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"Queremos os resultados da vida em 2016", diz homem-forte do COB

Heitor Vilela/COB
Marcus Vinícius Freire é diretor executivo de esportes do Comitê Olímpico do Brasil imagem: Heitor Vilela/COB

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

Quinhentos dias. É isso que faltará de terça-feira até 5 de agosto de 2016, data da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Tempo para os atletas brasileiros intensificarem suas preparações e chegarem no auge de suas formas na Olimpíada que disputarão no quintal de casa.  O objetivo estabelecido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) é claro. Colocar o país no top 10 do quadro de medalhas. Para isso, será necessário obter entre 27 e 28 pódios, um salto de 11 em relação ao conseguido em Londres-2012, quando pelo total de medalhas – critério adotado pelo COB – o país terminou na 16ª colocação.

A obsessão para entrar na elite do esporte mundial é grande, assim como também é desejo do COB que os cerca de 450 atletas que formarão a delegação nacional se superem e consigam resultados inéditos.

"Não estamos só pensando nas 27, 28 medalhas que traçamos como meta. Vamos ter cerca de 450 atletas e queremos que eles tenham os melhores resultados de suas vidas, independentemente de o máximo ser uma final, um décimo ou 15º lugares", disse por telefone ao UOL Esporte Marcus Vinícius Freire, diretor executivo de esportes do COB.

Freire, que é ex-jogador de vôlei e ocupa o cargo desde 2008, é o homem responsável por fazer todo o planejamento estratégico do COB, delegar tarefas e garantir que nenhum tipo de problema interfira no desempenho dos atletas nacionais em um momento tão importante.

E ele não perde o sono com a responsabilidade que tem em mãos em um ciclo olímpico com investimento financeiro recorde e diversos programas governamentais de estímulo ao esporte, como os inúmeros convênios firmados pelo Ministério do Esporte e as Bolsas Pódio e Atleta. 

"Sigo dormindo tranquilo que o plano que traçamos de 2009 para frente vem sendo seguido à risca, mas isso não é garantia nenhuma de medalha em 2016", salientou nesta entrevista exclusiva. 

Desafio de fazer o Brasil terminar no top 10

Sigo dormindo tranquilo que o plano que traçamos de 2009 para frente vem sendo seguido à risca. Traçamos ações para chegarmos à meta. Os anos de 2013 e 2014 mostraram que estamos em uma curva ascendente. Isso não é garantia nenhuma de medalhas em 2016, mas mostra que estamos no caminho certo.

Quanto mais perto fica da Olimpíada, mais gostaria de acelerar a contagem regressiva para atletas que estão maturados, tendo resultados. Por exemplo, para o  (Cesar) Cielo e (Robert) Scheidt se os Jogos fossem amanhã, seria maravilhoso. Mas tem outros como a Rebeca (Andrade) e a Flávia (Saraiva), da ginástica, e o Marcus Vinícius, do tiro com arco, que gostaria que a Olimpíada fosse daqui a mil dias apenas. Mas não temos esta opção. Todos precisam estar prontos em 5 de agosto de 2016.

Mas também não estamos só pensando nas 27, 28 medalhas que traçamos como meta. Vamos ter cerca de 450 atletas e queremos que eles tenham os melhores resultados de suas vidas, independentemente de o máximo ser uma final, um décimo ou 15º lugares.

E de jeito nenhum pensamos que será um fracasso se não alcançarmos a meta. Temos reuniões com os gerentes gerais das modalidades para falar sobre nosso trabalho e o que digo a eles é que estamos trabalhando sempre para dar a melhor condição para o atleta. Nosso trabalho vai até um segundo antes de a prova começar, o cara cair na piscina, entrar no tatame. A meta foi traçada para não ser fácil, mas possível de ser atingida. Se faltar medalha, não teria problema nenhum em dizer que o trabalho foi bem feito. Não teria nenhuma dificuldade de encarar uma coletiva de imprensa e explicar isso.

Salto de 11 medalhas no quadro

É difícil, mas é factível. Naquelas modalidades que já estamos acostumados a ganhar como vôlei, vôlei de praia, vela e judô, precisaremos ganhar mais medalhas. Estas quatro modalidades são muito importantes e têm uma maior responsabilidade. Mas os resultados históricos mostram que merecem a pressão e nenhuma destas confederações foge desta responsabilidade. Tem também outras modalidades nas quais estamos começando a chegar bem como ginástica artística masculina e feminina, canoagem, tiro com arco. Algumas novas modalidades vão ter de carimbar no Rio o melhor resultado, com performances que nos levem ao pódio, se possível.

Principais adversários para chegar ao top 10

Estados Unidos, China e Rússia são os três gigantes e impossíveis de serem alcançados. Depois, vem um grupo do quarto ao oitavo, que são países que ganham mais de 35 medalhas. Neste grupo estão Alemanha, Austrália, França, Japão e Reino Unido. Aí sobram as duas vagas pelas quais nós vamos brigar com Itália, Ucrânia, Holanda, Hungria, Coreia do Sul, Canadá, Espanha e duas ex-nações soviéticas que vêm crescendo bastante nos últimos anos que são o Cazaquistão e o Azerbaijão.

Pressão psicológica sobre os atletas e competir em casa

A preparação mental é preocupação nossa há muto tempo, desde 2000. Traçamos diversas estratégias. Nos últimos seis anos, praticamente  todas as confederações têm um psicólogo ou algum profissional trabalhando com preparação mental. Em 2012, em Londres, contamos com 11 psicólogos integrando o Time Brasil e este número será maior no Rio de Janeiro até mesmo porque nossa delegação será maior. Nós montamos um programa que mostra as vantagens e desvantagens de atuar em casa. Existe maior pressão da torcida, maior procura da imprensa. Temos de saber como potencializar as vantagens e diminuir as desvantagens. Por isso mesmo criamos um board de treinadores com experiência olímpica que tem dado palestras aos atletas e passando experiências anteriores.

Nesta questão de competir em casa, temos uma vantagem de os atletas brasileiros poderem treinar já em muitos locais onde ocorrerão as competições em 2016, como o pessoal da ginástica que desde o começo do ano está em um centro de treinamento montado naquela que será a área de aquecimento da Olimpíada.
Dou também o exemplo da vela, com os atletas fazendo seus treinos no local da disputa. A Martine Grael, por exemplo, velejou a vida inteira em Niterói. O Torben Grael, técnico da equipe, conhece tudo daquele lugar.

Assédio sobre os atletas na Vila Olímpica

Vamos criar o Espaço Time Brasil, fora da Vila Olímpica. Neste espaço, o atleta poderá encontrar seus amigos e familiares. Se estiver disposto a ir lá, saberá que estará disponível para tirar fotos, dar autógrafos. Familiares, amigos ou quaisquer outras pessoas não terão acesso à Vila. Não queremos que uma visita atrapalhe ou mude o dia a dia dos demais atletas. Porque um cara vai vistar o Fábio, quer tirar foto com o Marcos e almoçar com o Daniel e tem atleta que não gosta deste assédio. Quando a Olimpíada é lá fora, este número é muito menor. Mas aqui teremos 450 atletas e mais uns 200 e pouco oficiais. Se cada um deles, convidar uma pessoa por dia, não há nenhuma chance de não transformarmos a Vila numa Disneylândia. Se Deus quiser, vamos dar tranquilidade a todos os atletas.

Cartilha de comportamento

Faremos recomendações. Pois a cartilha sempre tem uma cara negativa, um sentido meio militar. Se tiver regra, tem de ter punição. E como saber que punição dar? Então, estamos indo muito mais no caminho do comprometimento, delegando responsabilidades. Dou um exemplo das redes sociais. Não adianta querer proibir o cara de usar, o que faremos será orientar o atleta. Montamos um curso para os chefes de equipe e estamos treinando eles para saberem como agir.

Doping

Com a criação da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), o COB não pede mais testes, deixou de ter o papel de polícia. Isso cabe agora à agência. Nós temos o papel educacional, de comunicar os atletas e fazer os alertas. Desempenhamos este papel desde a base, nos Jogos Escolares até o alto nível. Eu, como pessoa física, sou totalmente favorável ao aumento do número de exames fora de competição. Fui da comissão de atletas da Wada (Agência Mundial Antidoping) e briguei por mais rigor e maiores punições. 

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