! 'Não esperava ter tanto protagonismo na NBA', diz Raulzinho - 10/02/2016 - UOL Olimpíadas

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'Não esperava ter tanto protagonismo na NBA', diz Raulzinho

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

Aos 23 anos de idade, Raul Togni Neto, o Raulzinho, vive momento de graça em sua vida profissional. Tido como uma das maiores revelações do basquete brasileiro nos últimos tempos, o armador prova a cada dia que deixou de ser promessa para se tornar uma realidade. Hoje, é o único brasileiro titular absoluto na NBA, defendendo o Utah Jazz. Iniciou 49 das 51 partidas da equipe e tem ficado em quadra uma média de 20,2 minutos. Além disso, tem anotado 6,1 pontos e dado 2,5 assistências por jogo.

Seu bom desempenho na temporada de estreia na liga americana – após passar quatro anos no basquete espanhol, defendendo o Guipuzkoa Basket e o Murcia – lhe renderam a convocação para o Jogo dos Novatos, que ocorre na sexta-feira e abre o Fim de Semana das Estrelas, em Toronto. O excelente momento surpreende ao próprio jogador.

“Quando fui contratado pelo Utah Jazz, não esperava ter tantos minutos, ter tanto protagonismo no time, ser chamado para este jogo (dos novatos). Quando assinei o contrato, não era o que achava que ia acontecer. Claro que achava que poderia fazer um bom trabalho e tinha qualidade para fazer um bom papel neste liga, mas também fiquei surpreso”, disse Raulzinho em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
 

Mais amadurecido e pronto para ser o titular da seleção

Raulzinho fez a sua estreia pela seleção brasileira adulta em 2010, no Mundial da Turquia. Então com 18 anos foi um mero coadjuvante. Jogou apenas oito minutos contra o Ira e fez seis pontos. Dois anos mais tarde, na Olimpíada de Londres, seguiu como figurante. Foram 29 minutos em três partidas.  Foi só em 2014, na Copa do Mundo da Espanha, que o armador começou a ter destaque pela seleção. Participou das sete partidas no Brasil, teve média de 17,4 minutos em quadra, e foi o grande destaque na vitória sobre a Argentina nas oitavas de final, por 85 a 65, ao anotar 21 pontos.

AP Photo/Daniel Ochoa de Olza
imagem: AP Photo/Daniel Ochoa de Olza

Nos Jogos Olímpicos do Rio, o armador espera ter a chance de ser o titular da equipe nacional. Ele trava batalha com Marcelinho Huertas, que vem tendo uma temporada muito pagada no Los Angeles Lakers.

“Estou pronto para ser o titular e darei o meu máximo para isso. Mas não está no meu controle. Quem vai ter de escolher é o  (Rubén) Magnano”, disse. “O Marcelinho (Huertas) apesar de não ter jogado muito não desaprendeu a jogar basquete. Todos sabem que ele é um grande jogador. Mas tenho de estar preparado, treinar muito para isso”, completou.

“O amadurecimento faz parte de todo um processo.  Em Londres, não adiantava eu com 20 anos querer chegar jogando um monte de minutos. O Marcelinho era um dos melhores armadores da Europa, vivia o melhor momento da carreira. Mas a cada ano que vai passando, eu vou melhorando. Tenho um arremesso melhor, entendo melhor o jogo. Com certeza sou melhor jogador hoje do que era dois anos atrás e espero ser ainda melhor daqui a dois”, analisou.

Até em busca deste amadurecimento e crescimento na carreira, o jogador optou por disputar a Summer League da NBA em julho do ano passado em busca de uma vaga na liga – o que acabou acontecendo- e pediu dispensa da seleção brasileira para o Pan de Toronto e para a Copa América do México.

“Valeu muito a pena esta minha decisão. Todo torneio pela seleção é importante, eu nunca pedi dispensa ou recusei uma convocação. No ano passado estava treinando e se não fosse por este contrato (na NBA) eu teria jogado todas competições. Não vou falar que foi uma decisão difícil porque não tinha muito o que escolher. Foi a melhor coisa que aconteceu ter vindo para a NBA”.

Para Raulzinho, o Brasil tem boas chances de ficar com uma medalha no Rio de Janeiro, mas tem de prestar atenção para não cometer erros que custaram a derrota para a Argentina nas oitavas de final de Londres e para a Sérvia nas quartas de final da Copa do Mundo de 2014.

“Tem de tirar uma lição do que aconteceu e não deixar acontecer de novo. Temos grandes chances de conseguir medalha e precisamos acreditar nisso. Temos totais condições e vamos brigar”.

Ritmo da NBA assusta, mas Leandrinho é o parceiro na nova empreitada

Acostumado a jogar partidas de 40 minutos e ter de se deslocar em um país bem menor como é a Espanha, Raulzinho ainda tem estranhado o ritmo de jogo da NBA – com jogos de 48 minutos – a quantidade de partidas – 82 em uma temporada – e a grande quantidade de viagens.

“Uma das coisas que mais tem pegado é a quantidade e o ritmo de jogo. Fisicamente, o jogo pede muito mais do que na Europa e no Brasil. É uma das coisas que mais estou tendo dificuldade em acostumar apesar de toda a estrutura que temos para fazer nossa recuperação. Tem jogos que chego com a perna cansada. Parece que o cérebro quer fazer tudo, mas o corpo não deixa. Mas com o tempo vou aprendendo a me cuidar”, afirmou.

Para aguentar o ritmo intenso, Raulzinho contou que fez um trabalho muito forte na pré-temporada para ganhar massa muscular e mais força física.

“Ganhei uns dois quilos (pesa 81 quilos segundo o site do Utah Jazz) de massa muscular. Com a quantidade de jogos, é muito difícil manter o ritmo de academia.
Então procuro ter uma boa alimentação para não perder este peso que ganhei. Não tenho grandes problemas quanto a isso, porque sempre me alimentei muito bem e de forma saudável. Um atleta precisa se preocupar com isso. Além disso, a estrutura aqui é muito boa, faço um bom trabalho de suplementação. Acaba sendo fácil cuidar da parte física”, disse.

Raulzinho contou ao UOL também que o ala-armador Leandrinho, do Golden State Warriors, foi um dos que mais os ajudou em sua entrada na NBA, mandando inclusive mensagens de incentivo.

“O Leandrinho é um cara que me ajuda muito. No começo da temporada, tive dois, três jogos ruins e ele me ligava, me dava força. Ele disse que já tinha passado por isso. Foi muito bom o papo”, disse. “Sempre que eu jogo contra os outros brasileiros, conversamos. Quando fui a Atlanta jantei com o Tiago (Splitter). Em Cleveland, saí com o Anderson (Varejão). Quando fui a Los Angeles, não deu para sair com o  (Marcelinho) Huertas”, afirmou.

Muita neve e pouco assédio no dia a dia em Utah

Raulzinho está morando sozinho em Salt Lake City, capital de Utah. Todos os seus familiares estão no Brasil e de vez em quando vão visitá-lo. Nesta primeira temporada, o jogador optou por alugar um apartamento perto do Centro de  Treinamento e do ginásio do clube após ouvir muitos conselhos.

“Aqui no inverno neva quase toda a semana. Então me disseram que no primeiro ano não era bom pegar uma casa, se não ia ter que ficar limpando a neve todos os dias. Optei por pegar um apartamento. Como a cidade é muito fria, não tenho saído muito de casa neste momento. Mas da janela do meu apartamento consigo ver as montanhas, a neve, é muito bonito. No verão, até consegui passear um pouco, mas agora vida é muito corrida. Não tenho tanto tempo”, contou.

Reprodução/Instagram
Raulzinho com a família nos Estados Unidos nas festas de fim de ano imagem: Reprodução/Instagram

Nas poucas horas vagas que tem, Raulzinho gosta de ir a shoppings e restaurantes. E um companheiro seu nos passeios é o pivô francês Rudy Gobert, de 2,18m.

“De vez em quando uma ou outra pessoa me para e pede uma foto, deseja boa sorte. Até por eu não ser um cara muito alto (mede 1,85m) não chamo tanto atenção. Quando saio com o Gobert, que é muito alto, as pessoas sabem que ele  um jogador de basquete. Eu ainda consigo passar despercebido”, afirmou.

“O Gobert é o jogador com o qual tenho mais amizade no time, até porque é quem eu conheço há mais tempo e jogamos juntos a Summer League (Liga de Verão). Quando a gente não sai, gosta de ficar jogando vídeo-game”, revelou.

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