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Pego no doping, brasileiro temeu encerrar carreira. Agora mira Olimpíada

Fábio Aleixo/UOL Esporte
João Gomes Junior deu a volta por cima após polêmico caso de doping imagem: Fábio Aleixo/UOL Esporte

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

Os últimos oito meses foram uma montanha-russa na vida de João Gomes Junior. Vencedor de três medalhas de ouro em revezamentos no Mundial de Piscina Curta de Doha (QAT) em dezembro de 2014, ele foi pego no exame antidoping neste mesmo evento. Em fevereiro, foi julgado e suspenso por seis meses por testar positivo para o diurético hidroclorotiazida. Nesta semana, fará seu retorno às piscinas no Troféu José Finkel, em São Paulo, em busca de um recomeço na carreira com um objetivo fixo: classificar-se para os Jogos Olímpicos de 2016 nos 100m peito.

Durante todo este tempo, o período mais difícil para João, de 29 anos, foi aquele entre a data do exame e o julgamento. Ele temeu até ter de encerrar a sua carreira. Se recebesse um gancho superior a um ano, não teria a chance de disputar a Olimpíada.
 
"Meu maior medo era pegar mais de um ano e ficar fora até do Maria Lenk de 2016 (última torneio de classificação olímpica). Se tivesse pego uma suspensão assim, eu abandonaria (a natação). Seria algo muito dolorido. Fiquei desnorteado nas primeiras semanas antes do julgamento. Conversava com Deus todos os dias e perguntava: por que foi acontecer logo comigo?", disse em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
 
Assim, recebeu com alívio o veredicto do painel da Fina (Federação Internacional de Natação) de suspendê-lo por apenas seis meses e manter as medalhas do Brasil no Mundial - uma vez que João havia nadado apenas as eliminatórias.
 
Apesar do pouco tempo de afastamento, perdeu os Jogos Pan-Americanos de Toronto e o Mundial de Kazan (RUS).
 
"Claro que foi difícil ficar afastado e ter de ver estas competições pela TV. Mas não podia me desligar completamente. Afinal é minha profissão e preciso saber o que está acontecendo no mundo. Não podia fechar os olhos. Vi os resultados e pensei comigo que poderia estar ali competindo bem", disse o atleta do Pinheiros.
 
"Mas neste tempo todo que cumpri a punição não parei de treinar em nenhum momento, não perdi um dia de treino. E agora estou 100% focado no meu maior objetivo, que é estar na Olimpíada. E no Finkel quero fazer meu retorno em grande estilo", disse João, que há três anos ficou fora da disputa dos 100m peito na Olimpíada de Londres por somente 29 centésimos. 
 
No Troféu Maria Lenk de 2012 - última prova para obtenção de índice - Felipe Lima ficou com a vaga ao fazer 1min00s11, superando o 1min00s29 que João havia anotado no fim de 2011.
 
"Foi bem difícil engolir aquilo. Mas desde aquilo só tenho na minha cabeça o objetivo de me classificar para a Olimpíada", afirmou o nadador que abriu uma academia de crossfit em sua cidade-natal, Vitória-ES, no tempo em que esteve afastado.
 
Mancha na carreira e fim da suplementação
Pego com um diurético que pode mascarar o uso de outras substâncias dopantes, João alegou em sua defesa a contaminação cruzada na farmácia que fazia seus suplementos desde 2010. Apresentou inclusive um documento assinada pela proprietária dO estabelecimento admitindo o erro.
 
"Por quatro anos eu fiz este trabalho com suplementos e nunca havia acontecido nada. Não quero falar mal das farmácias de manipulação, mas é uma loteria. 'Ganhei' nesta loteria, fui premiado e paguei. Agora não uso mais nenhum sumplemento, só alguns multivitamínicos. Hoje, fico com medo de tudo, até de diexar minha garrafinha à mostra na borda da piscina, de dividir um copo de água com outra pessoa. Espero que meu caso sirva de lição para os jovens", disse João.
 
Apesar de ter conseguido provar que não teve a intenção de se dopar, João sabe que terá de levar este doping até o fim de sua carreira.
 
"Fica (mancha), porque sempre quando alguém colocar meu nome no Google vai aparecer isso, sempre vai ter resquício. Se futuramente acontecer um novo caso de doping, o meu ai ser levantado, como foi levantado do Cesar (Cielo). Mas tenho minha consciência limpa", disse.
 
Apoio da Marinha mantido
Terceiro sargento da Marinha, João Gomes Junior não teve tantos prejuízos financeiros durante o tempo que ficou suspenso. Seguiu recebendo o salário de R$ 3.420,84 das Forças Armadas e de seu clube, o Pinheiros.
 
"Sempre acreditaram na minha palavra e sou muito grato por isso. Viram que não tive intenção de fazer uso de doping", disse o capixaba.
 
"Durante o período da suspensão, o atleta permaneceu como militar da ativa da Marinha, realizando normalmente seus treinamentos, cumprindo suas obrigações e sua rotina e, naturalmente, recebendo seu salário. Destaca-se, ainda, que se trata de um atleta de elevadíssimo potencial e que já está inscrito para os 6º Jogos Mundiais Militares na Coreia, nos quais representará o Brasil", informou a Marinha em nota enviada ao UOL Esporte.
 
Entretanto, João perdeu o direito de receber o Bolsa-Atleta do Governo Federal e deixou de ganhar da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) a verba proveniente dos Correios, uma vez que não fez parte da seleção nacional neste ano.

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