dia 18.
“São os que mais me preocupam, sem dúvidas. Eu falei isso a eles, e eles sabem disso. Vamos ver como fica esta história [de troca de times, que acontece anualmente no meio da temporada]. Seria muito bom se conseguissem algo. Dei o meu parecer e a minha ideia, tivemos uma conversa muito aberta. Mas não sou eu que vou fechar o negócio. Todos sabem como funcionam as coisas na NBA. As franquias fazem o que quiserem. Se seguir como está, precisaremos utilizá-los ao máximo nas partidas de preparação para colocá-los em forma”, disse o treinador em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, por telefone.
Não bastassem estes dois, Tiago Splitter está com um problema no quadril e poderá ser submetido a uma cirurgia nos próximos dias. A informação foi divulgada na quarta-feira pelo The Atlanta Journal-Constitution, após o treinador conceder esta entrevista.
A conversa com Huertas e Varejão a qual Magnano se referiu em sua fala é a que teve durante a sua viagem aos Estados Unidos, no mês passado. Falou pessoalmente com todos os atletas brasileiros da liga – com exceção de Raulzinho, por problemas de logística devido a uma nevasca – e recebeu deles a palavra que estarão com a seleção no Rio.
“Esta conversa cara a cara não tem preço. Todos os jogadores pegaram a mensagem muito clara que estamos vivendo um momento único, de disputar uma Olimpíada em nosso maís. Muitos poucos atletas e treinadores tiveram esta chance. Somos afortunados”, disse Magnano, que no momento se encontra em Córdoba (ARG), com sua família.
No fim deste mês, o treinador viajará à Espanha para conversar com Augusto Lima, do Real Madrid, e Vitor Benite, do Murcia. A convocação para a Olimpíada deverá ser realizada em meados de maio e os treinamentos visando à Olimpíada começarão no fim de junho, em São Paulo.
Forma dos astros é motivo de vigilância
Em mais de 30 minutos de entrevista, Magnano citou diversas vezes a palavra “preparação” e afirmou que a forma física e técnica dos jogadores, principalmente os da NBA, no dia da apresentação é o que mais o incomoda.
“O primeiro jogo que temos de ganhar é o da preparação. Temos de fazer uma preparação muito forte, quero todos com foco nisso. A grande questão que mais me preocupa agora é a realidade muito diversa entre um atleta e outro, por questão de calendários. Os atletas ainda não sabem quando vão terminar as temporadas com seus clubes”, disse o treinador.
“Temos jogadores jogando muito pouco e que são muito importantes. Pode ser que isso mude a partir de agora. Quero que os atletas cheguem com uma boa minutagem, e isso é o que mais preocupa. Não é tão fácil trocar o chip de uma hora para outra. Temos de colocar todos na mesma sintonia”, completou.
Para deixar o time nacional no melhor de sua forma para a estreia na Olimpíada em 6 de agosto – contra adversário ainda indefinido – Magnano prevê um período de 40 dias de treino e cerca de dez partidas amistosas. Há negociações com seleções como França e Lituânia.
“O que já deixei claro é que quero que a gente se mova o menos possível. Temos de nos aproveitar do fato de jogar em casa. A única possibilidade boa de viagem agora é para a Argentina para a disputa de um torneio. Não temos nada fechado ainda, mas temos boas ideias. Gosto de enfrentar os melhores adversários possíveis”, garantiu.
Magnano desconversa sobre time titular
Apesar de faltarem menos de seis meses para os jogos, Magnano diz que não tem a lista dos representantes do país definida em sua cabeça e que todos os atletas que já passaram pela seleção com ele tem chances de compor o grupo.
“Agora não vou fechar nomes ou possibilidades. Mas claro que hoje tenho bem definido um grupo de jogadores que posso chamar pensando não apenas na seleção do Brasil neste momento, mas também o que podem representar no futuro”, analisou.
O treinador, inclusive, afirmou que não tem nenhum tipo de problema com o armador Larry Taylor e com o pivô Rafael Hettsheimeir. Os dois foram duramente criticados por Magnano no ano passado quando pediram dispensa do grupo que disputou a Copa América do México dias antes do torneio no qual o Brasil acabou eliminado ainda na primeira fase.
“Tudo o que faço será pensando no melhor da seleção. Já falei com o Larry e o Rafael e voltarei a falar com eles, estão dentro do nosso planejamento. Mas claro que quando você deixa um espaço e alguém o ocupa isso acaba se tornando um problema para eles”, afirmou.
Magnano evitou também fazer a projeção de um time titular. O treinador saiu pela tangente ao ser questionado se Raulzinho, que faz boa temporada de estreia pelo Utah Jazz, estaria pronto para ser titular no lugar de Huertas.
“Com certeza em seis anos que estou na seleção você nunca me escutou falar de titulares. Tem jogadores que abrem o jogo, outros que terminam. Eu não tenho nenhuma preocupação quanto a isso. A minha única preocupação é que o cara renda na hora de jogar. Tenho exemplos muito claros disso e um deles é o próprio Raulzinho, que contra a Argentina, na Copa do Mundo, entrou e teve ótima atuação (terminou com 21 pontos e ajudou na vitória por 85 a 65)”, disse.
Técnico quer seleção jogando sempre no mesmo horário
A fim de facilitar a preparação e a programação dos atletas durante os Jogos Olímpicos no que diz respeito a horário de treinos, descanso e alimentação, Magnano afirmou que pedirá à Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e Comitê Olímpico do Brasil (COB) para que a seleção atue sempre no mesmo horário. O que ele não quer, por exemplo, é o time jogando um dia às 12h e na rodada seguinte às 22h30. Há quatro anos, em Londres, o Brasil jogou em três horários diferentes na fase inicial.
“Os Estados Unidos fixam um horário e todas as outras seleções vão girando de acordo com isso. O que eu pedi é que respeitem o mesmo horário nosso em todos os jogos. Porque aí faremos a última parte da nossa preparação á dentro deste contexto, adequando a rotina dos atletas, para que eles se ambientem a tudo o mais rapidamente possível”, disse.
“Se você me perguntar qual horário prefiro, gostaria de fazer todas as partidas às 19h. Mas isso não passa pela vontade de um treinador. Depende dos dirigentes”, completou.
Família virá ao Brasil, e mais de 100 ingressos já foram comprados
Coma proximidade dentre Córdoba (sua cidade-natal e onde vive a maior parte da família) e o Rio de Janeiro – são cerca de 2h50min de voo – o treinador terá a torcida de muitos parentes na Olimpíada. Pelo menos sete pessoas entre filhos, sobrinhos e amigos estarão no Brasil.
“Com certeza já tenho mais de cem ingressos para os jogos, mesmo porque ainda não estão definidos os horários. Então estou buscando o máximo que puder”, disse.
Mas não pense que é Magnano que tem ficado na frente do computador caçando entradas.
“Este é um trabalho que designei para minha esposa. Ela é a minha secretária (risos)”, contou.