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Micale reclama de imediatismo: "só queremos os 6 meses finais da Alemanha"

Lucas Figueiredo/MoWa Press
Rogério Micale falou sobre cobrança por resultados rápidos no Brasil imagem: Lucas Figueiredo/MoWa Press

Dassler Marques

Do UOL, no Rio de Janeiro

O treinador Rogério Micale concedeu sua 11ª entrevista coletiva em 15 dias de Jogos Olímpicos nesta quinta-feira e manteve uma tendência: críticas à visão geral sobre o futebol no Brasil. Agora com foco sobre a Alemanha, adversária brasileira na decisão do próximo sábado, pediu mais serenidade na análise sobre a modalidade. 

"Estive lá (na Alemanha) e vi como funciona. Sei que todos os jogadores dos times inferiores acompanham os passos dos outros para saber o que será feito para o jogador chegar maduro na equipe principal. É o processo. Queremos os seis meses finais da Alemanha e não os 12 anos que eles passaram, mas eu ainda acredito no nosso futebol", disse Micale sobre o período de reconstrução do futebol alemão que começou no começo deste século. 

"O jogador que outros cantos do mundo buscam, esse jogador capaz de desequilibrar, nós temos. Por isso a Europa vem buscar esse jogador. O Barcelona tem o trio de ataque sul-americano (Messi, Neymar e Suárez). Isso tem que falar algo para nós, que muitas vezes desvalorizamos tanto o nosso futebol. Nós mesmos denegrimos de uma forma que é injusta, pelo que a gente produz. Lógico que precisa de organização, é evidente, que precisa entender as fases do jogo, mas é o momento de realizar. Vamos tentar praticar nosso futebol. Não ofensivo, mas competitivo, que demonstre o potencial que o nosso jogador tem. É o grande desafio, porque somos impacientes e queremos começar do zero, buscar vilão, buscar um culpado, porque nada presta", comentou o treinador.

Micale, apesar de estar a dois dias da decisão, ainda fez uma análise sobre o rival. "Nós conhecemos a Alemanha pelo modelo de jogo adotado em todas as categorias, desde as iniciais até a principal. Que procura ter o domínio com a posse de bola, um jogo apoiado (...) que tentamos implantar na nossa seleção, onde os 3 da frente muitas vezes afunilam o jogo por dentro da linha da grande área, dando espaço para laterais passarem e gerar amplitude. Assim, buscam infiltrações ou superioridade numérica pelo lado. São perigosos, trabalham isso desde as categorias inferiores e temos que ter muita atenção nessa forma de marcar para contrapor essa grande virtude que a equipe tem".

Por fim, o treinador falou sobre a relação que construiu com os jogadores. "Me identifico muito com eles. Todo mundo é muito do bem, não tenho uma vírgula para dizer o contrário. São jovens que a gente aprende a admirar. O mundo que vivemos, que oferece muitas vantagens, mas em contrapartida tem que sempre tentar atender as expectativas de um monte de gente, e quando não consegue a carga que vem é muito pesada. Ali tem jovens de 18, 19 anos, 20 anos. Esse momento é de amadurecimento, e não é fácil ouvir determinadas coisas que a gente que vive ali, que não é verdade. Quando as críticas vêm de forma justa, que faz sentido, perfeito. Mas quando vai para o lado que fere a verdade é difícil", afirmou.

"A gente sente isso com certa idade, imagina os jovens. A gente tenta dar esse suporte familiar. A gente vive numa ilha isolada no futebol, que às vezes nos deixa à par da sociedade e em uma situação que nada nos atinge. Não é verdade. Gosto de ter familiares, de vivenciar, de estar junto. A gente cria paradigmas que não pode receber ninguém, falar com ninguém, fazer nada, e nos momentos difíceis as pessoas mais importantes são nossa mulher, pai, e mãe. Ganhei ali 18 filhos e 18 amigos porque me sinto bem com eles. Já começo a sentir saudades da convivência", comentou Micale. 

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