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Brasil parou no tempo nos 100m rasos: recorde nacional dura 27 anos

Wagner Carmo/CBAT
Vitor Hugo, vencedor do Troféu Brasil, é oito anos mais jovem que o recorde dos 100m imagem: Wagner Carmo/CBAT

Daniel Brito e Fábio Aleixo

Do UOL, em Brasília e São Bernardo do Campo

Quando Vitor Hugo Santos cruzou a linha de chegada na prova dos 100m do Troféu Brasil de Atletismo, no início da noite de quinta-feira, em São Bernardo do Campo, ele comemorou por ter chegado em primeiro lugar. Mas ainda não foi desta vez que o Brasil celebrou a quebra da barreira dos 10s. Correr abaixo dessa marca seria o fim de um dos recordes brasileiros mais longevos nas provas de velocidade no país.

Vitor fechou os 100m em 10s22. Estabeleceu nova melhor marca continental entre juvenis. Mas ainda está longe de cravar o novo recorde nacional entre os adultos, que é de exatos 10s00, feito por Robson Caetano em 1988, no Campeonato Ibero-americano realizado na Cidade do México.

Para se ter uma ideia de quão antigo é o recorde, em 31 de maio os 10 segundos cravados completarão 27 anos no quadro das melhores marcas nacionais em vigência. Quando Vitor Hugo nasceu, no Rio de Janeiro, há 19 anos, o tempo de Robson já era o melhor havia oito anos.

O Brasil está tão atrasado na prova mais nobre do atletismo que este tempo era o recorde mundial em 1968. Charles Greene, dos Estados Unidos, correu para 10s02, nos Jogos Olímpicos do México. Um dia depois, seu compatriota Jim Hines fez 9s95. O melhor tempo do momento pertence ao jamaicano Usain Bolt, com 9s58, de agosto de 2009.

“É meu sonho correr abaixo dos 10 segundos”, disse o ainda tímido Vitor Hugo, que pertence à equipe Br Foods, do Rio de Janeiro. Comportamento que em nada lembra o detentor do tempo histórico na prova mais nobre do atletismo. E nem muito menos daqueles que tentaram e fracassaram derrubar Robson Caetano do quadro de recordistas nacionais.

“Antes da largada, eu dizia para meus concorrentes: ‘já sabe que o primeiro lugar desta prova é meu, né? Vai correr para chegar em segundo’. Acho que falta um pouco dessa ousadia à nova geração”, disse, sem se referir especificamente a Vitor Hugo, Robson Caetano.

Mas o próprio Robson já se viu desafiado por velocistas ousados. O alagoano Bruno Lins afirmara em 2011 que quebraria a barreira dos 10 segundos. Desde a promessa, contudo, só tem falhado, Ontem, por exemplo, ficou atrás de Vitor Hugo, com 10s32. “Falta aparecer o cara certo [para fazer um novo recorde]. É uma prova que qualquer detalhe faz a diferença.  Não acho que seja impossível alguém baixar está marca”, disse após da final dos 100m do Trofeu Brasil.

Mais ousado ainda foi José Carlos Moreira, que carrega a alcunha de Codó, mesmo nome da cidade onde nasceu no Maranhão, há 31 anos. “O Codó disse na minha cara que bateria meu recorde nos 100m. Até agora, nada”, relatou Robson Caetano. “Não sei como explicar o fato de ninguém ter baixado os 10 segundos. Mas acredito que é um questão de tempo. Está começando agora um trabalho legal que pode render no futuro”, avisou Codó, que foi o oitavo nesta quinta-feira com 11s14.

Motivos
O fato genético influencia diretamente nos resultados do atletismo. Alguns estudos comprovam que o biotipo dos negros de uma região do Caribe, por exemplo, favorece as provas rápidas. Está aí a Jamaica, com suas 66 medalhas olímpicas, todas em provas rasas ou com barreiras.

Não é só o Brasil que esbarra nos 10s nos 100m. Toda América do Sul se mostrou incapaz de produzir um atleta mais rápido do que foi Robson Caetano em 1988. Não somos um continente formador de velocistas da mais alta estirpe.

Já Robson Caetano acredita que a priorização às provas de revezamento prejudicam a quebra de recordes individuais. “Revezamentos só retrocedem os resultados individuais”, opinou o carioca, dono de duas medalhas olímpicas, uma delas é o bronze no revezamento 4x100m em Atlanta-1996, sua última participação nos Jogos.

Carlos Alberto Cavalheiro era o treinador de Robson em 1988 e hoje é coordenador,  coordenador de velocidade e revezamento da CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo). Ele tem opinião semelhante. "Em 1992, o Brasil passou a ter revezamento em grandes competições.  E os atletas viram que com 10s20, 10s15 dava para entrar no revezamento de grandes competições e programas de auxílio, aí se acomodaram. Agora, colocamos na cabeça deles que o revezamento é só uma prova e que em 2016 queremos ter atletas nas finais olímpicas individuais”, explicou Cavalheiro.

O técnico acredita que já existe no Brasil um atleta capaz de superar os 10s. E ele já está brilhando nas pistas do país. “Tem um atleta novo, que é o Vitor Hugo, que aposto que vai ser o cara que vai derrubar esta marca", previu, citando o campeão do Troféu Brasil nos 100m ontem. 

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