Olimpíadas 2016

Quer ficar famoso no Pará? Então, passeie com a tocha olímpica na rua

Gaspar Nobrega/Bradesco
Jornalista do UOL, Antoine Morel foi um dos condutores da tocha em Santarém, no Pará imagem: Gaspar Nobrega/Bradesco

Antoine Morel

Do UOL, em Santarém

Olha aqui, moço. Abaixa aqui, tio. Tira mais essa foto, cara. Mais uma, mais uma...

Quando você é carregador da tocha, é levado por um microônibus até o local onde vai receber a chama de outro condutor. Há um tempo - de 5 a 10 minutos - que você fica sozinho esperando. Esse foi o momento de maior fama na minha vida. Foram tantos cliques - mais de 50, tranquilamente -  que não sabia para onde olhava. Vou exagerar: acho que o Neymar poderia estar ao lado que não faria a menor diferença. 

As pessoas em Santarém, no Pará, onde carreguei a tocha, nesta sexta-feira (17), pararam para ver o fogo passar na rua. Na concentração dos condutores, os instrutores do Comitê Rio-2016 alertavam para o assédio e pediam para não desgrudar da tocha no momento que antecedia a corrida. Nas fotos que estão nos celulares dos santarenos, estou com a mão bem firme para não me separar da tocha. 

Era festa com animação feita por patrocinadores, é verdade. Mas sozinhos eles já vibraram. E vibravam ainda mais quando algum conhecido da cidade corria com a tocha. Tinha esse detalhe ainda: eu era o intruso paulista. 

Arara, o juiz que já apitou jogo do Flamengo, tinha torcida uniformizada

Tiago Carvalho/Coca-Cola
Arara, que já apitou um jogo festivo com a presença de Zico, foi um dos mais festejados no revezamento imagem: Tiago Carvalho/Coca-Cola

"Meu apelido é Arara porque na infância eu falava muito na rua. E o pessoal me deu o nome de Arara", diz Ismaelino Castro, de 86 anos. Na década de 1980, apitou um jogo comemorativo do Flamengo de Zico na cidade. Expulsou Nunes perto do final do jogo. "Eu marquei algo que ele não gostou e ele me xingou de filho da p..." Nesta sexta, era um dos mais festejados e ao carregar a tocha contava com uma torcida que tinha até camiseta própria. 

Cada um que descia do ônibus que levava os condutores, era recebido pelos amigos locais. Inácio, de 15 anos, fez um trabalho na escola para preservar os igarapés no bairro de São Braz. O pai e o tio esperavam-no com o sorriso no rosto. 

Dona Martinha, 81 anos, moradora de uma pequena vila ao lado de Alter do Chão, andava com dificuldade mas agradeceu ao pessoal do Rio-2016 e até cantou dentro do ônibus.

Ser famoso ou não, qual é o peso de carregar a tocha? 

Antoine Morel/UOL
Dona Martinha é moradora de uma pequena vila ao lado de Alter do Chão imagem: Antoine Morel/UOL

Os locais fizeram sucesso, mas souberam compartilhar a festa comigo, o jornalista paulista. Corri quase 500 m e o povo gritava muito e tentava me acompanhar. Durou, no máximo, cinco minutos. Mas foi o bastante para ver que a festa não precisa de uma celebridade para ser feita. 

A representatividade é algo muito questionado no revezamento. Alguns acham que os atletas olímpicos teriam que ter mais espaço (e é verdade), outros acham que uma celebridade faz bem para popularizar a tocha. O fato é que carregar a tocha teve o peso de transformar uma cidade por algumas horas.

Antoine Morel viajou e conduziu a tocha em Santarém a convite do Bradesco

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