Pivô de polêmica no basquete feminino já foi aposta do Brasil no atletismo
Não há jogadora de basquete do Brasil que tenha sido envolvida em mais polêmicas do que Clarissa neste ano. Em janeiro, a pivô furou um bloqueio orquestrado por clubes locais ao evento-teste da Rio-2016 e foi a única atleta do Corinthians/Americana que se apresentou à seleção brasileira. Acabou dispensada da equipe paulista, convocada a dar explicações no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e intimada a pagar uma multa de R$ 134.572,00. O exemplo de dedicação ao time verde-amarelo, contudo, é fruto de um episódio fortuito. Ex-promessa do atletismo, Clarissa, 27, só acabou no basquete por uma coincidência de caminho.
A pivô começou no esporte aos 13 anos, no clube municipal Miécimo da Silva, no Rio de Janeiro. Procurou o espaço porque queria jogar vôlei, mas o responsável por recolher as inscrições era técnico de atletismo. Foi ele que convenceu Clarissa a praticar também arremesso de peso e lançamento de disco.
Dos 13 aos 19 anos, Clarissa seguiu no atletismo. Chegou a obter recordes estaduais em categorias amadoras e se destacou pelo potencial físico. A situação só mudou quando um técnico de basquete a encontrou no meio do caminho.
“A quadra de basquete ficava do lado da quadra de vôlei, e eu precisava atravessá-la para ir treinar atletismo. Um professor me via passando todo dia, e um dia ele me chamou. Eu só tinha tido contato com o basquete na escola e fiquei meio assim, mas resolvi tentar. Aí o vôlei acabou ficando um pouco de lado”, contou a pivô.
Clarissa ainda conciliou por um tempo os treinos de basquete e atletismo. Além disso, aproveitou em um as valências físicas desenvolvidas em outro. Até hoje, a força da pivô em disputas de bola é um dos aspectos mais impressionantes de seu jogo. Pokey Chatman, técnica dela no Chicago Sky, time que disputa a WNBA (liga profissional de basquete feminino dos Estados Unidos), chegou a classificar a brasileira em 2015 como “a jogadora mais forte que ela já viu”.
“Eu aproveito até hoje o início que tive no atletismo. Isso me deu mais coordenação e mais velocidade. O atletismo é bem completo”, explicou Clarissa.
“Eu só parei de treinar os dois porque comecei a ter convocações para seleções de basquete e precisei focar mais. Foi meio natural, mas eu gosto muito do atletismo”, completou.
No início da carreira, quando disputava os Jogos Regionais em São Paulo, Clarissa chegou a sugerir à comissão técnica de Americana que a inscrevesse também no atletismo. O pedido foi rejeitado: “Foi natural. Eu acabei não escolhei. Foi o basquete que me escolheu, na verdade”.
A relação que Clarissa desenvolveu com o basquete é uma das explicações para a decisão que ela tomou no início de 2016. “Não furei o bloqueio. Sou atleta, e atleta quer jogar. Essas coisas muito burocráticas ficam para quem tem de resolver. Para mim é o que acontece dentro das quatro linhas”, disse a pivô.
O desfecho da história, porém, mexeu muito na vida da jogadora. Após ser dispensada pelo Corinthians/Americana, Clarissa acertou com o Orduspor, da Turquia, onde ficará até abril. Depois voltará ao Chicago Sky, time que defende desde 2015, e fará por lá a última fase da preparação pessoal para a Rio-2016.
“O time é bem legal. A técnica teve muita paciência comigo, até porque o meu inglês não é lá essas coisas. Dá para comer e dormir, mas está tudo certo. Deu para aprender bastante coisa no último ano e entender o jogo americano, que é diferente”, encerrou a brasileira.