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Maior rival de Bolt é também o homem mais odiado do atletismo

REUTERS/Damir Sagolj
Justin Gatlin ao lado de Usain Bolt no pódio dos 100m rasos no Mundial de Pequim imagem: REUTERS/Damir Sagolj

Do UOL, em São Paulo

Aos 33 anos, Justin Gatlin está correndo mais rápido do que nunca. Ele fechou os 100m rasos do Mundial de Pequim com os cinco tempos mais rápidos de 2015 na prova. Fez 9s77 na semifinal, a melhor marca de todo o campeonato. Se tivesse repetido na decisão, seria ouro. Mas por um centésimo perdeu o ouro para Usain Bolt.

Sua melhor marca na carreira, os 9s74, é deste ano, em maio, em Doha. É a melhor registrada desde 2012, quando Bolt foi campeão olímpico em Londres com 9s63.

Desde que voltou de quatro anos de suspensão por doping, a segunda de sua carreira, seus tempos estão melhorando consistentemente, ano a ano (com exceção de 2013). Em 2010, ele voltou com 10s09. Em 2012, já estava correndo para 9s79. Fez 9s77 em 2014 e, agora, deve fechar o ano como número 1 do mundo pelo segundo ano seguido.

Mas mesmo assim, o medalhista de ouro dos 100m rasos nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004 e do Mundial de Helsinque-2005 não desperta respeito, nem admiração. Pelo contrário, é a pessoa mais odiada no atletismo hoje em dia e no Mundial foi vaiado muitas vezes pelo público chinês. Seu passado também o condena.

Gatlin cumpriu duas suspensões por doping. A primeira, em 2001, quando ainda era atleta universitário, foi para estimulantes. O culpado foi um remédio usado para tratar deficit de atenção – a punição seria de dois anos, mas ele acabou tendo a pena reduzida após segundo julgamento. O segundo foi em 2006, desta vez apontando para testosterona. Desta vez, Gatlin culpou o exame positivo em um massagista que teria usados uma substância proibida para prejudicá-lo.

Teoricamente, Gatlin deveria ter sido banido do esporte por ser reincidente. Mas como a primeira punição foi atenuada, ele acabou punido por oito anos. Após uma nova apelação, ele teve a sua pena mudada mais uma vez, com o tempo de suspensão diminuído para quatro anos.


Muita gente no atletismo é contra sua volta ao esporte. No ano passado, o campeão olímpico do disco, Robert Harting, pediu para deixar a lista de melhores da Iaaf (a Confederação Mundial de Atletismo) ao ver o nome de Gatlin. Ele considerou um insulto aparecer ao lado de um atleta que já tinha sido punido por doping.

Até Sebastian Coe, o bicampeão olímpico britânico que acabou de ser eleito presidente da Iaaf, admitiu desconforto. “Depois de tudo o que eu já disse, não posso negar que fico incomodado ao pensar em alguém que foi suspenso por uma ofensa séria possa continuar competindo e ganhando títulos mundiais”, disse o agora dirigente, antes mesmo do Mundial de Pequim começar. “Mas não existe nenhuma regra que o proíba de competir”.

Após o vice-campeonato no Ninho do Pássaro, o agente de Gatlin, Renaldo Nehemiah, disse que o corredor não vai mais falar com a imprensa do Reino Unido, incluindo a BBC, uma das detentoras de direito do Mundial. Segundo ele, os britânicos, em especial a BBC, “estão sendo extremamente injustos com ele (Gatlin). Nada positivo é comentado há algum tempo. Cada matéria envolve apenas doping e o trata como um vilão. Então, para manter sua dignidade e respeito próprio, ele sente que o melhor é não falar com eles”.

Logo após ficar com a prata, Gatlin foi questionado ao menos três vezes sobre o doping e deu respostas curtas para mudar o tema.

Bolt também deu uma cutucada em seu rival após a vitória nos 100m no domingo.

"Eu mostrei ao mundo que é possível fazer isso (vencer) estando limpo. Eu sempre me dediquei muito. Para mi, se trata de trabalho duro e dedicação, foco no objetivo", disse Bolt.

O segundo round da disputa entre ambos será os 200m rasos, cujas eliminatórias acontecem na manhã desta terça-feira. A final está marcada para quinta-feira.

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