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Por que não dá certo a limpeza da Baía de Guanabara para Rio-2016?

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

A pouco mais de 500 dias para o início da Olimpíada de 2016, um velho problema voltou ao centro das atenções da cidade olímpica: a poluição na Baía de Guanabara. Escolhida para receber as competições de vela da Rio-2016, a baía sofre há anos com lixo e o despejo direto de esgoto. Visando aos Jogos Olímpico, ela chegou ganhar um plano bilionário de limpeza. O problema é que hoje todas as ações planejadas parecem não ter dado o resultado esperado.

A ineficiência, porém, não é uma novidade para quem acompanha há anos a situação da Guanabara. Velejadores, engenheiros e ambientalistas há muito tempo chamam a atenção para erros cometidos na despoluição do espaço.

Alguns deles falaram com o UOL Esporte nessa semana. Confira abaixo os motivos pelos quais eles não acreditam que a baía estará limpa durante a Olimpíada, contrariando o que foi prometido em 2009, quando o Rio tornou-se candidata a sede dos Jogos de 2016.

“É uma pena. Infelizmente, desperdiçou-se uma oportunidade única de cumprir uma promessa histórica para a população”, lamentou o velejador Lars Grael. “Só espero que algo aconteça até a Olimpíada.”

ECOBARCOS FAZEM 'CÓCEGAS' NA POLUIÇÃO

Fernando Maia/UOL
Ecobarco trabalha para coleta de lixo flutuante na baía de Guanabara imagem: Fernando Maia/UOL

Uma das apostas do governo do Rio de Janeiro para a limpeza da Baía de Guanabara para a Olimpíada de 2016 foram os ecobarcos. Dez embarcações adapatadas para recolher resíduos flutuantes foram postas em circulação no ano passado visando a evitar que pedaços de madeira, sacolas plásticas e outros detritos atrapalhem a navegação na baía.

Acontece que, segundo o biólogo Mario Moscatelli, o trabalho desses barcos não fazia nem “cócegas” na sujeira da baía. “Era é uma palhaçada”, reclamou Moscatelli, que há anos monitora a água da Guanabara. “A baía tem cerca de 380 quilômetros quadrados. Colocar dez barcos para recolher o lixo que flutua em todo esse espaço é ‘enfeitar defunto’”.

Segundo Moscatelli, além de poucas, as embarcações contratadas para retirar o lixo da baía circulavam aleatoriamente em busca de resíduos. Por isso, navegam muito e limpavam pouco. Fora isso, tinham que retornar ao cais toda vez que estavam lotadas para despejar os resíduos coletados e, depois, recomeçar o trabalho. Por tudo isso, eram ineficientes.

A SEA (Secretaria Estadual do Ambiente) já reconheceu essa ineficiência tanto é que suspendeu a circulação dos ecobarcos. O órgão informou, porém, que as embarcações devem voltar a circular em breve. Contudo, só navegarão novamente quando um sistema de monitoramento eletrônico do lixo da baía for implantado. Isso orientará o trabalho dos barcos.

ECOBARREIRAS NÃO BARRAM O LIXO

Ana Carolina Fernandes/The New York Times
Ecobarreira acumula lixo na beira da Baía de Guanabara imagem: Ana Carolina Fernandes/The New York Times

Outra iniciativa que visava evitar que o lixo permanecesse boiando no espelho d’água da baía eram as ecobarreiras. Os equipamentos são redes instaladas na foz de rios que deságuam na Guanabara para impedir a chegada dos resíduos ao local das competições de vela da Olimpíada de 2016.

Essas redes, porém, são frágeis. O professor de engenharia oceânica Paulo Rosman, da Coppe-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), explicou que elas se rompiam a qualquer chuva intensa que atingia o Rio de Janeiro. Por isso, não seguravam o lixo.

Rosman disse também que ecobarreiras dependiam de uma limpeza periódica já que o lixo não podia permanecer preso na foz dos rios indefinidamente. Acontece que, no caso da Guanabara, a limpeza não era feita. Assim, o programa das ecobarreiras não surtiu o efeito esperado pelo governo.

A SEA também reconheceu a ineficiência das ecobarreiras. Das 22 instaladas, só 13 permanecem retendo lixo hoje (três em rios que desembocam nas lagoas da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá). Nelas, ainda não há recolhimento dos resíduos.

A SEA informou que está elaborando um novo projeto para implantação de ecobarreiras, mais robustas. Não informou quando elas serão instaladas.

TRATAMENTO DOS RIOS NÃO SAIU DO PAPEL

Angelo Antonio Duarte
Esgoto que é despejado em rios chega à Guanabara sem tratamento imagem: Angelo Antonio Duarte

O grande causador da poluição na Baía de Guanabara é a falta de saneamento básico. Cerca de 8,5 milhões de pessoas vivem no entorno da Guanabara. Mais da metade delas mora numa casa cujo esgoto não é coletado e tratado, de acordo com o professor Paulo Rosman, da Coppe-UFRJ. “Todo esse esgoto acaba em rios que deságuam na baía”, disse.

O governo do Rio conhece esse problema. Por isso, planejou construir pelo menos sete UTRs (Unidades de Tratamento de Rios) no entorno da baía de Guanabara pensando na Olimpíada.

As UTRs serviriam para limpar a água desses rios antes que ela chegasse à Guanabara. Com elas, o esgoto que é despejado no curso dos rios que deságuam na baía acabaria retido antes de poluir o local de competição olímpico.

Contudo, desde de que o Rio de Janeiro ganhou o direito de sediar a Olimpíada, em 2009, só uma das UTRs planejadas foi construída, a do Rio Irajá. Segundo Mario Moscatelli, porém, ela nunca funcionou. “As UTRs nunca foram a solução ideal, mas já serviram para algo no curto prazo. O problema é que nada foi feito.”

A SEA também já desistiu oficialmente da UTRs. O governo avaliou que não era eficiente investir num sistema que não resolve o problema da coleta de esgoto na Região Metropolitana do Rio definitivamente.

ESTAÇÃO DE ESGOTO QUE NÃO RECEBE ESGOTO

Angelo Antonio Duarte
Estação de Tratamento de Esgoto Alegria opera abaixo de sua capacidade imagem: Angelo Antonio Duarte

Paulo Rosman, da Coppe-UFRJ, e o biólogo Mario Moscatelli têm uma opinião unânime sobre a limpeza da Baía de Guanabara. Para eles, o local só voltará a ser limpo quando cessar o despejo direto de esgoto ali.

O governo do Rio de Janeiro sabe disso. Tanto é que prometeu que, até a Olimpíada, 80% de todo o esgoto que chega à baía seria tratado. Em 2007, só 11% desse esgoto recebia tratamento.

Para tratar o esgoto, o governo investiu em ETEs (Estação de Tratamento de Esgoto). Um “detalhe” importantíssimo foi deixado de lado: a construção do sistema para coleta e transporte de esgoto até essas ETEs.

“De que adianta construir uma estação se o esgoto não chega lá?”, questionou Moscatelli. “A estação de São Gonçalo nunca funcionou e a Alegria opera com metade de sua capacidade.”

O governador Pezão disse que investimentos estão sendo feitos pelo Estado. Ele planeja lançar em breve um projeto para aumentar a coleta de esgoto em toda a Baixada Fluminense. Ainda não uma previsão sobre quando isso ficará pronto.

VEJA COMO SERÁ O PARQUE OLÍMPICO DA RIO-2016

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