"Homem mais rápido do Brasil" depende de Waze e Youtube para se virar em SP

Vitor Hugo é um carioca de 20 anos singular. Será o único brasileiro na prova dos 100 metros rasos nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Mas se na pista se sente à vontade, o mesmo não se pode dizer de atividades cotidianas como cozinhar, limpar o chão, lavar roupa e se deslocar. Num dia saiu do treino às 13h e chegou em casa somente no começo da noite – o percurso deveria ser feito em meia hora.
As dificuldades existem porque em dezembro do ano passado Vitor Hugo trocou o Rio de Janeiro por São Paulo. Buscava melhorar o desempenho nas pistas. Deu certo, conseguiu o índice olímpico ao fazer 10s11 no Troféu Brasil de Atletismo, que está sendo disputado em São Bernardo do Campo (SP).
Ele ainda ganhou um bônus com a saída de casa: aprimorou as habilidades domésticas. O principal professor foi a internet.
“Aprendi a cozinhar pelo Youtube. Eu via a mulher fazendo e fazia.”
Mas as aulas virtuais não eram suficientes para dominar os segredos culinários e muitas vezes o atleta precisava de consultoria. Outra vez a tecnologia entrava em ação e Vitor Hugo acionava Thais, a namorada.
“Era por Skype e ela dizia faz isso, tira do fogo. Mostrava e ela via as panelas por Skype ou Facetime. É que ela mora no Rio”.
Com o tempo, o conhecimento na cozinha aumentou. O básico feijão, arroz e frango grelhado não é mais cardápio de todos os dias. Quando recebeu a namorada em casa, Vitor Hugo preparou um frango a parmegiana que rendeu elogios.
Ele também se considera um bom faxineiro. Diz que manda fotos do chão para mãe só para ouvir que “tá branquinho”. Em seguida, confessa que sente até dor nas costas de ficar agachado esfregando o piso.
Pelo direito de ir e vir
Parece estranho para alguém que nasceu no Rio de Janeiro , mas Vitor Hugo chegou a São Paulo sem saber usar o metrô. Toda vez que sai de casa, pede instruções detalhadas aos amigos sobre a linha que deve pegar e em qual estação descer.
Nas ocasiões em que está sozinho o jeito é apelar para o Google Maps ou o Waze. O atleta explica que no Rio de Janeiro morava em Curicica, bairro distante do metrô e acessível por ônibus aos lugares que frequentava: as praias do Recreio e Copacabana e shoppings.
Aliás, Vitor Hugo afirma que não parece carioca. Conta que nunca visitou pontos turísticos como Pão de Açúcar, Cristo Redentor e as escadarias da Lapa. Sobre os dois primeiros, alega que tem medo de altura. Quanto as escadarias da Lapa, admite não haver desculpa.
Este cotidiano dificultou a adaptação em São Paulo. Mas o atleta ficou mais esperto depois do episódio em que penou para chegar em casa. Demorou cinco horas para fazer um percurso de meia hora por ter tomado o ônibus errado e só descobrir o engano no último ponto.
Quando menino, queria correr atrás de bola
O primeiro contato com o atletismo ocorreu quando Vitor Hugo tinha oito anos. Um técnico esteve na escola e convidou os alunos para visitarem o centro de treinamento e fazer testes. A maioria ignorou a oferta.
“Ele chamou todas as crianças, mas fui eu e mais três”.
Os especialistas perceberam o talento do menino que foi colocado para treinar corrida com barreiras. Vitor Hugo odiou. Justifica que vivia caindo e se machucando e depois de um ano desistiu do esporte. Queria mesmo era jogar no Flamengo.
Quando ele tinha 10 anos, foi chamado na cozinha por um tio que praticou atletismo e ouviu um pedido para retornar a modalidade. O garoto aceitou apenas para agradar o parente e até os 15 anos frequentou o centro de treinamento somente para ver os amigos e brincar.
A partir desta idade, começou a vencer provas e viajar para competir. A coisa ficou séria. Bons resultados como juvenil e agora o único brasileiro com vaga nas Olimpíadas na prova mais nobre do evento.
O próximo passo é correr abaixo dos 10 segundos, algo jamais alcançado por um atleta do país. Vitor Hugo acredita que pode ser o primeiro e afirma que um dia vão publicar esta notícia. Talvez seja mais fácil porque na pista de atletismo ele não precisa de Waze para saber onde ir.