Paes culpa Estado e União por problemas em obra olímpica suspeita de fraude
Vinicius KonchinskiDo UOL, no Rio de Janeiro
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, culpou o governo do Estado e o governo federal por problemas na obra do Parque de Deodoro. Executada pela administração municipal, a construção da segunda maior área de competições da Olimpíada está sendo investigada por causa de fraudes que podem ter causado prejuízos de R$ 85 milhões aos cofres públicos. O caso é apurado na Operação Bota-Fora.
Polícia Federal, Ministério Pública e CGU (Controladoria-Geral da União) suspeitam que empresas teriam falsificado documentos para receber por serviços não prestados no canteiro de obras. A investigação está focada nas contas para retirada e tratamento de resíduos da construção. O trabalho, porém, já identificou também que a obra em Deodoro, zona oeste do Rio, começou antes mesmo de o contrato entre prefeitura e empreiteiras ser assinado –fato que já é uma irregularidade, segundo o Ministério Público Federal.
Paes admitiu o início da obra sem o contrato, mas responsabilizou o Estado e a União pelo problema. “A preparação da Olimpíada é uma preparação de sete anos. O governo federal passou quatro anos sem fazer nada em Deodoro, que era uma responsabilidade dele. Passou a responsabilidade para o governo do Estado, que também ficou um ano sem fazer nada”, contou o prefeito. “A prefeitura assumiu no início de 2014 para entregar em meados de 2015. Fez a licitação. A Junta Comercial estava em greve, o consórcio não tinha como formalizar seu registro e começamos as obras. Tinha que começar.”
Segundo Paes, caso a obra não tivesse sido iniciada naquele momento, haveria riscos de atrasos. Disse até que o COI (Comitê Olímpico Internacional) ameaçou tirar a Olimpíada de 2016 do Rio por conta de atrasos no início da construção do Parque de Deodoro. A pressa, admitiu Paes, fez com que projetos fossem elaborados já durante a obra, o que causou problemas.
Sobre a suspeita de fraudes, Paes disse que elas precisam ser apuradas e apoiou a investigação. Lembrou que a prefeitura, a pedidos dos investigadores, já bloqueou R$ 128,5 milhões que seriam repassados a construtoras já por causa das suspeitas. O prefeito disse que não há indícios de participação de pessoas ligadas à administração municipal no caso.
“É muito importante o trabalho que a controladoria está fazendo”, disse Paes. “Nós já bloqueamos os recursos que seriam pagos a construtoras e só vamos pagar quando derem o aval para isso.”
A construção do Parque de Deodoro está orçada em R$ 626,5 milhões. A área vai abrigar competições de canoagem slalom, ciclismo BMX, mountain bike, hóquei sobre grama, tiro e outras modalidades. O dinheiro para a obra vem do governo federal. O contrato para a construção foi firmado pela Prefeitura do Rio.
Procurada pelo UOL Esporte, Consórcio Complexo de Deodoro, responsável pelo projeto, declarou em nota já prestou esclarecimentos e que não há superfaturamento em serviços realizados na obra.
Leia abaixo íntegra dos posicionamentos do consórcio:
"O consórcio responsável pelas obras do Complexo Olímpico de Deodoro informa que já prestou os esclarecimentos necessários às autoridades competentes. O consórcio esclarece ainda que a alteração do custo de transporte de resíduos se deve ao acréscimo da quantidade de material transportado, o qual não estava previsto inicialmente no projeto básico. Tal alteração não impactou o valor total da obra estipulado em contrato."