Olimpíadas 2016

Custo da Rio-2016

Buda Mendes/Getty Images

A conta 7 anos depois

Economia e mudanças em projetos elevaram custos desde candidatura

Vinicius Konchinski Do UOL, no Rio de Janeiro
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Desde 2009, valor subiu em 9 arenas. Em 4, o custo diminuiu

Faltando menos de 200 dias para o início da Rio-2016, o custo do evento começa a tomar sua forma final. A APO (Autoridade Pública Olímpica) divulgou na última sexta-feira (29) mais uma atualização da lista de obras essenciais para a Olimpíada. Deixou claro, assim, que o plano de gastos com o megaevento esportivo é bem diferente do estimado no dossiê de candidatura, apresentado em 2009.

A prefeitura do Rio, responsável pela grande maioria das obras olímpicas em execução, informou que o dossiê é um um documento distinto da lista oficial de obras da Olimpíada. Continha projetos sem o devido amadurecimento e, por isso, sem orçamentos consistentes. Por isso, o aumento no custo da maioria das obras em arenas olímpicas.

Também há outros motivos para a alta dos custos. Confira:

Alta do dólar

Parte do aumento de custo deveu-se à alta do dólar. Os orçamentos divulgados no dossiê de candidatura previam uma taxa de câmbio de R$ 2. Hoje, o dólar vale cerca de R$ 4. Como alguns equipamentos e projetos usados nas obras das arenas vêm de fora do Brasil, a escalada do dólar impactou nos custos. Ao menos parte desse impacto, entretanto, já está embutido no índice de inflação.

Mudanças nos projetos

Alterações no custo das obras também foram causadas por mudanças em projetos desde a candidatura até a assinatura dos contratos das obras. De acordo com a prefeitura do Rio, até exigências de segurança, como a instalação de assentos antichamas, acabaram elevando o custo de algumas instalações. "Em 2012, uma lei definiu novos padrões de acessibilidade para arenas esportivas, que então foram acrescentados aos projetos", complementou o município.

Nem todas as mudanças em projetos, porém, tornaram instalações olímpicas mais caras. No Engenhão, por exemplo, a simplificação do plano de obra resultou numa economia de 74% aos cofres públicos.

Entenda a conta

A diferença de valores de cada obra está abaixo. Foi um cálculo feito pelo UOL Esporte levando em conta o orçamento mais atual das arenas olímpicas. O valor de hoje foi comparado com a previsão de inicial de gastos com cada arena, já corrigido pelo índice oficial de inflação acumulado (via IPCA) da época da candidatura até hoje: 55,75%. 

Parque Olímpico (- 12%)

Reprodução/Rio-2016 Reprodução/Rio-2016

R$ 1,914 bilhão (2008)

A construção do Parque Olímpico da Rio-2016 foi orçada de forma fragmentada no dossiê de candidatura do Rio à sede dos Jogos Olímpicos. Em 2008, organizadores estimaram separadamente o custo da infraestrutura do parque, de quatro arenas e das áreas de imprensa. Somadas, esses projetos custariam R$ 1,914 bilhões, já levando em conta a correção monetária.

Renato Sette Camara / Prefeitura do Rio Renato Sette Camara / Prefeitura do Rio

R$ 1,685 bilhão (2016)

As obras orçadas separadamente no dossiê de candidatura do Rio à sede dos Jogos Olímpicos foram incluídas num só contrato. O acordo previu a redução do número de arenas geminadas de quatro para três. Em compensação, foi determinada construção de um hotel que não havia sido orçado anteriormente. Vale ressaltar o investimento de R$ 1,685 bilhão no Parque Olímpico é todo feito com recursos privados.

Centro Aquático (+ 84%)

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R$ 118 milhões (2008 )

O Centro Olímpico de Desportos Aquáticos seria uma instalação permanente, segundo o dossiê de candidatura para a Rio-2016. Sua arquibancada, para 18 mil pessoas, é que seria temporária. Depois dos Jogos Olímpicos, serviria como centro de treinamento para atletas brasileiros.

André Motta/Heusi Action/Brasil2016.gov.br André Motta/Heusi Action/Brasil2016.gov.br

R$ 217,1 milhões (2016)

O Centro de Desportos Aquáticos virou uma instalação temporária depois que o Rio foi eleito sede da Olimpíada. Apesar disso, ficou mais cara. Após os Jogos, o espaço será desmontado e transformado em dois parques aquáticos que serão instalados em diferentes cidades do país. O custo da transferência não está incluído no orçamento atual da arena.

Centro Olímpico de Tênis (+ 33%)

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R$ 143,6 milhões (2008)

A construção do Centro Olímpico de Tênis segue um projeto muito parecido com o incluído no dossiê de candidatura do Rio à sede dos Jogos de 2016. Em 2008, já previa-se que o espaço contaria com 16 quadras espalhadas numa área de 9 hectares. Estava previsto também a construção de uma grande arena central, que ficaria de legado para o Rio.

Divulgação / APO Divulgação / APO

R$ 191,1 milhões (2016)

A construção do Centro Olímpico de Tênis começou em 2013 já com um orçamento acima do estimado em 2008. O projeto da arena principal chegou a ser simplificado para contenção de gastos. Mesmo assim, o custo da construção subiu ainda mais depois de aditivos ao contrato para a aceleração da obra, que ainda não foi concluída. Hoje, ela está 90% pronta.

Velódromo Olímpico (+ 26%)

EOM/AMCOM EOM/AMCOM

R$ 109,2 milhões (2008)

O Rio planejou usar na Olimpíada o velódromo construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007, ao custo de R$ 14 milhões. No dossiê de candidatura olímpica, previu-se uma grande reforma na instalação esportiva para que ela passasse a atender requisitos olímpicos.

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R$ 137,7 milhões (2016)

O plano da reforma no velódromo não prosperou pois organizadores da Rio-2016 concluíram que seria impossível adaptar o espaço às necessidades da Olimpíada. A arena do Pan-2007 foi demolida e uma nova começou a ser construída. A obra atrasou e precisou de recursos extras para ser acelerada. Ainda não está pronta.

Arena de Handebol (- 12%)

Reprodução/Rio-2016 Reprodução/Rio-2016

R$ 152 milhões (2008)

O ginásio do handebol da Olimpíada seria uma das quatro arenas permanentes e geminadas projetadas para integrar o Parque Olímpico. Após a escolha do Rio como sede da Olimpíada, decidiu-se reduzir para três o número dessas arenas. O handebol foi transferido a outra instalação.

Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio Renato Sette Camara/Prefeitura do Rio

R$ 133,4 milhões (2016)

O esporte ganhou um ginásio único chamado Arena do Futuro. O espaço é uma instalação temporária, que depois da Rio-2016, será convertido em quatro escolas municipais. Essa arena ficou mais barata do que a prevista no dossiê de candidatura. Seu custo, porém, não inclui o gasto para sua conversão em escolas.

Maria Lenk (- 21%)

Júlio César Guimarães/UOL Júlio César Guimarães/UOL

R$ 26,93 milhões (2008)

O Parque Aquático Maria Lenk também foi construído para o Pan-2007. Visando à Olimpíada de 2016, foi planejada uma reforma no espaço, que sediará competições de polo e saltos ornamentais.

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R$ 21,4 milhões (2016)

A reforma do Maria Lenk está em execução. Inclui até a construção de uma nova piscina de aquecimento na área externa do parque aquático, obra que não estava inicialmente planejada. Mesmo assim, a reforma está mais barata do que o estimado no dossiê de candidatura do Rio à sede dos Jogos.

Vila dos Atletas (+ 119%)

Reprodução/Rio-2016 Reprodução/Rio-2016

R$ 1,330 bilhão (2008 )

Já no dossiê de candidatura do Rio à sede da Olimpíada, foi planejada a construção da Vila Olímpica e Paraolímpica com recursos privados e praticamente ao lado do Parque Olímpico. Inicialmente, o condomínio teria 34 edifícios com apartamentos de alto padrão, de três ou quatro quartos. A construção seria financiada pela Caixa Econômica Federal.

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R$ 2,909 bilhões (2016)

A Vila Olímpica (hoje Vila dos Atletas) foi construída com recursos privados e financiada pela Caixa, conforme o previsto. O número de edifícios é que diminuiu de 34 para 31. A configuração dos apartamentos também mudou. Hoje, há imóveis com dois, três e quatro dormitórios no condomínio. Apesar disso tudo, o conjunto de prédios ficou mais caro.

Engenhão (- 74%)

Reinaldo Canato/UOL Reinaldo Canato/UOL

R$ 128,5 milhões (2008)

O Engenhão foi construído para o Pan-2007, com capacidade para 45 mil torcedores. Na candidatura do Rio à sede da Olimpíada, foi programada uma reforma no espaço e a ampliação permanente de sua arquibancada. O Engenhão ganharia mais 15 mil lugares e estaria, assim, pronto para receber o atletismo na Rio-2016.

Julio Cesar Guimarães/UOL Julio Cesar Guimarães/UOL

R$ 33,5 milhões (2016)

A reforma do Engenhão está em execução. O espaço está ganhando uma pista de atletismo mais moderna e melhorias internas e de iluminação. O projeto para ampliação permanente da arquibancada do estádio, entretanto, foi cancelado. Para a Rio-2016, o Engenhão ganhará 15 mil lugares temporários. O custo dos assentos não está incluído no orçamento da reforma.

Parque de Deodoro (+ 88%)

Reprodução/Rio-2016 Reprodução/Rio-2016

R$ 333 milhões (2008)

A adequação do Parque de Deodoro para a Olimpíada previa a reforma ou construção de sete instalações esportivas (Estádio de Canoagem Slalom [fotos acima], Centro de BMX, Arena de Deodoro, Centro de Hóquei sobre Grama, Centro de Pentatlo e Centro de Tiro). Essas obras, mais a infraestrutura do parque, custariam R$ 333 milhões, já com a correção monetária.

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R$ 626,5 milhões (2016)

Todas as obras previstas no dossiê de candidatura foram incluídas num só contrato assinado pela prefeitura. Nele, também foi prevista a construção de um estádio temporário --o Estádio de Deodoro--, que receberá o rúgbi. A modalidade só foi incluída no programa olímpico após a escolha do Rio para sede da Olimpíada. A construção de uma instalação para o esporte ajudou a elevar o custo do Parque de Deodoro para R$ 626,5 milhões

Centro de Hipismo (+ 359%)

Reprodução/Rio-2016 Reprodução/Rio-2016

R$ 33,46 milhões (2008)

O Centro Hipismo, em Deodoro, foi usado no Pan-2007. Quando o Rio candidatou-se à sede dos Jogos Olímpicos, planejou-se a reforma e ampliação do espaço.

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R$ 153,4 milhões (2016)

A reforma acabou sendo bem maior do que a planejada. O obra no Centro de Hipismo prevê a remodelação de pistas, além da construção de novas baias para cavalos, de uma clínica veterinária e de uma vila para tratadores (72 apartamentos de três quartos).

Sambódromo (+ 55%)

Reprodução/Rio-2016 Reprodução/Rio-2016

R$ 41,91 milhões (2008)

O sambódromo será usado para competições de tiro com arco e na maratona. O dossiê de candidatura do Rio à sede da Olimpíada previu "uma grande reforma" do espaço.

Júlio César Guimarães/UOL Júlio César Guimarães/UOL

R$ 65 milhões (2016)

A reforma no sambódromo já foi concluída e custeada com recursos privados. A prefeitura do Rio incluiu a realização das obras num acordo realizado com uma companhia dona de um terreno vizinho. As arquibancadas do espaço foram ampliadas e suas fundações reparadas.

Estádio de Remo da Lagoa Rodrigo de Freitas (+ 8%)

Reprodução/Rio-2016 Reprodução/Rio-2016

R$ 7,04 milhões (2008)

O Estádio de Remo da Lagoa é uma das instalações esportivas mais antigas do Rio. Foi usado no Pan-2007 e precisou de uma reforma para a Rio-2016. O projeto incluiu a construção de uma nova torre de cronometragem e ampliações em garagens para barcos e canoas.

Miriam Jeske/Brasil 2016 Miriam Jeske/Brasil 2016

R$ 7,6 milhões (2016)

A reforma do Estádio de Remo da Lagoa é uma responsabilidade do governo do Rio de Janeiro. A obra começou no início de 2015, mas parou por falta de pagamentos. A nova torre de cronometragem está pronta para a Rio-2016. Foi usada em dois eventos-testes realizados em 2015.

Marina da Glória (+ 103%)

Reprodução/Rio-2016 Reprodução/Rio-2016

R$ 29,53 milhões (2008)

A Marina da Glória servirá de base para as competições olímpicas de vela da Olimpíada de 2016. O espaço já havia sido usado durante os Jogos Pan-Americanos de 2007. Para os Jogos Olímpicos, precisava "grandes reformas" em suas instalações permanentes, incluindo a construção de uma nova área de competição.

AFP PHOTO / VANDERLEI ALMEIDA AFP PHOTO / VANDERLEI ALMEIDA

R$ 60 milhões (2016)

A Maria da Glória está sendo reconstruída para a Olimpíada. O espaço foi concedido à iniciativa privada pela prefeitura. Os recursos empregados na obra são da concessionária. O orçamento da obra inclui a construção de novos píeres, de um edifício garagem para barcos, além da remodelação completa do edifício principal.

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