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Como a compra de geradores de energia virou um problema para a Rio-2016

Miriam Jeske/Heusi Action/Brasil2016
Equipamentos devem garantir energia mesmo em blecautes no Parque Olímpico (foto) imagem: Miriam Jeske/Heusi Action/Brasil2016

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

Quando o Rio de Janeiro foi escolhido sede da Olimpíada, ainda em 2009, governos e organizadores do evento já sabiam que garantir o fornecimento ininterrupto de energia elétrica para instalações dos Jogos seria fundamental. Hoje, faltam pouco mais de 250 dias para a Rio-2016. Assegurar que a eletricidade chegará aos pontos de interesse dos Jogos, contudo, ainda é um desafio a ser superado.

Orçamentos desencontrados, atrasos em negociações e até a alta do dólar criaram uma crise energética na preparação do Rio para a Olimpíada. Na semana passada, governo federal e do Estado do Rio até anunciaram uma solução para a compra dos R$ 460 milhões em geradores e outros equipamentos necessários para os Jogos. Fato é que muito ainda precisa ser feito para essa questão seja definitivamente resolvida. E o prazo para isso é cada vez mais curto.

Entenda abaixo como a energia tornou-se um problema para a Rio-2016:

Demora na definição das necessidades

Apesar de governos e o Comitê Organizador da Rio-2016 saberem há anos que o sistema de fornecimento de energia de arenas olímpicas e áreas de interesse dos Jogos precisaria de um reforço, a definição dos equipamentos efetivamente necessários para isso demorou para acontecer. Começou com essa demora o problema da energia da Olimpíada.

Durante o evento, locais de competição e voltados à imprensa precisam estar protegidos contra blecautes. Por isso, linhas de transmissão extras têm que ser instaladas mesmo onde já há rede elétrica. Geradores autônomos também devem estar à disposição para caso o fornecimento de energia falhe.

Recentemente, se chegou à conclusão de que a Olimpíada do Rio-2016 precisará de R$ 460 milhões em investimentos para fornecimento temporário de eletricidade. Essa conta, porém, foi definida há cerca de 30 dias –faltando meses para os Jogos.

Aumento no custo dos equipamentos

Vale lembrar ainda que a conta de R$ 460 milhões é bem maior que a inicial, a qual por meses serviu de referência pelos envolvidos na organização da Rio-2016. Há seis meses, quando as discussões sobre energia entraram na pauta das reuniões sobre a preparação do Rio para a Olimpíada, imaginava-se que, com R$ 250 milhões, todos os equipamentos poderiam ser providenciados.

De lá para cá, entretanto, organizadores descobriram que o valor estava defasado. Agentes envolvidos na definição do orçamento disseram que a alta do dólar elevou o custo dos equipamentos. O refinamento das necessidades olímpicas também pressionou para cima o orçamento da energia temporária. O problema ficou maior.

Compromisso de governo quebrado

Quando todos ainda consideravam que a energia temporária da Rio-2016 custaria cerca de R$ 250 milhões, o governo federal anunciou que estava disposto a arcar sozinho com a despesa. Essa decisão foi anunciada pelo Ministério do Esporte no mesmo dia em que União se comprometeu a providenciar a segurança de arenas olímpicas e comprar os equipamentos esportivos que serão usados na Olimpíada.

A União, entretanto, voltou atrás quando a conta do fornecimento de energia subiu. O governo, considerando a crise econômica e visando a um corte em suas despesas, decidiu não gastar mais do que havia reservado para os geradores. Assim, a conta de R$ 460 milhões ficou descoberta. Criou-se um impasse.

Negociações intermináveis e tensas

A conta da energia temporária virou, então, o tema mais urgente das reuniões sobre Olimpíada. Mesmo assim, negociações sobre o assunto arrastaram-se por meses. Discussões criaram momentos tensos em encontros dos organizadores dos Jogos.

Em agosto, um membro de uma comitiva do COI (Comitê Olímpico Internacional) enviada ao Rio cobrou do governo federal uma decisão sobre a energia. O secretário executivo do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, não gostou do tom da cobrança e respondeu rispidamente. As conversas precisaram ser paralisadas para que os ânimos fossem acalmados.

Já no final de outubro, enquanto as negociações sobre energia avançavam, a diretora executiva do Comitê Rio-2016 responsável pelo assunto, Patricia Hespanha, pediu demissão. O órgão informou que o desligamento de Hespanha foi uma decisão pessoal. O desligamento, entretanto, levantou rumores sobre um desgaste.

Solução ainda pendente

Na semana passada, finalmente, o governo federal e o do Estado do Rio de Janeiro decidiram compartilhar a conta dos geradores para pôr um ponto final no impasse. A União aceitou pagar até R$ 290 milhões nos equipamentos. Já o governo fluminense comprometeu-se em reservar até R$ 170 milhões para completar os R$ 460 milhões necessários.

O problema é que, para que o governo do Rio colabore com o fornecimento de energia para a Rio-2016, uma lei ainda precisa ser aprovada por deputados estaduais. O projeto desta lei ainda nem foi apresentado pelo governo. A promessa é que isso ocorra nesta semana. Não há prazo para a tramitação da proposta.

Se a lei foi aprovada, o governo do Rio dará um desconto de até R$ 170 milhões em impostos para a concessionária de energia do Rio, a Light. A empresa, então, compraria os equipamentos necessários para a Olimpíada. Procurada pelo UOL Esporte, contudo, a Light ainda não disse se está disposta a pagar a conta em troca da isenção. O governo do Rio conta com a empresa.

O tempo não para

Faltando menos de um ano para o início da Olimpíada de 2016, o tempo para qualquer nova negociação sobre o pagamento dos equipamentos de energia é cada vez mais curto. O governo federal e o governo do Estado do Rio de Janeiro, porém, informaram que há tempo suficiente para que tudo o que é necessário seja providenciado. Nenhum deles fala em plano B.

Depois do anúncio do acordo entre União e Estado para o pagamento dos geradores, o Comitê Organizador Rio-2016 ratificou sua confiança no fornecimento da energia para a Olimpíada. Segundo o UOL Esporte apurou, entretanto, operações do órgão no IBC (Centro Internacional de Transmissão, na sigla em inglês) já tiveram que ser adaptadas devido a atrasos na instalação de equipamentos de eletricidade.
 

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