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Irmã com Down inspira planos da heroína do Brasil no Mundial de handebol

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Babi, goleira da seleção brasileira, observa a irmã Cássia, que tem síndrome de Down imagem: Reprodução/Instagram

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Kolding (Dinamarca)

Alê marcou o gol de empate no segundo final, mas ninguém discutiu sobre o prêmio de melhor em quadra na estreia no Brasil no Mundial de handebol na Dinamarca. Com 14 intervenções em 38 arremessos da Coreia do Sul e duas defesas de cobranças de sete metros, Babi Arenhardt foi fundamental para o empate na estreia.

Aos 29 anos, a goleira é um dos pilares da seleção que defende o título mundial conquistado em 2013, na Sérvia. A meses de ir para sua segunda edição dos Jogos Olímpicos, a primeira como titular absoluta, ela já faz planos para o futuro. E eles têm tudo a ver a irmã Cássia, de 31 anos, que tem síndrome de Down.

“Na nossa família minha irmã é nosso anjo, nosso porto seguro. Nossa união vem muito dela porque ela é só amor, nada mais. Ela é a mais velha. Nós nascemos com ela ensinando a gente o que era amar. Nada dela tem malícia, pensamento anterior ou planejamento. Ela é o que ela é. Ela é um docinho”, se derrete Babi, em entrevista concedida ao UOL Esporte antes da estreia dramática e brilhante no Mundial.

Cássia é a mais velha da família Arenhardt, de Novo Hamburgo (RS). Babi é a segunda, seguida por Amanda, de 28 anos, e Guilherme, de 25. O grude entre os irmãos só não é maior porque a goleira vive, por conta do handebol, há oito anos na Europa. Ela não sabe quando voltará a viver no Brasil, mas quando o fizer, pretende ajudar a cuidar de pessoas com síndrome de Down.

“Eu tenho em mente um projeto. Queria ter um trabalho dentro de uma faculdade que abrisse espaço para fazer esporte com pessoas com Down. Com psicologia, educação física, neurologista. Está tudo no papel. Não sei quando vou voltar para o Brasil, mas quero iniciar isso”, disse ela.

A ideia foi concebida ao lado da mãe, Rose, que morreu há dois anos. Atleta do Nykobing, da Dinamarca, ela ainda está distante de cumprir o sonho, mas já vê uma realidade melhor para quem tem Down.

“Minha irmã nasceu em uma época em que as coisas eram muito diferentes. Quando minha mãe foi com ela neném no colo o médico falou que ela ia vegetar e viver até os 19 anos. Hoje ela tem 31. A inclusão sempre foi muito difícil. A escola não estava preparada, passamos por ‘n’ coisas que eu podia ficar aqui contando. Hoje ela tem uma pessoa que fica o dia inteiro com ela, que ama trabalhar com isso e você vê que tem pessoas lutando”, disse Babi.

O segredo é a integração. Especialistas defendem que o convívio sem diferenças ajuda no desenvolvimento de quem tem síndrome de Down. Hoje, uma das maiores batalhas dos ativistas, por exemplo, é que todos tenham direito de frequentar escolas convencionais.

“A gente tenta incluir minha irmã no maior número de coisas possíveis. Aqui na seleção todo mundo conhece ela. Meus irmãos levam ela na balada, no cinema... Acho que quando a gente era menor, ela mesma sabia que era diferente. As pessoas olhavam e ela falava: ‘Por que estão me olhando? Meu, sou igual a ti’. Hoje ela não tem mais a sensação de que ela é diferente”, comemora Babi. 

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