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Velejador brasileiro revê técnico com estilo "carrasco". E nem reclama

Hanna Odras / Finn Gold Cup 2013 Tallinn
Jorge Zarif (centro) voltou a trabalhar com técnico Rafael Trujillo (direita) há um mês e meio e ouviu do técnico que "a vida tinha acabado até 2016" imagem: Hanna Odras / Finn Gold Cup 2013 Tallinn

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Em 2013, num post feito na rede social Facebook, o velejador Jorge Zarif, 22, citou um ditado popular que ouvia sempre do pai: “Diga-me com quem andas e te direi quem és”. Menos de dois anos depois, o atleta virou exemplo prático do aforismo. Ele voltou a trabalhar com o técnico espanhol Rafael Trujillo, 39, de quem havia se dissociado (contra a vontade) no início da temporada passada. Retomou também uma rotina draconiana, que inclui acordar todos os dias às 4h30 e conviver com alto nível de cobrança do treinador. No entanto, o brasileiro tem razões de sobra para não reclamar.

Trujillo foi artífice do melhor momento da carreira de Zarif. Em 2013, treinado pelo espanhol, o brasileiro tornou-se o primeiro velejador da história a acumular num mesmo ano os títulos mundiais júnior e adulto da classe Finn. Tudo isso um ano depois de ter sido o 20º nos Jogos Olímpicos de Londres, competição em que estava lesionado.

“O que ele mais traz para a gente é o que a gente menos tem no Brasil, que é desenvolvimento de material e experiência de quatro Olimpíadas na classe Finn”, explicou Zarif. “Ele me ajuda a organizar minha vida e é um gestor muito bom para isso. A diferença é muito grande de quanto rende o treino e como você gasta seu tempo”, completou.

Em março de 2014, Trujillo foi embora. O espanhol não teve acerto financeiro com COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e CBVela (Confederação Brasileira de Vela) e foi disputar a Volvo Ocean Race, regata ao redor do planeta. Na época, Zarif chegou a reclamar publicamente do quanto isso seria prejudicial para seus treinamentos.

O trabalho do brasileiro com o técnico estrangeiro foi retomado há um mês e meio, depois do término da Volvo Ocean Race. De cara, Trujillo fez uma constatação enfática. “Ele disse que a minha vida tinha acabado até 2016”, relatou Zarif.

A rotina imposta pelo treinador inclui acordar diariamente às 4h30 e pedalar do mirante da Vista Chinesa, localizado no bairro Alto da Boa Vista, até o Cristo Redentor – natural de São Paulo, Zarif vive no Rio de Janeiro há três meses. Além disso, Trujilo garante que a vela seja assunto durante 24 horas do dia.

“Eu tinha um treinador. Não é que eu treinava menos, mas a intensidade era completamente diferente. Ter um cara puxando, ter um cara que enche o saco o tempo inteiro.... Ele fica junto quando está aqui, o que acontece normalmente durante 20 dias por mês”, disse Zarif. O brasileiro tem apenas um dia de descanso a cada 13 de trabalho, e Trujillo leva a sério a ideia de estar sempre presente. O espanhol chega a dividir quarto com o pupilo em hotéis pelo país. “A gente nem conversa muito no quarto, mas abriu o olho... São 14 horas no ouvido”, adicionou o atleta.

A contratação de Trujillo foi um pedido de Bruno Prada, tricampeão mundial da classe Star, que havia voltado a disputar competições na Finn. Ele também treinou com o espanhol e elogia constantemente o trabalho do técnico.

Prada, 43, foi concorrente de Zarif na briga por vaga nos Jogos Olímpicos de 2016, mas a CBVela já anunciou que o velejador mais novo será o representante do Brasil.

No entanto, o Jorge Zarif que está confirmado nos Jogos não é mais o que foi campeão mundial. Os resultados do brasileiro caíram muito desde que ele deixou de treinar com Trujillo – principalmente em 2015.

“Se tivesse de falar antes do campeonato, pela temporada 2015, eu não iria me colocar [entre os favoritos para o próximo ano]. Mas eu sei do potencial que eu tenho e sei que os resultados que talvez não sejam condizentes com o meu nível. Vamos ver se até o ano que vem eu consigo provar.... Mas se não conseguir provar e ganhar a medalha lá também, tudo bem”, encerrou Zarif.

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