"Meu sucesso não foi só desfile de uma noite", diz besuntado de Tonga
José Ricardo LeiteDo UOL, em São Paulo
O furor causado nas redes sociais e o assédio das pessoas impressionaram tanto Nikolas Pita Taufatofua mais conhecido como "besuntado de Tonga", que ele admite que teve que alterar as tradicionais vestimentas de seu país quando caminhava na Vila Olímpica para ter um pouco mais de sossego.
O atleta, que compete no taekwondo na categoria acima de 80 quilos e perdeu logo na primeira rodada no sábado, chamou a atenção do público na cerimônia de abertura da Olimpíada Rio 2016 pelo brilho de seu corpo seminu besuntado de óleo. Foi o que bastou para que virasse um dos grandes personagens do Tonga.
“Eu não esperava fazer tanto sucesso como fiz, eu estava no trending topics de todos países. Fiquei feliz com a cobertura que o país teve por conta disso. Tudo tem sido muito positivo, e esporte não é apenas vencer, uma Olimpíada é isso, as pessoas se unindo. Mas não esperava algo tão grande como foi. Muitas pessoas vieram me procurar, tive de mudar um pouco a roupa na Vila. Todo mundo ficava gritando Tonga, Tonga, Tonga”, disse o lutador.
“Está crescendo muito o número de meus seguidores nas minhas mídias sociais. Mas minha mensagem é só levar Tonga ao mundo e trazer as pessoas juntas. Quero ver que as pessoas possam atingir seu sonho e ter chance”, prosseguiu.
Nesta semana, ele chegou a ser convidado pela rede de televisão americana NBC, e foi besuntado ao vivo com óleo por apresentadoras do programa The Today Show.O lutador de taekwondo salientou que apesar do sucesso que fez na abertura, não quer ser apenas conhecido como uma pessoa que chamou a atenção por uma atitude de apenas uma noite, e sem nem ter a intenção de que houvesse tamanha repercussão.
“Meu rosto ficou conhecido no Brasil e fico orgulhoso de representar Tonga. Demorei 20 anos para chegar aqui. Meu sucesso levou 20 anos e não aqueles minutos na cerimônia. Foram 20 anos de trabalho para ser escolhido porta-bandeiras. Não foi coisa de uma noite”, declarou.
Sobre seu estado civil, Taufatofua disse que é “casado com Tonga” e aproveitará alguns dias livres na cidade de Florianópolis, para só depois voltar ao seu país. “Em dois dias viajo para Florianópolis e só depois vou para Tonga. Espero muita celebração quando chegar, mas vou trabalhar muito assim que chegar. Não quero fazer um trabalho só pra mim, mas também ajudar as próximas gerações. Somos um país muito pobre e quero fazer a minha parte para ajudar as próximas gerações.”
Derrota
Taufatofua não teve vida fácil diante do iraniano Sajjad Mardani e perdeu por 16 a 1, mesmo com imenso apoio da torcida brasileira. Apenas no primeiro round, o atleta cedeu oito pontos ao adversário após ser atingido diversas vezes e foi para o intervalo com um grande prejuízo para recuperar na segunda etapa.
O apoio dos torcedores brasileiros, especialmente da ala feminina, não foi suficiente para fazer o besuntado reagir. Mais lento que Mardani, Taufatofua teve dificuldade para se aproximar do adversário e acabou derrotado por 16 a 1, sem sequer ser necessária a disputa do terceiro round. Após o único ponto do besuntado, os presentes no ginásio foram ao delírio.
“Foi o dia dele, não fui bem no primeiro e nem no segundo round. Ele estava muito melhor na luta, não tenho nem o que dizer pra dar alguma desculpa. Mas fiquei muito feliz em ver essa torcida toda me apoiando”, falou. “Eu estava um pouco mais nervoso ontem. Quando vi essa torcida aqui vi muita energia, pesou mais o orgulho de defender minha nação e ser ajudado pela energia positiva”, prosseguiu.