Basquete

Saiba como as meninas do basquete dos EUA estão aniquilando a homofobia

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Elena Della Donne assumiu o relacionamento com Amanda Clifton em entrevista à revista "Vogue" dos EUA. imagem: Reprodução/Instagram

Fernanda Schimidt

Do UOL, no Rio de Janeiro

A presença da modelo transgênero Lea T à frente da delegação brasileira na cerimônia de abertura, o pedido de casamento da jogadora de rúgbi em pleno campo pela namorada e a celebração de Larissa França com a mulher após a vitória no vôlei de praia não foram os únicos fatos a consagrar esta como as Olimpíadas da diversidade. A jogadora Elena Delle Donne, revelação do basquete norte-americano, anunciou que está noiva de Amanda Clifton dias antes de sua estreia olímpica na noite de domingo (7).

A notícia saiu sem alarde, em uma entrevista para a revista “Vogue”, mas define mais um marco para o esporte mundial. Elena une-se às colegas de seleção, Angel McCoughtry, Brittney Griner e Seimone Augustus, que usam sua posição privilegiada como atletas do maior time de basquete do mundo, invicto desde os Jogos de Barcelona em 1992, para reduzir o preconceito no esporte e servir de exemplo para fãs e atletas. 
 
No primeiro jogo de Elena, Amanda assistia da arquibancada, junto às famílias das esportistas. Em meio a discretas trocas de olhares, o foco de Amanda, que é ex-jogadora de basquete e trabalha ao lado da noiva em projetos com a marca Delle Donne (clínicas de basquete para crianças e uma loja de móveis artesanais em madeira), estava totalmente no jogo, comemorando cada passe bem dado, cesta convertida e bloqueio executado. Em breve conversa com o UOL Esporte, ela reconheceu a importância do papel de exemplo, mas preferiu manter a privacidade e não entrar em detalhes.
 
Caminho longo pela frente
 
Apesar de não esconder o relacionamento dos mais próximos quando se referiria à namorada publicamente, Elena costumava usar termos como “assistente” ou “amiga”. Duas fileiras abaixo de Amanda, na Arena da Juventude, estava alguém que passou por isso recentemente: Brande Elise, 32, noiva de Angel McCoughtry. O casal virou alvo de notícias no ano passado ao falar pela primeira vez e abertamente sobre o noivado.
 
Iwi Onodera/UOL
Brande Elise caprichou tanto no visual para torcer pela noiva, Angel McCoughtry, da seleção de basquete dos EUA, que fãs e jornalistas a paravam a todo momento para tirar fotos. "Faz parte. Não dá para sair assim e esperar que isso não aconteça", brincou imagem: Iwi Onodera/UOL
“Hoje em dia, as pessoas se sentem um pouco mais à vontade (para falar de seus relacionamentos). Antigamente, tinha o medo de que iriam perder patrocínio”, comentou Brande. Um dos principais rostos da liga de basquete feminina, a WNBA, Elena recebeu estimados US$ 250 mil (R$ 783 mil no câmbio atual) em contratos publicitários em 2015. De fato, esta edição dos Jogos Olímpicos é a que conta com o maior número de atletas abertamente LGBT: são 44 no Rio; contra 23 em Londres. Mas a lista ainda tem muito o que crescer, já que nem todos estão prontos ou dispostos a assumir o risco.
 
“É um peso muito grande ter de esconder quem você é, você fica se questionando. Algumas famílias não aceitam. Só que nós temos de viver tudo isso de maneira pública”, disse Brande Elise. Em 2015, Angel McCoughtry processou seu antigo time turco, o Fenerbahce, após polêmica envolvendo sua sexualidade e o noivado com Brande. A direção do clube havia a obrigado a postar uma carta nas redes sociais negando a homossexualidade, citando família e religião. “A Angel levantou a bandeira na Turquia. Na época, foi muito horrível para todas nós. Eu estava lá, eles sabiam sobre mim. O que fizeram foi terrível, inventaram uma série de mentiras”, lamentou.
 
Brande Elise critica ainda a postura homofóbica que persiste em alguns esportes, como o futebol americano, e a machista, no basquete. “Não é justa a generalização que se faz com o basquete de que as mulheres que jogam são lésbicas. São mulheres que jogam basquete, algumas são gays, várias outras não. Não deveria ser uma questão. Isso é muito ruim”, falou.
 
Até o momento, são majoritariamente as mulheres quem têm assumido a liderança na luta pela igualdade de gênero e a favor da diversidade no esporte, colocando-se em frente aos holofotes e se sujeitando às críticas de uma parcela ainda conservadora da sociedade. Aproveitando o status de superatletas, elas mostram uma alternativa viável ao medo e têm pavimentado o caminho para a aceitação dentro e fora das quadras.
 

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