UOL Olimpíadas 2008 Especiais
 

Em montagem, Hugo Parisi e César Castro sobre o Congresso

Fotos do salto em Brasília

11/07/2008 - 08h30

Saltadores mergulham na capital das piscinas

Claudia Andrade

Em Brasília (DF)

O que mais chama a atenção quando se olha pela janela do avião ao chegar a Brasília não é nenhuma obra do arquiteto Oscar Niemeyer. É a grande quantidade de piscinas da capital, conhecida por seu clima seco. Foi em uma delas que surgiu um dos destaques da delegação brasileira para Pequim, o brasiliense César Castro, candidato a medalha nos saltos ornamentais.

Uma região específica de Brasília concentra o maior número delas. No Lago Sul, apenas 13,5% das residências não possuem o luxuoso equipamento doméstico – que por ali parece ter virado item de primeira necessidade, apesar do custo se aproximar ao de um carro usado. E mais de 2% dos imóveis possuem mais de uma, segundo os dados de uma pesquisa realizada em 2004 pela Codeplan (Companhia de Planejamento do Distrito Federal).

É neste trecho da cidade que fica o Colégio Mackenzie, a segunda casa de César Castro. Ali o saltador treina em dois períodos, almoça na cantina junto com os alunos e faz a "siesta", em meio aos colchonetes da área de treinamento. Ele mora em um apartamento sem direito a piscina, mas já comprou terreno para erguer casa e cavar uma.

A partir de novembro de 2007, César passou a ter a companhia do caçula da seleção, Hugo Parisi, que deixou o Rio e voltou para sua terra natal para treinar. A grande vantagem de estar de volta? Ficar perto da família e não ter a concorrência dos nadadores pela água clorada carioca.

O motivo é o mesmo que já fez César Castro recusar ofertas para deixar a capital federal. "Sempre me chamaram para sair daqui e ir para o Rio, São Paulo ou os Estados Unidos. Mas o fato de a família estar aqui pesa muito. O clima daqui também é muito bom para os treinos, porque quase não chove, e a escola me deu tudo o que eu precisava para treinar", conta o saltador.

Folha Imagem

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Nem sempre foi assim, pelo menos em relação ao clube. Antes de César figurar entre os melhores do mundo, ele dispunha apenas da piscina para treinar. Quando o assédio começou, pediu para construírem um ginásio para os treinos complementares, fora da água.

Pedido atendido, hoje ele faz os trabalhos na cama elástica e no solo tendo como platéia várias crianças, alunos da natação, que não hesitam em parar para conversar com o ídolo. "Como é o seu nome, tio?", pergunta um. "Meu nome é Zé", brinca César. "Não é não, é César. César Castro, do salto", o menino corrige.

O saltador se diz orgulhoso por ter divulgado um pouco mais a sua modalidade para os brasilienses. Os saltos ornamentais raramente estão na mídia, mas o destaque de César nas competições fez com que seus conterrâneos passarem a entender um pouco melhor as regras. "As pessoas agora já sabem mais e perguntam detalhes da prova para mim. Antes, quando a gente falava que praticava salto, achavam que era o do atletismo", conta.

César começou na natação, nas piscinas da Secretaria de Esporte e Lazer do Governo do Distrito Federal (na sua época, Departamento de Educação Física, Esporte e Recreação - Defer). "Mas eu já levava jeito para o salto, porque na hora da recreação, ficava brincando no trampolim", lembra. Depois, uma passagem pela Associação Brasiliense de Saltos Ornamentais antes de ir para o Mackenzie, onde está há oito anos.

"Eu tive uma evolução no esporte porque meus pais puderam me dar apoio. Minha mãe me levava para os treinos, bancava algumas viagens para competir. Isso facilita", reconhece.

Foi assim que ele pôde insistir na modalidade, mesmo depois que o técnico Francisco Ferreira foi para o Rio de Janeiro, em 2000, deixando os saltadores brasilienses 'órfãos'. "A gente também queria ir e chegamos a ficar 15 dias treinando lá. Mas não conseguimos apoio, então tivemos que voltar. Aqui, um ajudava o outro, até que nenhum de nós estava se desenvolvendo mais. Foi aí que eu resolvi ficar só ajudando o César", conta Ricardo Moreira, atual técnico de César Castro. "A gente não esperava que chegasse tão longe", acrescenta.

Também foi uma mudança do técnico que fez Hugo Parisi voltar para Brasília. "Depois que o (cubano Francisco) Ferrer se aposentou, não pensei duas vezes antes de voltar. Eu sou daqui e sentia muita saudade. Todo mundo que eu conheço é daqui, minha família, meus amigos. Foi difícil para um brasiliense se acostumar com o Rio logo que eu cheguei", conta o atleta, que estava morando no Sudeste deste o ano 2000. "Além disso, agora eu treino com meu amigo César, tenho a orientação do Ricardo e espero melhorar cada vez mais", completa.

Menos badalado que César Castro, que não deixou Brasília e se destacou mais no esporte, Hugo quer aproveitar esta condição na disputa Olímpica. "O que me deixa mais tranqüilo é que eu não sou a estrela da equipe; corro por fora. Tenho cobrança de resultado, claro, mas não fico tão em evidência."

Para César Castro, a tranqüilidade vem de sua cidade. Por isso, no Pan do Rio, quando todos os outros atletas já estavam na Vila Pan-Americana, ele continuava em Brasília, longe da badalação e do assédio da imprensa. "A gente sabe como é, não precisava ir antes", confirma.

Antes das Olimpíadas, ele vai aproveitar a calmaria brasiliense até o final deste mês, quando embarca para Pequim. Depois disso, o aconchego do lar dará lugar à adrenalina pré-competição, na Vila Olímpica.

Em tempo: oito anos atrás o Distrito Federal era local dos triatletas, com Mariana Ohata e Leandro Macedo aproveitando as amplas avenidas da cidade planejada para o uso automotivo para treinar ciclismo e corrida para Sydney-2000. Já as piscinas em que treinavam, os dois deixaram agora para os saltadores e suas piruetas.

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