Olimpíadas 2016

R. Caio chorou de saudade, quase foi santista e brigou para não ser volante

Lucas Figueiredo/MoWa Press
Rodrigo Caio participa de treinamento da seleção brasileira: fez de tudo para ser zagueiro imagem: Lucas Figueiredo/MoWa Press

Dassler Marques

Do UOL, em Teresópolis

Rodrigo Caio chega aos Jogos Olímpicos como um dos três melhores zagueiros brasileiros jovens. É o mais presente em todas as convocações de Rogério Micale para a seleção sub-23 e será titular na abertura da competição. Algo que, provavelmente, ninguém acreditava ser tão possível quanto ele. 

Um episódio pouco conhecido sobre a história de Rodrigo Caio marcou sua trajetória dentro do São Paulo. Aos 16 anos, logo depois de se recuperar de uma complicada fratura de patela no joelho, ele foi convocado pelo comando das divisões de base para uma reunião. Baseados em relatórios que indicavam que Rodrigo não iria alcançar grande estatura na vida adulta, os dirigentes propuseram que ele fosse jogar como volante. Não foi uma situação simples. 

"Nós tivemos que chamar os pais dele porque ele não queria mudar de posição", recorda Geraldo Oliveira, então gerente do clube, hoje no Desportivo Brasil. "O pai adorou a ideia, mas ele ficou aborrecido. Ficou dois ou três meses emburrados. Depois, se convenceu, trabalhou, foi para a Copa São Paulo e já para os profissionais direto dos juvenis", acrescenta o ex-coordenador técnico Marcelo Lima, que deixou recentemente a direção do Ituano. 

Para ter Rodrigo Caio, São Paulo foi mais rápido que o Santos e burlou legislação

 

Aos 12 anos, quando foi descoberto pelo São Paulo, Rodrigo Caio já apresentava essa mesma versatilidade, um dos pontos que fortaleceram sua convocação para a Olimpíada. Mas, para que o jogador pudesse ser levado de Dracena, cidade do interior paulista, para o clube, houve mais obstáculos. Quem conta a história é o olheiro Aparecido Lopes de Oliveira, mais conhecido como Dozinho. Ele auxiliava os são-paulinos a acharem talentos na região.

"Ele era diferenciado, jogava até de meia direita, eu acompanhava desde os 9 anos", conta. "Uma semana antes de o São Paulo vir aqui, o Santos fez uma avaliação em Andradina e o Rodrigo Caio foi. Eles já queriam levar o garoto para Santos. Como o São Paulo já monitorava, eu liguei para o Geraldo e disse: 'se não for essa semana, ele vai escapar", relata Dozinho, que assegura: Rodrigo, e toda sua família, era de são-paulinos. 

"Eu enviei um funcionário para a observação, nosso olheiro, o Tupã. Ele me ligou de lá no domingo e disse 'o menino é muito bom, mas precisa levar hoje'. Então eu disse 'bota no ônibus e vem embora'. O Rodrigo então chegou com 12 anos, e já deixamos ele para morar", detalha Geraldo. Na época, o São Paulo resolveu arriscar e alojar aquele que seria um zagueiro de seleção, mesmo contra a legislação para menores. Segundo o Estatuto para Criança e Adolescentes, isso só pode ser feito a partir dos 14 anos. 

Na chegada, muito choro e saudades de casa

 

Deixar a cidade de Dracena tão jovem para viver em Cotia não foi uma missão simples para Rodrigo Caio. Longe dos familiares aos 12 anos, o zagueiro que rapidamente mostrava qualidades dentro e fora de campo sofreu de saudades. Para ajudar na adaptação, a mãe do garoto se instalou no Centro de Formação de Atletas, em Cotia. Por lá, viveu ao longo de duas semanas e deu suporte para o filho ir atrás dos próprios sonhos. 

Arquivo Pessoal
Rodrigo Caio com os pais: ajudaram em momentos difíceis imagem: Arquivo Pessoal

Além da fratura na patela do joelho direito, que o tirou de ação por mais de uma temporada aos 15 anos, e de uma ruptura no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, aos 20 anos, Rodrigo Caio precisou lidar com resistências por se expressar bem, ter nome composto e outros detalhes que criaram um estereótipo equivocado de jogador de origem nobre. 

"A mãe dele era professora em Dracena. O pai tinha um mercadinho muito simples, em uma cidade pequena. Eles lutavam com muita dificuldade. Quando ele veio ao São Paulo, a família morava em uma casa que pertencia aos avós, era uma casa muito pequena. Foi sempre uma luta muito grande", recorda Geraldo. 

Rodrigo realmente não cresceu muito, mas virou zagueiro de Olimpíada e Copa América

 

Conforme as previsões de quando tinha 16 anos, Rodrigo Caio não alcançou uma grande estatura para ser zagueiro, mas tem se destacado com 1,83 m. Ele formará a defesa brasileira com Marquinhos, do PSG-FRA, que enfrentou dificuldade semelhante. Na avaliação de quem participou da formação do são-paulino, jogar em mais de uma posição o ajudou para virar um jogador mais completo, com um passe de qualidade para a saída de bola. 

Rubens Chiri/saopaulofc.net
Rodrigo Caio comemora pelo São Paulo em 2013: trajetória sólida no clube imagem: Rubens Chiri/saopaulofc.net

Depois de chegar aos profissionais com algumas aparições na lateral direita, ele se fixou como volante até que Muricy Ramalho, em 2013, deu mais espaço a ele como zagueiro. Desde então, as aparições como meio-campo se tornaram cada vez mais escassas, seja com Juan Carlos Osório, Doriva ou Edgardo Bauza. 

Curiosamente, Rogério Micale vislumbrava mais virtudes para Rodrigo ser volante. Foi assim que ele participou de grande parte das convocações da seleção olímpica, mas a partir de amistosos em março foi colocado como zagueiro e se fixou também com a camisa amarelinha. Depois de compor o grupo na Copa América recente com Dunga, viverá um momento especial nos Jogos Olímpicos do Rio. Na defesa, como sempre acreditou. 

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