Brasileiro do handebol vítima de racismo diz ter pesadelos com insultos
Fábio AleixoDo UOL, em São Paulo
Alvo de insultos racistas em uma partida de handebol da liga espanhola no último sábado (06), o goleiro da seleção brasileira César Augusto Oliveira de Almeida, o Bombom, afirmou que desde o episódio está tendo dificuldades para dormir e ainda está bastante revoltado com a situação. O episódio aconteceu durante partida de sua equipe, o Fraikin BM Granollers, contra o Ángel Ximénez Puente Genil.
"Desde sábado venho tendo pesadelos e não estou dormindo direito por causa disso. Sinto uma decepção com o ser humano. Claro que não espero flores nos jogos, você sabe como é a torcida adversária. Mas tudo tem seu limite e este limite foi extrapolado. Fica uma tristeza, uma decepção muito grande", disse Bombom em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
De acordo com Bombom, os insultos aconteceram já perto do fim da partida. Mas o clima ficou tão pesado que o árbitro interrompeu o jogo.
"Por volta dos 18 do segundo tempo, comecei a ouvir alguns gritos relacionados a negro e outros insultos que prefiro não dizer. Neste momento, meu técnico pediu tempo. Vi dois colegas de time revoltados com a situação. Fui até o juiz e pedi para o árbitro relatar isto na súmula para depois tomarmos alguma atitude. Ele me disse que se voltasse a acontecer, iria interromper a partida. Aos 23 minutos, a situação piorou e ele parou o jogo. O que me deixou bem chateado é que tinha um delegado do time deles e uma outra pessoa que, em vez de apaziguar, começaram a me insultar, me chamar de mentiroso", disse Bombom.
"Depois disso, vi que tinha um rapaz fazendo sinal de macaco e comendo banana. Dois senhores ficaram constrangidos e pediam desculpas a todo momento. Isso mostra que não foi todo mundo. Estou procurando fotos deste rapaz para saber qual atitude tomar. Pegaram uma pessoa já, mas foi de forma equivocada. Então quero saber mesmo quem foi até para que este rapaz de quem estão falando não seja injustiçado", afirmou Bombom.
O jogador afirmou também que se reunirá com dirigentes do clube para decidir quais atitudes serão tomadas contra o Ángel Ximénez Puente Genil.
"Vamos entrar com uma denúncia no Comitê Esportivo. Na Justiça Comum não sei se faremos algo. Da outra vez eu perdoei mais fácil, mas do jeito que foi desta vez não dá para engolir", afirmou.
A "outra vez" a que se refere Bombom foi o episódio que aconteceu em 2014, quando defendia o Guadalajara e recebeu insultos raciais em partida contra o Benidorm.
"Infelizmente é a segunda vez que acontece. Mas na primeira foi um caso bem isolado, um menino. Você sabe como é um adolescente. Às vezes, ali no calor, ele não sabe o que está fazendo, quer se mostrar para o outro", disse o brasileiro.
Apesar de ser vítima mais uma vez, Bombom afirmou que não pensa em deixar a Espanha. O atleta está no país há três anos e vive com a namorada Charlotte Svele Larsen.
"Estou superbem aqui na Espanha, vivo muito tranquilo. Depois que isso aconteceu recebi muitas mensagens de apoio de dirigentes, outros jogadores, torcidas organizadas de outras equipes, de pessoas que nem conheço. O mais complicado só foi que quando contei para a minha mãe que vive no Brasil, ela começou a chorar. Mas tem me dado força", completou.
Os insultos racistas foram veementemente condenados pela Asobal, entidade que administra a liga. "A Asobal quer salientar que condena e repulsa energicamente qualquer tipo de discriminação nas quadras de competição, seja por rações de raça, religião, sexo, orientação sexual ou de qualquer outro tipo", disse por meio de comunicado.
"A discriminação não tem espaço em nosso handebol. Por esta razão, Asobal terá tolerância zero com todos aqueles que ultrapassem esta linha", seguiu.
Campeão pan-americano dos Jogos de Toronto (CAN) no ano passado, Bombom deve fazer parte da seleção brasileira que disputará a Olimpíada do Rio de Janeiro neste ano.