O que a Alemanha fez na sua "revolução" que já foi adotado pelo Brasil?
Dassler MarquesDo UOL, no Rio de Janeiro
O Programa de Desenvolvimento de Talentos da Federação Alemã foi criado no início do século para tirar o futebol do país da crise e levá-lo à conquista de uma Copa do Mundo, o que ocorreu em 2014. O encontro entre Brasil e Alemanha neste sábado, no Maracanã, é mais um sinal da força do projeto germânico para se reciclar e criar novos jogadores. Mais um 7 a 1 de planejamento? Desta vez nem tanto. Isso porque há paralelos no futebol brasileiro.
Ainda que sem o mesmo vigor da estratégia alemã, nos últimos anos a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) tem avançado em aspectos de formação, o que também influencia na presença do Brasil na final olímpica. A preparação realizada pelo time sub-23 pode ser considerada a melhor da história para o torneio. Abaixo, veja quais pontos a Alemanha privilegiou para crescer como nação do futebol e quais deles estão em curso por aqui.
PROTOCOLOS PARA FORMAÇÃO
Exigência nos clubes por qualificação dos treinadores e demais profissionais de comissão técnica, das categorias inferiores até as adultas. Há técnicos formados na Federação Alemã em mais de 300 centros de treinamento espalhados pelo país.
No Brasil, a CBF também avançou nesse território da qualificação com a criação do Certificado de Clube Formador e a ampliação do curso de formação de técnicos nos últimos anos.
DAR RODAGEM AOS JOGADORES
Os jogadores são acostumados a vestir, e muito, a camisa da seleção do país. As convocações começam aos 15 anos e passam por todas as idades até os 21 anos, além da categoria olímpica sub-23.
Essa política, que é comum à maioria dos países europeus é bastante diferente do que ainda ocorre no Brasil, que terá jogadores menos experientes em termos de seleção na final da Olimpíada. Mesmo assim, nos últimos tempos a CBF passou a fazer convocações regulares aos 16 e aos 18 anos. Além disso, o time sub-23 passou a ter um calendário regular de convocações.
DUPLA CIDADANIA
A Alemanha foi uma das primeiras nações a perceber a importância de convocar jogadores com dupla nacionalidade e que interessavam às outras seleções. São os casos, entre tantos outros, de Miroslav Klose, Jeremie Boateng e Mesut Özil, campeões do mundo. Na equipe olímpica, Gnabry tem cidadania nigeriana e marfinense, Toljan foi chamado pelos Estados Unidos e o centroavante Selke recebeu convocação da Etiópia. Todos escolheram defender a Alemanha.
No Brasil, há avanços nesse trabalho desde a gestão de Alexandre Gallo, ex-coordenador. O Brasil perdeu jogadores como Deco, Thiago Alcântara e Pepe, mas tem buscado no exterior garotos com dupla cidadania. Rafinha Alcântara, do time olímpico, é a maior vitória na categoria sub-23. Além dele, nomes como Andreas Pereira (Bélgica), Rodrigo Ely (Itália) e Lyanco (Sérvia) foram recentemente chamados.
LINHA DE TRABALHO COM TREINADORES
A Alemanha tem em Horst Hrubech, comandante do time olímpico, uma referência. São quase duas décadas dedicadas à formação de atletas pela Federação Alemã, período que coincide com a revolução local. Ele dirigiu as equipes sub-19, sub-21 e sub-23. Frank Wormuth, do sub-20, está há oito anos no cargo. Marcus Sorg dirigiu o sub-19 por três anos e virou auxiliar de Joachim Löw.
Contratados pela CBF há cerca de um ano, Rogério Micale (sub-20 e 23), Carlos Amadeu (sub-17) e Guilherme Dalla Dea (sub-15) são os treinadores responsáveis por criar um sistema de jogo para as seleções de base do Brasil.
AUMENTAR A PROSPECÇÃO DE TALENTOS
Com centenas de centros de treinamento espalhados por todo o país, a Alemanha busca ter controle sobre todos os jogadores jovens que surgem. Além disso, para as regiões isoladas, a Federação criou um programa com viaturas e treinadores que fazem visitas para ajudar a formar os técnicos locais e que identificam talentos.
O Brasil tem se preocupado bastante com esse tema. Erasmo Damiani, coordenador da CBF, montou uma equipe de observadores técnicos para mapear as competições de base por todo o país e estimula a presença de jogadores de clubes menores. Nos últimos tempos, equipes como Ituano, Red Bull e América-MG, por exemplo, tiveram atletas convocados. Com base em lucros da Copa do Mundo 2014, a CBF tem também a missão de construir 15 centros de treinamento em diferentes estados brasileiros.