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Por que a 1ª seletiva da natação é decisiva para o Brasil na Rio-2016

Satiro Sodre/SSPress
Revezamento 4x200m livre feminino do Brasil já está classificado para os Jogos Olímpicos de 2016. Quem mais vai conseguir vaga? imagem: Satiro Sodre/SSPress

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Ao contrário do que aconteceu em ciclos anteriores, o Brasil fará apenas duas seletivas para definir a equipe de nadadores que representará o país nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. A primeira tem início marcado para a próxima quarta-feira (16), em Palhoça-SC, e a segunda será o Troféu Maria Lenk, evento-teste dos Jogos, que acontecerá entre 15 e 20 de abril do próximo ano, no estádio aquático olímpico da Barra da Tijuca. Entretanto, isso não quer dizer que os atletas terão duas chances para obtenção de índice olímpico. Por pelo menos quatro motivos, os candidatos a vagas na Rio-2016 precisam de um bom resultado logo na chance inicial.

 

A primeira seletiva serve para dar confiança aos atletas

 

A primeira explicação para a seletiva de Palhoça ser relevante é anímica. Trata-se da primeira chance que os atletas brasileiros têm para demonstrar o que têm feito ao longo do ciclo. Para muitos, essa é também a comparação mais consistente com os resultados do Mundial de piscina longa de 2015, disputado em Kazan (Rússia).

“É a tranquilidade que o atleta vai ter de saber se possui capacidade de pelo menos atingir o índice. Talvez outro nadador acabe superando a marca dele, mas ele vai saber que consegue”, disse o treinador Fernando Possenti, que trabalha no Sesi-SP.

Essa questão é especialmente importante para atletas que tiveram uma preparação conturbada para os Jogos. É o caso de Cesar Cielo, 28, tricampeão mundial dos 50m livre (2009, 2011 e 2013), bicampeão mundial dos 50m borboleta (2011 e 2013) e campeão olímpico dos 50m livre em Pequim-2008. O atleta paulista teve uma temporada extremamente irregular e deixou o Mundial de Kazan antes de defender o título dos 50m livre – acometido por uma inflamação no ombro esquerdo, foi cortado por questões médicas.

 

O desempenho em Palhoça-SC afetará o calendário de 2016

 

A relevância da seletiva de Palhoça também está diretamente ligada à programação dos atletas. Muitos já têm programação montada para a temporada 2016 e precisariam alterar esses planos se fosse necessário atingir um auge de desempenho em abril, data do evento-teste.

“Se eu conseguir a vaga agora, vou fazer um treinamento de altitude em fevereiro. Já tenho tudo programado pela frente. Acho que deixar para o Maria Lenk não seria legal”, ponderou Etiene Medeiros, 24.

Em 2015, muitos nadadores tiveram problemas com o acúmulo de competições. Os Jogos Pan-Americanos de Toronto foram disputados em julho e terminaram dias antes do início do Mundial de Kazan.

A proximidade entre as competições fez com que alguns atletas esticassem o polimento e tentassem prolongar a fase de alto rendimento. Isso não será possível em 2016. “A situação é totalmente diferente porque a distância entre o Maria Lenk e os Jogos é bem maior. Em número de semanas, são 15 ou 16. Hoje em dia, ninguém faz ciclos de 30 semanas”, ponderou Possenti.

Portanto, o desafio de quem não conseguir índice em Palhoça é criar uma programação para 2016 que preveja dois ápices físicos e técnicos.

 

O Troféu Maria Lenk de 2016 ainda é uma incógnita

 

Segundo nota emitida pela prefeitura do Rio de Janeiro no dia 19 de novembro de 2015, o estádio aquático do Parque Olímpico da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, já atingiu 96% de conclusão. Isso não quer dizer, porém, que o evento-teste da natação, marcado para abril, esteja livre de incertezas.

A Fina (Federação internacional de natação) tem mantido uma relação atribulada com o comitê organizador da Rio-2016. A entidade enviou um documento oficial cobrando mudanças na estrutura e criticando duramente a preparação do Brasil para receber o evento. Isso tornou extremamente conturbado o diálogo com as autoridades da natação.

A lista de reclamações da Fina incluiu o projeto do estádio aquático, cuja capacidade é para 18 mil espectadores. O aparato tem quatro grandes colunas, e isso gera pelo menos 7,8% de pontos cegos.

“A próxima seletiva, que é o Maria Lenk, segue sendo uma incógnita. Segundo a CBDA e o COB, já vai ser o evento-teste da Olimpíada. Agora: vai estar pronto? Vai estar coberto? Pairam dúvidas, e isso foge ao nosso controle”, disse Possenti.

A discussão em torno do estádio aquático é especialmente relevante para atletas que precisam de índice para os Jogos. Qualquer fator externo pode influenciar – se a cobertura não estiver concluída ou o ar ventilação não estiver perfeitamente regulada, por exemplo, isso deve afetar sobremaneira o desempenho.

 

Os atletas representam clubes. E o Open de Palhoça é importante para os clubes

 

A seletiva olímpica agendada para Palhoça é constituída por dois campeonatos. Os resultados obtidos pelos atletas nas piscinas catarinenses somarão pontos para o Troféu Daltely Guimarães e para o 11º Open Correios/CBDA.

Os dois eventos têm programações similares, mas as provas do Daltey Guimarães acontecerão no período matutino, enquanto o Open terá eventos a partir de 17h.

Os atletas inscritos representarão clubes que pagam seus salários. E como a principal meta da semana é a obtenção de índice olímpico, nadadores que costumeiramente somam muitos pontos e não precisam de vaga não vão participar.

Isso acontecerá, por exemplo, com Ana Marcela Cunha e Poliana Okimoto, nadadoras de maratonas aquáticas, que normalmente são inscritas nas provas mais longas de competições nacionais – ambas estão classificadas para a Rio-2016 e deixarão de competir em Palhoça.

“Eu conversei com o pessoal da Unisanta, e eles foram supercompreensivos comigo. O campeonato é importante para nós, mas eu tenho outra programação agora”, contou Poliana.

 

A primeira seletiva da natação brasileira para a Rio-2016

 

A seletiva de Palhoça será realizada entre os dias 16 e 19 de dezembro, na piscina da Unisul. Disputado desde 2005, o Open funcionará como classificação para os Jogos pela terceira vez na história (as outras foram 2007 e 2011).

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