Máfia cambista recebeu ingressos da Eslovênia; polícia mira outros comitês
Ingressos reservados ao Comitê Olímpico da Eslovênia foram colocados à venda pela operadora da máfia cambista da Olimpíada. Bilhetes com o nome do país do leste europeu estavam entre os 823 apreendidos pela Polícia Civil após a prisão do irlandês Kevin James Mallon, executivo da THG Sports. A empresa, controlada pelo grupo do milionário britânico Marcus Evans, é apontada como principal operadora do esquema.
As autoridades brasileiras já identificaram o envolvimento criminoso de outro comitê olímpico, o da Irlanda. A entidade é suspeita de ter repassado a maioria dos ingressos que a THG tentava revender dentro de falsos pacotes de hospitalidade. Esse desvio ocorria por meio da firma Pro10, como revelou o UOL.
Na quarta-feira (17), o presidente do comitê irlandês e membro executivo do COI (Comitê Olímpico Internacional), Patrick Hickey, foi preso por suspeita de atuar em favor da THG e de Evans.
Agora, a polícia apura se o comitê da Eslovênia e de países também beneficiaram a THG. O elo dessa nova linha de investigação é a Cartan Global --firma autorizada a revender ingressos na Eslovênia e em outros 35 países.
A Cartan entrou no radar dos investigadores depois que agentes do Nage (Núcleo de Apoio a Grandes Eventos) e da Delegacia de Defraudações apreenderam 13 capas de ingresso com nome e logomarca da empresa. No material, também encontrado com Kevin James Mallon, havia ainda a identificação do grupo Marcus Evans.
A próxima etapa do inquérito é descobrir como os bilhetes repassados à Cartan pelos comitês olímpicos foram parar nas mãos da THG.
Na prisão de Mallon, os policiais descobriram que a máfia cambista promovia um evento de recepção às vítimas em um hotel na Barra da Tijuca, na zona oeste carioca, onde eram entregues os ingressos. O espaço é conhecido como "Casa Cartan Next", o que, de acordo com as delegacias mobilizadas na apuração, joga ainda mais luz sobre a possível atuação da Cartan no esquema.
Os tíquetes que haviam sido reservados para a Eslovênia eram da decisão do futebol masculino, no sábado (20), no Maracanã. Já os do comitê irlandês eram de várias competições e fases importantes da Rio-2016, além das cerimônias de abertura e encerramento do evento.
Os pacotes de hospitalidade oferecidos pela THG custavam cerca de 8.000 dólares (R$ 24 mil), valor muito superior ao original.
Cartan confirma repasse de ingressos à THG
O Comitê Olímpico da Eslovênia foi procurado pelo UOL Esporte na última segunda-feira (15). Naquele dia, o órgão informou não saber o motivo de ingressos nominais ao país terem ido parar nas mãos de Mallon, da THG. "Nós simplesmente não sabemos o que está acontecendo", informou. Após a prisão de Patrick Hickey, na quarta (17), a entidade foi novamente questionada. Mudou de posição e encaminhou uma cópia de uma carta destinada ao Comitê Organizador Rio-2016 em resposta a uma correspondência enviada pelos organizadores dos Jogos, dois dias antes.
No documento, o comitê esloveno declara ter solicitado informações à Cartan sobre a venda e a operação policial no espaço de hospitalidade mantido pela empresa na Barra da Tijuca. A companhia informou ter vendido ingressos para a THG, mas que isso ocorreu "dentro do regulamento de venda de ingressos". Assim, alega não ter cometido qualquer ilegalidade no Brasil.
Por fim, a carta do Comitê Olímpico da Eslovênia cita ainda que o repasse de ingressos da Cartan à THG não afetaria a quantidade de tíquetes vendidos "na Letônia". O comitê letão também comercializa seus ingressos por meio da Cartan. A polícia ainda não tem informações sobre possível repasse bilhetes reservados aos letões, mas trabalha com a hipótese de que a THG tinha várias fontes para obtenção de ingressos. Procurado pelo UOL Esporte, o Comitê Olímpico da Letônia optou por não se pronunciar.
Logo que as investigações sobre venda ilegal de ingressos começaram, a Cartan se posicionou sobre o assunto. A empresa declarou que "não tem envolvimento com venda direta de bilhetes e cumpre os regulamentos do Comitê Rio-2016 e do COI (Comitê Olímpico Internacional) sobre a comercialização de bilhetes". Procurada novamente nesta segunda, o representante da empresa americana também optou por não se pronunciar.
O diretor de Comunicação do Comitê Organizador Rio-2016, Mario Andrada, afirmou que a entidade está colaborando com a investigação da polícia. O porta-voz do COI, Mark Adams, disse que a aguarda o resultado das apurações policiais para se posicionar, principalmente em relação ao irlandês Patrick Hickey. Adams pediu que a presunção de inocência de Hickey seja respeitada. Ele também foi questionado sobre o sistema de venda de ingressos olímpicos por comitês olímpicos nacionais. Porém, afirmou apenas que pode melhorar para que fraudes sejam coibidas.