Olimpíadas 2016

Treze principais casos de polícia que desviaram foco do esporte nos Jogos

Ricardo Moraes/Reuters
Soldados patrulham área próxima ao Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

As cenas de euforia do público brasileiro nas arenas da Rio-2016 contrastam com a dor da família do soldado da Força Nacional Hélio Vieira Andrade, assassinado por traficantes da Vila do João, favela do Complexo da Maré, em 10 de agosto. O poder público respondeu ao atentado com operações imediatas. No dia 11, enquanto a torcida ficava fascinada com a performance de Michael Phelps, na natação, ou comemorava a medalha de bronze de Mayra Aguiar, no judô, uma ação policial terminava com quatro mortes e cinco pessoas baleadas, na Maré. Três suspeitos foram presos.

Durante os Jogos, o Rio viveu 16 dias de grandes manchetes esportivas, tanto na imprensa brasileira quanto na mídia estrangeira. Não conseguiu, porém, escapar das indesejadas notas nos cadernos de polícia. E tal fato não se deve apenas à violência urbana. A reportagem do UOL Esporte listou dez ocorrências policiais de maior destaque que ocorreram durante a Olimpíada. Ameaças de bomba, assédio sexual envolvendo atletas, ônibus apedrejado, máfia cambista, o bizarro episódio do nadador americano que inventou uma história de assalto... 

Matthias Schrader/AP Photo
Falso vice-cônsul da Rússia matou um suspeito que tentou assaltá-lo no Rio imagem: Matthias Schrader/AP Photo

Russo reagiu a assalto, mata bandido e diz que é vice-cônsul...

Na véspera da cerimônia de abertura, o motorista de uma BMW sofreu uma tentativa de assalto na Barra da Tijuca, na zona oeste, mas reagiu e matou o criminoso que estava em uma moto. Na chegada da Polícia Civil, ele se identificou como vice-cônsul da Rússia em Minas Gerais. A informação, porém, foi posteriormente desmentida pela representação diplomática do país europeu.

Durante a ação, a vítima puxou o assaltante para dentro do carro e eles começaram a lutar. No duelo corporal, a arma utilizada pelo suspeito acabou disparando contra ele. A Polícia Civil ainda não concluiu se o tiro foi acidental ou efetuado pelo motorista da BMW. A Divisão de Homicídios investiga o caso.

YURI CORTEZ/AFP
Hassam Saada não participou da Rio-2016 porque foi preso por suspeita de estupro imagem: YURI CORTEZ/AFP

Boxeadores africanos são presos por assédio sexual

Dois boxeadores africanos, o marroquino Hassam Saada e o namibiano Jonas Junius, foram presos por suspeita de estupro contra camareiras da Vila dos Atletas, na Barra da Tijuca. Posteriormente, ambos foram liberados pela Justiça. As investigações ainda não foram concluídas e, como os passaportes estão retidos, ambos permanecem no Brasil.

O primeiro caso de assédio sexual investigado pela 42ª DP (Recreio) envolvia o atleta marroquino, suspeito de praticar o crime contra duas camareiras, em 5 de agosto. Segundo a polícia, as funcionárias estavam limpando o apartamento do boxeador quando ocorreu a agressão. Saada teria agarrado uma das vítimas e apertado seu seio com força. A outra camareira a defendeu. Ele, então, teria acariciado a coxa da segunda vítima, prensando-a contra a parede e tentando levantar sua saia.

O caso de Junius também coube à 42ª DP. A polícia informou que o namibiano agarrou uma camareira e tentou beijá-la à força, dentro da Vila dos Atletas, em 8 de agosto. O pugilista, que foi porta-bandeira de seu país na cerimônia de abertura, chegou a competir na Olimpíada após sair da prisão. Ele foi derrotado pelo francês Hassan Amzile. Já Saada ficou detido por mais tempo em uma cadeia da zona oeste carioca e não conseguiu participar da Rio-2016.

Michael Sohn/AP
Segundo a polícia, o americano Ryan Lochte mentiu em depoimento ao inventar uma história de assalto imagem: Michael Sohn/AP

Ônibus com jornalistas é apedrejado

Suspeitos apedrejaram um ônibus onde estavam jornalistas brasileiros e estrangeiros credenciados para a cobertura da Olimpíada, em 10 de agosto, na zona oeste carioca. Dois profissionais ficaram feridos, e duas janelas do veículo foram quebradas durante a ação de vandalismo. A Polícia Civil e as Forças Armadas investigam o caso.

Búlgaro suspeito de agressão

Segundo a Polícia Civil, uma camareira da Vila dos Atletas relatou ter sido agredida por um atleta da delegação búlgara. O caso foi registrado na 42ª DP (Recreio), onde ela prestou depoimento, no domingo (14). Segundo a vítima, duas colegas de trabalho também foram alvo da ira do esportista. A identidade dele não foi revelada.

Soldado da Força Nacional é assassinado na Maré

O soldado da Força Nacional de Segurança Hélio Vieira Andrade morreu após ser atingido no rosto por um disparo de fuzil. O tiro veio da favela Vila do João, no Complexo da Maré, zona norte carioca, e teria sido efetuado por traficantes de drogas, de acordo com a polícia. O atentado ocorreu depois que o veículo da FN, onde estavam Hélio e outros dois policiais, errou o caminho e acabou se aproximando da comunidade. O carro seguia em direção ao centro da cidade pela avenida Brasil.

Bala perdida atinge centro de imprensa

Uma bala perdida atingiu a sala de imprensa do Centro Olímpico de Hipismo de Deodoro, na zona oeste carioca, em 6 de agosto. O projétil foi encontrado por um australiano, que relatou o fato às autoridades. A ocorrência é investigada pelas Forças Armadas e apurada pelo Comitê Rio-2016. Ninguém se feriu.

Ministro português é assaltado em Ipanema

Um ministro de Estado de Portugal foi assaltado na orla da praia de Ipanema, na zona sul carioca, no dia 7 de agosto. O político europeu foi rendido por um suspeito de 26 anos, que se aproximou com uma faca e exigiu que a vítima lhe desse dinheiro, celular e bolsa. O assaltante fugiu a pé logo após cometer o assalto, mas foi cercado por moradores do bairro. A Polícia Militar chegou ao local em seguida e conseguiu efetuar a prisão do criminoso.

Ônibus com chineses passa por fogo cruzado na Linha Vermelha 

Na chegada ao Rio, em 4 de agosto, a delegação chinesa de basquete masculino foi recebida com um intenso tiroteio na Linha Vermelha, rota de acesso ao aeroporto do Galeão, na zona norte da cidade. Atletas, comissão técnica e jornalistas seguiam em um carro em direção ao centro a capital fluminense quando teve início uma troca de tiros na região do Complexo da Maré. O ônibus que transportava os asiáticos não foi atingido.

Ciclista atropelado na Barra

Qëndrim Guri, ciclista de 22 anos do Kosovo, foi atropelado por um carro nos arredores do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, na terça-feira (16). Ele quebrou dois dentes, sendo este o ferimento mais grave. Também sofreu uma escoriação no queixo. Ainda no hospital, a Polícia Civil do Rio conversou com o atleta para o registro da ocorrência. A investigação está em andamento.

Máfia de ingressos atua na Olimpíada

Durante a Olimpíada, a Polícia do Rio também atuou de forma silenciosa para identificar e desarticular uma quadrilha internacional que revendia ilegalmente ingressos da Rio-2016. Com exclusividade, o UOL Esporte revelou em várias reportagens como se dava a dinâmica e a operação comercial da máfia cambista.

O principal fato relacionado ao caso foi a prisão do presidente do Comitê Olímpico Irlandês e membro executivo do COI (Comitê Olímpico Internacional), o irlandês Patrick Hickey, e a do compatriota Kevin James Mallon. Atualmente, eles dividem cela no complexo penitenciário de Bangu. Mallon é diretor financeiro da empresa apontada como operadora do esquema, a THG Sports, controlada pelo grupo do milionário britânico Marcus Evans. Os bilhetes eram vendidos dentro de falsos pacotes de hospitalidade a preços muito superiores em relação aos originais.

Nadador americano é pego na mentira

O medalhista olímpico Ryan Lochte protagonizou uma confusão que repercutiu no mundo inteiro após mentir para a polícia brasileira. No domingo (14), ele e outros três companheiros da equipe americana, James Feigen, Gunnar Bentz e Jack Conger, foram a uma festa na zona sul do Rio, tiveram momentos de romance com duas jovens brasileiras e deixaram o local alcoolizados. Pegaram um táxi em direção à Barra da Tijuca e, no caminho, pararam em um posto de gasolina. Começava ali o episódio mais bizarro de toda a Rio-2016.

Lochte e Feigen afirmaram, em depoimento à Polícia do Rio, que haviam sido assaltados por homens armados. Posteriormente, após ouvir testemunhas que presenciaram a cena e analisar as imagens da câmera de segurança do posto, os investigadores descobriram que, na verdade, Lochte havia depredado o banheiro do estabelecimento, o que demandou a ação de dois seguranças do estabelecimento. Eles discutiram com os quatro nadadores, mas não houve agressão física.

Com a ajuda de um intérprete, os atletas foram informados que a Polícia Militar havia sido acionada e chegaria ao local. Então, eles concordaram em pagar uma quantia --cem reais e uma nota de 20 dólares-- para "reparar os danos", de acordo com o relato do chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso. Ele afirmou ainda que Lochte foi o "articulador" da falsa narrativa, e uma das hipóteses que justificaria a atitude do americano seria salvar o relacionamento com a namorada, a modelo Kayla Rae Reid.

Lochte retornou para os Estados Unidos durante a investigação, à revelia de uma determinação judicial que impedia os atletas de deixar o país. Bentz e Conger foram flagrafos no aeroporto quando tentavam embarcar, e seus passaportes foram apreendidos. Ambos prestaram depoimento na quinta-feira (18) e confirmaram a versão que culpabiliza Lochte. No fim do dia, foram liberados para regressar à terra natal. Feigen chegou a ficar sumido por alguns dias, mas se apresentou após intermediação de um advogado brasileiro e relatou a mesma versão, em depoimento. A Justiça aceitou liberá-lo mediante doação de R$ 35 mil a um projeto social do Instituto Reação.

A investigação do caso ainda está em curso. A polícia aguarda o resultado do trabalho da perícia no posto de gasolina e espera colher mais depoimentos antes de concluir o inquérito, que pode resultar no indiciamento de Lochte e Feigen por falsa comunicação de crime. Lochte ainda poderá ser ouvido pelo FBI, já que a polícia americana aceitou cooperar. Para tal, a Justiça brasileira precisaria expedir uma carta rogatória e enviá-la para análise da Justiça dos EUA, que decidiria sobre o assunto.

Multa por perturbação

Dois atletas das Ilhas Fiji tiveram que prestar esclarecimentos ao Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, na sexta-feira (19), após denúncias de constrangimento ilegal por três camareiras da Vila dos Atletas. A magistrada Bianca Nigri analisou o caso e determinou que Leone Nakarawa e Semi Tani Qerelevu Kunabuki pagassem multa de R$ 1.500. A dupla de esportistas também foi enqudrada por perturbação da ordem

Hanrrikson De Andrade/UOL
VLT do aeroporto Santos Dumont é isolado por conta de uma ameaça de bomba. Um robô da Polícia Federal foi utilizado para verificar o objeto suspeito imagem: Hanrrikson De Andrade/UOL

As corriqueiras ameaças de bomba

O trabalho da Divisão Antibomba da Polícia Federal, por exemplo, começou antes mesmo da cerimônia de abertura dos Jogos. Em 2 de agosto, os especialistas foram acionados por conta de um pacote suspeito deixado dentro de uma composição do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), na estação do aeroporto Santos Dumont. O local foi isolado, e a ameaça descartada depois que um robô especial da PF atestou que não existia artefato explosivo. Desde então, ocorreram muitos casos semelhantes.

No dia 6, a Polícia Federal isolou uma área ao lado do Boulevard Olímpico da Praça Mauá, um dos pontos de maior concentração de torcedores e atividades relacionadas aos Jogos Olímpicos, em razão de uma mochila abandonada. Mais uma vez, não havia qualquer artefato explosivo, porém todos os protocolos foram realizados. O local é próximo ao píer, onde estava ancorado o navio das delegações americanas de basquete masculino e feminino.

Cinco dias depois, uma ameaça de bomba fez com que o duelo entre Nigéria e Espanha, pela terceira rodada do basquete masculino, começasse sem público. A mala encontrada nos arredores da Arena Carioca 1, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, chegou a ser detonada pelos especialistas da PF. Na ocasião, uma forte explosão foi ouvida pelos atletas e jornalistas que estavam dentro do ginásio.

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