Olimpíadas 2016

Preocupado com saque, Bernardinho cria "gincana" para fazer Brasil evoluir

FIVB/Divulgação
Lucarelli fez três pontos de saque na vitória do Brasil por 3 sets a 0 sobre o Irã imagem: FIVB/Divulgação

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Não foi por acaso que a vitória do Brasil sobre o Irã, na última quinta-feira (16), na rodada inaugural da Liga Mundial de vôlei masculino, acabou com dois fortes saques do ponteiro Lucarelli. Tampouco foi coincidência o aproveitamento dos sul-americanos nesse fundamento: foram dez pontos oriundos de serviço – os asiáticos obtiveram apenas dois. O técnico Bernardinho elegeu o saque como principal foco de trabalho para a equipe nacional na atual temporada e criou até uma espécie de "gincana" para fazer com que os brasileiros evoluam.

A atividade é baseada em desempenho individual. No início dos treinos em Saquarema, onde a seleção brasileira está concentrada desde a segunda quinzena de abril deste ano, a comissão técnica mediu o potencial de cada atleta no saque e estabeleceu metas para eles. No fim das atividades diárias, os jogadores têm de praticar serviços e só podem descansar quando somam oito pontos.

Nessa conta, por exemplo, um ace (saque direto na quadra adversária) vale dois pontos e um saque que quebra o passe da defesa vale um ponto. Em contrapartida, dois erros consecutivos ou três acumulados fazem o atleta perder um ponto.

Metas individuais servem como bônus. O ponteiro Lucarelli, por exemplo, ganha um ponto sempre que consegue sacar a pelo menos 109 quilômetros por hora – a comissão técnica mediu o serviço mais forte do atleta no início dos treinos, e o auge dele é algo em torno de 115 quilômetros por hora.

“A gente vai fazendo isso porque é uma maneira de criar um desafio, e todo mundo se esforça mais no treinamento de saque para terminar rapidamente e não ficar muito tempo ali. Com isso, todo mundo acaba evoluindo”, contou Lucarelli, que anotou três pontos de saque na vitória sobre o Irã – 3 sets a 0 na Arena Carioca 1, no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. “É um trabalho muito divertido e cria um desafio muito legal. Tanto no saque quanto no passe”, completou.

Mudança ocorreu após derrota na Liga Mundial de 2015

O volume de treino de saque foi uma das principais mudanças promovidas pela comissão técnica do Brasil para a atual temporada da seleção. No ano passado, o fundamento foi determinante na fase final da Liga Mundial de vôlei masculino. O time comandado por Bernardinho, a despeito de ter atuado em casa, acabou em último num grupo que também tinha Estados Unidos e França e foi alijado das semifinais.

“Acho que tudo parte do saque. Pelo menos uns 60% ou 70% do sucesso depende do saque. Se você tiver um bom aproveitamento e quebrar o passe dos caras, facilita muito mais a vida. Isso vai fazer diferença, e é só você ver as outras equipes. Não apenas no saque flutuado, mas em questão de porrada, mesmo”, avaliou o oposto Wallace.

“A gente tem tentado implementar essa filosofia de forçar o saque e ser mais agressivo. A gente sabe que esse é um fundamento muito importante no voleibol moderno. Então, é preciso correr risco às vezes e é preciso lidar com erros a mais, mas sempre forçando”, corroborou o levantador Bruninho.

O novo modelo de treinamento de saque na seleção brasileira criou até um “vilão” para os outros jogadores. Numa lógica em que quem consegue prejudicar a defesa descansa mais cedo, o líbero Serginho virou o terror de quem pratica o serviço.

“Quem faz oito pontos sai do treino e descansa mais, mas às vezes o passe não ajuda muito para que isso aconteça. Quando o Escadinha está do outro lado a gente tem dificuldade”, brincou Lucarelli.

Os treinos não são apenas de potência – a comissão técnica também trabalha a variação de profundidade e estilo no saque. Por esse repertório, Lucarelli acha que o central Éder é o melhor do Brasil no fundamento: “Pelos treinamentos, ele é quem tem mais consistência e força”.

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