Olimpíadas 2016

Sem Cielo, natação do Brasil tenta evitar "efeito Neymar" na Rio-2016

CHRISTOPHE SIMON/AFP
Cielo se prepara para a prova dos 50m livres no Troféu Maria Lenk imagem: CHRISTOPHE SIMON/AFP

Guilherme Costa e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

A lesão do atacante Neymar, 24, foi um dos momentos mais impactantes da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil. O jogador do Barcelona sofreu uma fratura na vértebra nas quartas de final, em vitória por 2 a 1 sobre a Colômbia, e ficou fora do restante do torneio. Era o fim da participação do maior astro e da grande referência técnica da equipe local. Em 2016, por motivos diferentes, a natação brasileira também perdeu a figura que acumulava esses adjetivos. Cesar Cielo, 29, até fez índice para os Jogos Olímpicos deste ano, que serão realizados no Rio de Janeiro, mas não conseguiu vaga na competição. A 24 dias do início do megaevento, a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) ainda quer usar o medalhista de ouro de Pequim-2008 na preparação da equipe nacional, mas tenta evitar um “efeito Neymar” no grupo.

Tem muito a ver com isso a paciência que a entidade tem usado com Cielo. A prova em que o nadador ficou fora da Rio-2016 foi realizada no dia 20 de abril, e desde então a CBDA mantém planos de usá-lo nos treinos. O modelo, contudo, dependerá da vontade (e do tempo de recuperação) do campeão olímpico.

“Acho que ali faltou tempo. O Cesar, além de ter um temperamento diferente, tem o tempo dele. Ele é um cara absolutamente obcecado com resultado. Não ficou feliz com ele mesmo. Então, deixa ele se recuperar”, disse Ricardo de Moura, diretor-executivo da CBDA, sobre o episódio envolvendo Neymar.

“Acho que o Neymar ainda é um cara de 24 anos. Ele tem uma experiência, mas vive num mundo de glamour e estrelismo. É diferente. O mundo do futebol é um planeta à parte, e inclusive eu não sei se o jogador de futebol é atleta ou artista”, adicionou o dirigente.

No início de julho, Ricardo de Moura esteve nos Estados Unidos para conversar com o campeão olímpico. Uma das pautas era justamente o papel que o nadador terá na Rio-2016: “O Cesar não vai estar descartado nunca. Conversei com ele há algumas semanas, e a verdade é que ele ainda está impactado pelo que aconteceu. Eu sempre tive um timing com ele, e nós também temos de aguardar um pouco isso”.

A simples existência da conversa e a viagem de um executivo da CBDA aos Estados Unidos mostram a relevância de Cielo para a modalidade. A despeito de não ter se classificado para os Jogos, o atleta ainda é tratado com deferência por dirigentes e até pelos outros nadadores.

Todo esse processo, contudo, tem sido conduzido sem jogar holofotes em Cielo. O nadador preferiu se fechar com a família depois de ter ficado sem a vaga. Até mesmo o contato com outros atletas tornou-se mais raro.

O paralelo com Neymar fica mais evidente nesse aspecto. Na última sexta-feira (08), em entrevista ao UOL Esporte, Vilson Ribeiro de Andrade, 67, que era chefe de delegação da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2014, admitiu que a superexposição do episódio acabou abalando o grupo que ainda estava no torneio – na partida seguinte, válida pelas semifinais, os donos da casa foram atropelados pela Alemanha e perderam por 7 a 1 no Mineirão.

“Chocou. Chocou sim. Você sabe, eles são jovens e vivem do corpo. Não tem uma estrutura de chegar, olhar e dizer, ‘amanhã ele já está andando’. Eles são muito preocupados com essas coisas. Eu tive um caso no Coritiba com o Triguinho. O jogador fraturou a perna pouco antes do fim do contrato. Renovamos o contrato dele no hospital, por que era a única forma de tranquilizar o atleta e a família. Ele depois foi embora, mas deixou um clima muito pesado para todo mundo”, contou Vilson.

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