Só o Brasil sofre com críticas à Vila Olímpica? História mostra que não
Bruno DoroDo UOL, no Rio de Janeiro
Quem já recebeu um apartamento novo da construtora sabe: você pode esperar qualquer coisa ao abrir uma torneira ou apagar uma luz. Às vezes a ligação não foi feita, não há energia, as conexões estão vazando e o vaso sanitário simplesmente não funciona como deveria. É mais ou menos isso que as delegações que estão chegando à Vila Olímpica da Rio-2016 estão encontrando.
Os 31 prédios que foram construídos para o evento acabaram de ser entregues. O Comitê Organizador tomou posse do local em maio, mas ainda não conseguiu concluir a limpeza e os testes das instalações. Segundo o diretor de comunicação da Rio 2016, Mario Andrada, só na quinta-feira tudo estará perfeito.
Mas, afinal de contas, isso é exclusividade do Rio de Janeiro? A história mostra que não.
Os Jogos de Inverno de Sochi-2014 começaram em meio a críticas severas sobre infraestrutura. O caos que atletas encontraram ao chegar à cidade era tão grande que uma hashtag viralizou. E memes e mais memes passaram a circular pela internet com fotos bizarras. Algumas, com fotos de vasos sanitários lado a lado – em locais que ainda estavam em construção.
O mesmo aconteceu na Índia, para os Jogos da Comunidade Britânica em 2010, em Nova Déli. Ao chegar, delegações de pelo menos quatro países reclamaram das condições de higiene dos prédios. Banheiros e quartos sujos também pipocaram pelas redes sociais. Até Londres-2012 não se salvou: os mesmos indianos que sofreram em 2010 reclamaram dois anos depois. Segundo eles, se sua vila olímpica tinha problemas de limpeza, a vila inglesa era minúscula e não dava aos habitantes espaço para se locomover nos quartos – principalmente quando malas e equipamentos entravam.
E sobre vazamentos? Essa é a uma reclamação comum. Nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara os atletas tiveram problemas – durante o Panpan, uma brasileira teve um incidente com tubulações estourando. Em Olimpíadas, o chefe de missão do Comitê Olímpico do Brasil, Bernard Rajzman, disse que já encontrou um cenário de caos. “Em Atenas-2004, tivemos de comprar rodos de emergência porque os vasos sanitários transbordavam”, lembra.
Esses exemplos mostram que críticas são comuns na abertura das Vilas. Não que os problemas cariocas devam ser ignorados.
Vazamentos, vazamentos e mais vazamentos
Quem mais criticou as condições da Vila brasileira foi a delegação da Austrália. Ao preparar um dos prédios para receber seus atletas, os australianos fizeram um teste de stress do sistema. Isso significa que acionaram todas as luzes, ligaram todos os eletrodomésticos, abriram chuveiros e deram descarga. Ao mesmo tempo. O resultado foi desastroso.
“Quando a gente começou a fazer isso, checar descargas e banheiros é que a gente viu os problemas aparecendo. Vimos que a água começava a descer do teto, infiltrações, e vimos que não poderíamos ficar em um lugar assim”, contou Kitty Chiller, ex-atleta do pentatlo moderno, que hoje é a chefe de missão do Comitê Olímpico Australiano.
O resultado: australianos deixaram a Vila no domingo e chamaram o lugar de inabitável. A resposta dos brasileiros foi rápida. Hoje, 630 homens trabalham 24 horas por dia para melhorar as condições encontradas pelas delegações. Até Chiller admitiu avanços: “Eram 200 problemas. Hoje são cinco”.
Furtos e cheiro de gás
Mas não foi só isso. O UOL Esporte conversou com atletas (que não se identificaram) de dois países que relataram problemas diferentes: apartamentos sujos, cheiro de gás nas dependências e falta de objetos nos quartos, como luminárias e almofadas. Também foram feitas reclamações de furtos, incluindo tampas de vasos sanitários e lâmpadas. A própria prefeita da Vila Olímpica, a medalhista olímpica do basquete Janeth, admitiu os incidentes.
A Argentina foi uma das que fez críticas mais duras. Segundo o presidente do Comitê Olímpico Argentino, Gerardo Werthein, dois dos seis andares que seus atletas usariam estavam inabitáveis. Ele falou até mesmo em alugar apartamentos fora do ambiente olímpico para evitar problemas.
Portugueses também disseram que esperam habitações em melhor condição. Membros da delegação holandesa também entraram na Vila com material de limpeza, para agilizar o processo. Brasil, Itália e Estados Unidos admitiram bancaram a limpeza com profissionais próprios, para evitar desgastes.
Tudo pronto na quinta?
Quando, então, tudo ficará pronto? "A gente passa a ter a certeza de que vai entregar a Vila perfeita na quinta-feira. Fica a constatação para sociedade de que vamos reagir", avisou Mario Andrada nesta segunda. “Começaram os Jogos, começaram as reclamações”, resumiu o prefeito. Mas será que, pelo menos na Vila, elas vão parar até a quinta-feira?