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Por uma marca de sol mais bonita, ela virou estilista. E estará na Rio-2016

Alex Ferro / Rio-2016
Criada em 2004, confecção de moda praia de Fabíola Molina tem tecidos biodegradáveis e proteção para o sol imagem: Alex Ferro / Rio-2016

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

O sol era um problema para Fabíola Molina, 40, na época em que ela era nadadora profissional. Especificamente, a marquinha de sol que o maiô lhe proporcionava. Fabíola foi a única brasileira da modalidade nas Olimpíadas de Sydney-2000, mas também representou o país em Pequim-2008 e Londres-2012. O que era problema virou negócio depois: a paulista de São José dos Campos abriu em 2004 uma confecção especializada em moda praia, com peças voltadas a necessidades de atletas, e chegou a vestir o norte-americano Michael Phelps, recordista de medalhas da história dos Jogos.

A ideia da confecção surgiu quando Fabíola ainda era atleta. Ela treinava numa piscina descoberta em São José dos Campos-SP e não gostava da marca de sol que o traje de natação deixava. “Aí você se sente horrorosa porque parece um ET quando vai à praia. Isso me incomodava muito, e eu conheci uma costureira na minha cidade que tinha uma filha nadadora e fazia maiôs. Pedi que ela fizesse um sunquíni para que eu pudesse nadar e pegar sol ao mesmo tempo, com lateral e alças finas, para não ter diferença quando eu colocasse um biquíni”, contou a ex-nadadora.

Quando o sunquíni ficou pronto, Fabíola passou a usá-lo também em aquecimentos e treinos durante as competições. A partir disso, percebeu que ali havia um mercado com potencial para transformar a ideia em negócio: “Minhas amigas viram e começaram a pedir. Em todo evento eu levava dez ou 20 peças”.

Em 2004, quando Fabíola já pensava em aposentadoria, a nadadora alugou uma casa em São José dos Campos e montou uma empresa. O imóvel foi reformado para acomodar confecção e loja, e a mãe da atleta deixou de ser apenas dona de casa para gerir o empreendimento.

O “problema” é que a desmotivação de Fabíola durou pouco, e isso adiou consideravelmente os planos de aposentadoria. “Eu comecei a namorar o Diogo [Yabe, também ex-nadador, com quem ela é casada atualmente] em 2002. Ele é cinco anos mais novo e estava morando nos Estados Unidos. Aí eu voltei a nadar bem e a fase passou”, relatou ela.

Em 2007, Fabíola foi medalhista de prata nos 100m costas dos Jogos Pan-Americanos disputados no Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi às Olimpíadas de Pequim para disputar a mesma prova (18º lugar) e o revezamento 4x100m medley (10º lugar).

“Em competições grandes eu não levava muitas peças. A gente divulgava mais em preparatórias porque nas Olimpíadas e nos Mundiais você estava para pensar apenas em competir. Em Pequim eu nadei o revezamento no último dia, e aí nem deu muito para pensar nisso. Mas as meninas viam e pediam – a [francesa] Laura Manaudou era superfã e pediu uns oito”, disse Fabíola.

As competições e os amigos da natação seguiram sendo os principais canais de distribuição do material de Fabíola Molina – a empresa dela tem 35 representantes em território nacional e 15 fora do país, mas todos tiveram de tomar iniciativa de procurar a marca. Foi assim que ela chegou ao norte-americano Michael Phelps.

“Ele estava saindo da Speedo e indo para outra marca, e nessa época postou fotos com as nossas sungas. Nós somos muito amigos do Charlie Houchin, que dividiu quarto com ele em Londres-2012. O Charlie só tinhas sungas Fabíola Molina. Ele emprestou para o Phelps, que elogiou o produto. A gente passou a mandar algumas”, contou a brasileira.

Fabíola também esteve em Londres-2012 (foi a 24ª nos 100m costas) e se aposentou em novembro do ano seguinte, depois de ter nadado competições regionais por São José dos Campos. A partir disso, decidiu focar apenas na confecção.

Neste ano, o problema do sol virou também passaporte. Foi por causa do lado estilista que a ex-atleta conseguiu garantir presença na Rio-2016. Fabíola será responsável pela linha de licenciados dos Jogos Olímpicos no segmento moda praia, setor jamais explorado na história da competição. A Rio-2016 já assinou 52 contratos de cessão de marca, e a meta do comitê organizador é chegar a 70 até o próximo ano.

“Eu queria [estar presente]. Como atleta, a gente funciona de quatro em quatro anos. Quando terminou o ciclo de Londres-2012, comecei a fazer um planejamento até 2016. Como eu sabia que não ia nadar, fiquei com isso na cabeça. Era uma oportunidade maravilhosa, ainda mais por ser no Brasil”, contou Fabíola em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Os Jogos já têm 3 mil produtos licenciados, e o comitê organizador espera chegar a 8 mil até o ano que vem. O objetivo da entidade é gerar R$ 1 bilhão em vendas com licenciados – o Rio-2016 recebe um mínimo garantido e royalties que variam entre 10% e 20%.

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