Olimpíadas 2016

Odebrecht repete Copa e entrega Vila Olímpica inacabada em cima da hora

Júlio César Guimarães/UOL
Vila Olímpica dos Atletas tem 31 prédios divididos em sete condomínios. Os 3.604 apartamentos devem receber 10.900 atletas durante a Rio-2016 imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

O Consórcio Ilha Pura, formado pela Odebrecht Imobiliária e pela Carvalho Hosken, entregou as instalações hidráulicas e elétricas da Vila Olímpica de atletas apenas há um mês. Os testes mostraram que houve falhas principalmente nestes pontos que causaram a maioria das reclamações das delegações. A Odebrecht é a mesma construtora que entregou o estádio de abertura da Copa, Arena Corinthians, inacabado para o primeiro jogo.

Entre os problemas relatados pelos atletas, estão problemas hidráulicos (vazamentos), instalações elétricas aparentes, falta de iluminação e cheiro de gás. O COI (Comitê Olímpico Internacional) admitiu os problemas em todos os prédios. O comitê organizador do Rio diz que agora 12 deles já estão com problemas resolvidos, e outros 19 ainda estão para ser completos.

A Vila foi entregue ao comitê organizador do Rio-2016 em maio. As instalações elétricas só foram concluídas há um mês. Segundo o comitê organizador, esses itens foram testados recentemente porque havia outras prioridades como construção de um restaurante com tendas. Por isso, as falhas na obra só foram identificadas a poucos dias dos Jogos e no momento em que os atletas chegavam.

"Do ponto de vista teórico, a construtora teria de entregar tudo isso pronto. Mas a gente sabe como é com obra e tem pontos a ser feitos", explicou o diretor de comunicação do comitê do Rio-2016, Mario Andrada, que disse que não era hora de apontar culpados. "Essa conexão de água e luz foi feita há um mês. Não estavam ligadas porque havia outras coisas a fazer."

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, ressaltou também que a operação da Vila ficou a cargo do comitê organizador há três meses. Oficialmente, a Vila foi recebido no dia 15 de junho.

Questionado, o Consórcio Ilha Pura disse que está resolvendo problemas: "A equipe de manutenção da Vila dos Atletas foi acionada para atender a falhas em alguns apartamentos e está realizando os ajustes necessários. O objetivo é manter todos os esforços para concluir estes ajustes de modo que as delegações possam desfrutar da melhor forma da estadia na Vila dos Atletas”

A prefeitura decidiu que a Vila seria no empreendimento Ilha Pura por uma questão de economia. O conjunto de 31 prédios já seria construído pela Carvalho Hosken em um terreno próprio. Pela parceria acertada, o município bancou a infraestrutura em volta do projeto - com custo em torno de R$ 30 milhões -, o que inicialmente seria responsabilidade dos construtores. Em troca, tudo teria que ficar pronto até os Jogos.

O investimento das construtoras foi de R$ 2,3 bilhões por meio de financiamento da Caixa Federal. A Carvalho Hosken e a Odebrecht também participam do consórcio Riomais que construiu o Parque Olímpico. A primeira empresa é doadora de campanha do prefeito Eduardo Paes. Ele ainda aparece em uma lista de políticos supostamente beneficiados pela Odebrecht - apreensão feita na operação Lava-Jato.

A Odebrecht também foi responsável pela construção da Arena Corinthians que sediou a abertura da Copa-2014. Houve diversas críticas da diretoria da Fifa ao andamento das obras que tiveram inclusive um acidente grave com morte de dois operários. Havia obras até a poucos dias antes da abertura.

Depois de toda a polêmica, o estádio também foi entregue inacabado sem parte de sua cobertura, infraestrutura do prédio leste, entre outros pontos.  Houve pequenas falhas nos refletores no primeiro jogo da Copa. Até hoje existem discussões com o clube em relação à conclusão plena da arena. 

Em relação aos dois eventos, há uma diferença: a Vila Olímpica começou a ser construída em 2012, isto é, quatro anos antes dos Jogos. E a informação da prefeitura sempre foi de que sempre estava no prazo. A Arena Corinthians começou tarde porque foi escolhida como abertura após a retirada do Morumbi.

O comitê Rio-2016 não quis falar sobre a possibilidade de cobrança de multas ou indenizações para construtoras pelas falhas. Disse que não é o momento de discutir esses pontos.

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