Como ser 'grossa' na queimada da escola fez uma artilheira para o handebol
Todo mundo jogou queimada quando criança, mas poucos tinham o talento de Elaine Gomes para fugir das bolas e acertar os adversários com um misto de força e mira. Ela era a rainha da queimada na escola que estudava em Fortaleza e acabou levando isso para a profissão. Não à toa se tornou artilheira no handebol.
Elaine hoje é pivô da seleção feminina de handebol e vem se destacando nessa geração vitoriosa. Conquistou o Mundial em 2013 e foi ouro no Pan-Americano de Toronto. Agora, ela briga por uma vaga no Mundial deste ano na Dinamarca e, principalmente, nas Olimpíadas do Rio de 2016.
Tudo isso graças às técnicas aprendidas na infância. “Com a queimada eu vi que podia treinar handebol. Eu tinha boa mira e força no arremesso. E a queimada tem essa coisa de enganar o adversário. Você olha para um lado, finge que vai jogar e joga para o outro. Essa coisa de enganar tem muito no handebol também”, diz ela, sem modéstia sobre suas habilidades.
“Eu era muito boa. Teve uma vez que tinham oito meninas para cada lado e eu carimbei seis meninas. Eu ficava até com dor no braço. As adversárias ficavam bravas e falavam: ‘você é muito grossa’. ‘Eu tenho que jogar forte’, respondia.”
E foi justamente assim que ela iniciou sua trajetória no esporte. Certa vez, ainda no início da adolescência, a esposa de seu primeiro treinador estava apitando uma queimada na aula de educação física e sugeriu ao marido que a convidasse para conhecer a modalidade.
“Ela me viu jogando e falou para ele: ‘vamos levar essa menina para o handebol’. Aí eu fui a um treino e comecei. No início era até engraçado porque eu fazia como na queimada. Não passava a bola, pegava e saía correndo até a entrada da área para fazer o gol. Todo mundo ria de mim”.
Muitos anos depois, Elaine vive outra fase na carreira. Naquela época jogava como meia esquerda e hoje se destaca como pivô graças à visão do técnico Morten Soubak. Há duas temporadas, saiu do Brasil para defender o Nykøbing F. Håndboldklub, da Dinamarca.
Longe da família e bastante focada, ela viu seu nível crescer. Depois de ser campeã mundial, foi convocada para o Pan no soar do gongo depois que a capitã Dara teve problemas físicos. E aproveitou bem a chance.
“Particularmente, entrei aos 47 minutos do segundo tempo e não estava esperando, já estava em casa de férias e quando me ligaram dei um grito. Foi uma experiência única, uma das melhores, fiz sete gols e já senti aquele clima de Olimpíadas, me senti nas nuvens”.
Agora, ela espera uma chance no Mundial e no Rio-2016. “Sei das dificuldades e da competição, mas estou trabalhando muito visando essa possibilidade”.