Relatos das provas

Disputa de primeira medalha já pode exibir nova cara do Brasil militar

Rafael Bello/COB
Felipe Wu, atirador paulista, é o líder do ranking mundial de sua categoria e apontado como favorito a ganhar medalha imagem: Rafael Bello/COB

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

No sábado, um dia após a abertura da Olimpíada, a primeira chance real de uma medalha depende da mira do brasileiro Felipe Wu. Líder mundial do ranking da pistola de ar, distância de 10 m, ele é apontado como um dos favoritos inclusive para o ouro olímpico da categoria, apesar de não ter treinado nesta sexta-feira por conta de dores no ombro direito.

Felipe, 24 anos, tem ascendência chinesa, vive em São Paulo e é terceiro-sargento do Exército. Em conversa com reportagem, confirmou que, em caso de subida ao pódio, prestará continência em homenagem à instituição da qual faz parte. “Não é porque ninguém pediu não, é por mim mesmo”, disse Felipe na manhã da última quinta-feira antes de uma sessão de treinamento.

A imagem de um militar brasileiro prestando continência no pódio deve acontecer algumas vezes ao longo das próximas semanas. Quase um terço dos 465 atletas inscritos pertence a alguma das Forças Armadas, resultado de um programa de apoio ao alto rendimento encabeçado pelo Ministério da Defesa.

A maioria dos atletas não são militares de carreira, mas recebem um salário de cerca de R$ 3 mil para se dedicar exclusivamente a treinar. “O grande motivo pra eu ter entrado no Exército”, explicou Felipe Wu, “é que [sendo civil] eu não posso ter arma de fogo até os 25 anos, por causa da lei do desarmamento. Eu como militar posso ter arma a partir dos 18 anos.”

Em sua prova de especialidade o atirador usa uma pistola de ar, mas ele também competirá na pistola de fogo. Para os treinos dessa categoria, o Exército o ajuda com a munição.

“Eu não poderia comprar, nem o meu pai. Sem o Exército, eu não sei se estaria levando o esporte de maneira profissional como eu estou”, disse Felipe Wu, que trancou a faculdade de engenharia para se dedicar exclusivamente aos treinos.

Revelação do tiro improvisa treino na garagem de casa

Além dele, atletas do judô como Rafael Silva, Mayra Aguiar e Sarah Menezes, e Yane Marques, do pentatlo moderno, todos cotados para medalhas, são militares.

O número de militares em 2016 é quase o triplo do de Londres-2012 (145 a 51), o que representa uma militarização do esporte olímpico do país poucas vezes vista nos últimos anos. Ter esportistas militares é tendência também em outros países, como Estados Unidos, Rússia e França.

Coincidentemente, a primeira medalha dourada do Brasil foi conquistada por um atleta militar e do tiro esportivo, assim como Felipe Wu. Nos Jogos da Antuérpia de 1920, o tenente Guilherme Paraense, conquistou o ouro e hoje seu nome batiza o centro de tiro onde Felipe tentará seus disparos certeiros.  

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