Olimpíadas 2016

Impeachment de Dilma vira preocupação extra para segurança da Olimpíada

Cristophe Simon/AFP
Manifestação contra impeachment toma orla de Copacabana. Local é área de competição da Olimpíada imagem: Cristophe Simon/AFP

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

O processo de impeachment da Dilma Rousseff (PT) tornou-se uma preocupação extra para os responsáveis pela segurança da Olimpíada de 2016. O Senado Federal anunciou nesta semana que a votação decisiva sobre o afastamento da presidente deve ocorrer no mês de agosto, o que implica que há grandes chances que ela aconteça durante os Jogos Olímpicos –o evento ocorrerá entre os dias 5 e 21.

A coincidência tornou a operação olímpica de segurança, que já é considerada a mais complexa da história do país, ainda mais complicada. Manifestações de apoio à presidente afastada e também pró-impeachment já estão sendo programadas para ocorrer no Rio de Janeiro, em áreas consideradas estratégicas para a Olimpíada. Isso, obviamente, passou a influenciar no planejamento do evento.

“Obviamente que o impeachment e as manifestações [relacionadas a ele] passam a fazer parte do nosso radar a partir do momento que notícias apontam que as votações no Senado ocorrerão perto da Olimpíada”, admitiu Andrei Rodrigues, secretário extraordinário de Segurança para Grandes Eventos, em entrevista ao UOL Esporte.

Delegado da Polícia Federal, Rodrigues foi escalado pelo Ministério da Justiça para coordenar o trabalho de segurança da Olimpíada de 2016. Ele disse que o planejamento executado por todos os órgãos que atuarão durante os Jogos já leva em conta a possibilidade de manifestações como as ocorridas na Copa das Confederações de 2013 e Copa do Mundo de 2014. Ressaltou, aliás, que os atos não serão proibidos ou reprimidos durante os Jogos Olímpicos. Lembrou, porém, que locais-chave para o evento, como áreas de competição, terão proteção especial.

“Temos que conciliar o direito de manifestação com o direito dos que querem assistir aos Jogos”, afirmou. “Vamos definir os locais estratégicos para o evento e definir também como conciliar os atos e a Olimpíada. Essa conciliação é um dever da segurança pública.”

Sobre o mesmo assunto, Carlos Sobral, presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), disse que todos os direitos serão preservados e admitiu que há uma preparação para um cenário de manifestações. "Não posso revelar detalhes, mas vamos garantir os dois direitos. O da manifestação e a segurança de todos, inclusive os estrangeiros". O seu colega da regional do Rio de Janeiro, Luiz Carlos Cruz, foi enfático em dizer que pode haver repressão e que permitirão as manifestações em lugares distantes dos locais dos Jogos. 

Manifestante prevê mesmo a repressão

Quem foi às ruas na Copa do Mundo e tem participado de atos durante a crise política já se prepara para essa repressão. Militante contra o impeachment, Giselle Tanaka, lembrou de ações violentas da polícia contra manifestantes no Mundial de futebol. Acredita que elas devem se repetir nos Jogos Olímpicos contra aqueles que não concordam com a realização do evento e também contra os que defendem a volta de Dilma Rousseff à Presidência.

“Quem é contra as violações de direitos por causa da Olimpíada também é contra o golpe que afastou a presidente Dilma”, afirmou ela, que é membro do Comitê Popular da Copa e Olimpíada do Rio. “Na Copa do Mundo, houve repressão violenta a atos pacíficos. Na Olimpíada, isso deve se repetir.”

Tanaka disse que a repetição ocorrerá até porque manifestações devem ser convocadas para as proximidades de eventos olímpicos. O presidente interino, Michel Temer, deve marcar presença na abertura da Olimpíada, que ocorrerá no Maracanã, por exemplo. Levando isso em consideração, ela diz que é natural que manifestantes se aproximem do estádio para se posicionar contra ele. “Se ele estiver na abertura, a manifestação deve ir para o Maracanã. A polícia tende a impedir.”

Praia, local de competição, deve ser palco de atos

Além dos arredores do Maracanã, manifestações relacionadas ao impeachment devem ocorrer na orla de Copacabana na época da Olimpíada. A praia é uma área oficial de competições da Rio-2016. Receberá jogos de vôlei de praia, além de provas de maratona aquática, triatlo e ciclismo de estrada.

Bernardo Santoro é integrante do movimento União Conservadora Liberal e milita pelo afastamento definitivo de Dilma Rousseff. Ele disse que, no dia 31 de julho – a menos de uma semana dos Jogos Olímpicos -, seu grupo deve participar de um ato pelo impeachment já marcado para Copacabana. Outros atos devem ocorrer no bairro durante o mês de agosto.

“Esperamos não ter qualquer problema para nos manifestar. A situação do país é mais importante do que qualquer evento. Até que a Olimpíada”, afirmou Santoro. “Esperamos, aliás, colaboração da polícia para nossa segurança. A polícia é nossa amiga. É amiga do país.”

Prefeito do Rio não vê qualquer problema nas manifestações

Questionado sobre as manifestações durante os Jogos, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), disse que elas estão liberadas. Inclusive em Copacabana.

“Brasil é uma democracia. As pessoas podem se manifestar”, afirmou o prefeito. “Eu e todo mundo gostaríamos que o país estivesse em outra situação, mas acho que a cidade estará em clima de festa.”
 

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