No esporte mais brasileiro da Rio-2016, alemãs tomam conta de Copacabana
Se tem um esporte da Olimpíada que o Brasil pode chamar de seu é o vôlei de praia. O país é, junto com os EUA, o criador da modalidade que virou olímpica. A paternidade, no entanto, não se converteu em medalhas na Rio-2016. Em um templo do esporte, com o apoio da torcida e com duplas bem cotadas, o Brasil viu duas alemãs dominarem o torneio feminino, encerrado na noite da última quarta.
Laura Ludwig e Kira Walkenhorst foram campeãs derrotando as duas duplas verde-amarelas que estavam na disputa. Na semifinal, elas fizeram 2 a 0 contra Larissa e Talita, campeãs do circuito mundial em 2015 e favoritas ao ouro olímpico. Na decisão, atropelaram Ágatha e Bárbara, que haviam levado a última Copa do Mundo e também eram candidatas ao título.
“Foi duro, definitivamente. Nós sabíamos que estaria bem barulhento, como já tinha sido na semifinal, mas conseguimos focar no nosso jogo”, disse Laura Ludwig após o ouro.
O cenário, de fato, favorecia o Brasil. Copacabana é um dos berços do vôlei de praia, esporte que começou como hobby nos anos 1970 e 1980 e foi parar na Olimpíada na década seguinte. A arena montada esteve sempre com bom público, em uma das atmosferas mais difíceis que um estrangeiro poderia encontrar no Rio de Janeiro.
Ludwig e Walkenhorst pareceram se sentir em casa. Na final, por exemplo, o público presente tentou, ao longo de todo o primeiro set, atrapalhar o saque das estrangeiras com vaias. E foi justamente no serviço que elas conseguiram vantagem, com 3 aces contra nenhum das brasileiras e uma reposição de bola que complicou muito o passe de Agatha e Barbara.
Até as condições da praia, que em tese favoreceriam as donas da casa, pesaram para as alemãs. O jogo, agendado para 23h59 da noite de quarta, foi marcado por uma forte ventania que iniciou minutos antes da bola subir. O clima atrapalhou a estratégia das brasileiras, que tiveram dificuldade em passar e atacar enquanto Ludwig e Walkenhorst se sobressaíam no mesmo fundamento.
“Foi muito estranho, eu acho que todas nós tivemos de mudar um pouco nossas estratégias, focando mais na qualidade do passe e do levantamento. Nós conseguimos colocar bons saques em quadra. Foi difícil, mas certamente foi a chave para a vitória”, disse Ludwig.
Até torcida a favor elas tinham, ainda que muito em minoria na comparação com o restante da arena. Durante a partida, os alemães que foram a Copacabana quiseram se sentir presentes gritando o nome do país em vários momentos de silêncio. Ainda que fossem abafados pela massa verde-amarela, os pequenos grupos se fizeram ouvir e foram ajudados pelas jogadoras. O domínio de Ludwig e Walkenhorst era tão grande que até o grupo que puxou um “Eu acredito”, no segundo set, desistiu rapidamente.
A vitória não foi por acaso. Embora tenham só quatro anos de parceria, as duas são bicampeãs europeias de vôlei de praia e ganharam cinco etapas do circuito mundial só neste ano, incluindo três das últimas cinco antes da Olimpíada, o que as ajudou a chegar embaladas para a conquista do ouro no Rio.