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Ele foi um dos melhores do mundo. Hoje, mora de favor para ir às Olimpíadas

João Pires/FotoJump
Lucas Lee foi o melhor brasileiro no Brasil Champions, em São Paulo. Terminou em 69º lugar imagem: João Pires/FotoJump

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

O paulista Lucas Lee já esteve entre os dez melhores golfistas amadores do mundo. Hoje no circuito profissional, ele enfrenta uma realidade que muita gente no esporte conhece muito bem, mas que o público pouco associa a um esporte de elite como o golfe: para viver do golfe, ele morou, de favor, na casa de um amigo na Coreia do Sul.

“Competir no circuito de golfe é muito caro. Eu devo ter ganhado pouco menos que US$ 500 mil dólares na minha carreira. Mas, desde que me tornei profissional, investi pelo menos US$ 700 mil. Estou no vermelho. A maioria desses caras que está aqui está no vermelho. O golfe só vai ser lucrativo quando você chegar ao PGA, que é o principal circuito profissional”, contou o atleta na semana passada.

Ele estava em São Paulo para o Brasil Champions, um dos dois torneios profissionais do país. O campeonato valia pelo Web.Com Tour, a segunda divisão do esporte. Para jogar a próxima etapa, precisava ficar entre os 25 primeiros. Foi o melhor brasileiro, mas ficou em 69º lugar.

Segundo ele, viajar o circuito custa pelo menos US$ 90 mil por temporada. Não por coincidência, o ano de 2014, quando contou com a ajuda do amigo coreano para morar na Ásia, foi o primeiro do golfista no azul - antes, ele viajava bancado pela família. “Eu fiz a temporada no Tour da China. E já conhecia pessoas na Coreia, poderia treinar por lá. E viajar ficava mais fácil. Antes, baseado em Los Angeles, eu fazia viagens de 20 a 28 horas para ir e voltar de casa”.

Histórias como a de Lee são comuns. O golfe é um esporte de elite. E custa caro. Popularização? Esse é um objetivo da Confederação Brasileira. Mas é uma tarefa ingrata. Até 2009, a modalidade era considerada recreação no país. Os clubes que têm campos de golfe são de elite. E implantar programas de desenvolvimento esportivo não é fácil.

Fontes ouvidas pela reportagem do UOL Esporte contam como é complicado fazer com que esses clubes aceitem uma integração. “Seria ideal ter escolinhas. Abertas para a população. Talvez, até, com atletas bolsistas. Mas você chega em clubes em que se pagam fortunas para ser sócio. E os sócios não aceitam alguém usufruindo do clube sem pagar. Já ouvimos 'Se eu pago, ele também tem de pagar'”, confidenciou um dos profissionais que trabalha para desenvolver o esporte por aqui.

Outro problema é a iniciação esportiva. O golfe é um esporte cheio de regras. Você sabia que os jogadores são obrigados a jogar com camisas de gola? E que, por uma regra não-escrita, calças jeans são vetadas? Gritar e correr também é proibido nas dependências dos clubes. Junte todas essas regras e coloque crianças pequenas em escolinhas. Na terceira bronca para que os garotos (ou garotas) fiquem quietos, o encanto pelo esporte desaparece.

Quem acaba driblando tudo isso são os caddies, os homens que carregam, por 18 buracos, os tacos dos golfistas. Normalmente jovens de origem humilde, eles aprendem o esporte quase por osmose. Alguns acabam virando jogadores. Hoje melhor brasileiro no ranking mundial, Adílson Batista é um desses casos. Ele era caddie em Santa Cruz do Sul quando conheceu um empresário do Zimbábue. Mudou-se para a África, a convite do amigo.

Virou golfista profissional e compete no circuito africano. Hoje, seria o brasileiro classificado para os Jogos Olímpicos – o Brasil tem uma vaga garantida, para o melhor atleta do ranking. Dirigentes acreditam que pode ser possível classificar mais um atleta. Para isso, um segundo brasileiro precisaria entrar na lista de 60 melhores do ranking olímpico.

Adilson é número 330 no ranking mundial, mas ocupa a 59ª colocação na lista olímpica, que descarta atletas de países que já preencheram sua cota de classificados. Lucas Lee, o personagem dessa história, é o número 666. Entre os dois está Rafael Becker, em 662º lugar.

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