Ginasta brasileira que vai à Olimpíada fez vaquinha para bancar treinos
Fábio AleixoDo UOL, em São Paulo
Classificada para a disputa individual da ginástica rítmica na Olimpíada de 2016, Natália Gaudio precisou fazer malabarismos não apenas em suas apresentações, mas também fora das quadras. Com sacrifício e a ajuda de familiares, amigos e até de pessoas desconhecidas conseguiu ter dinheiro suficiente para competir no exterior ao longo deste ano e fazer uma preparação adequada para o Mundial de Stuttgart (ALE), no qual desbancou a compatriota Angélica Kvieczynski para garantir a vaga olímpica.
Sem um grande patrocinador e contando apenas com a verba do programa Bolsa-Atleta (R$ 3.100,00) e ajuda de custo do Centro Olímpico do Espírito Santo, Natália foi obrigada a organizar uma vaquinha para fazer uma aclimatação de duas semanas na Bulgária, orçada em R$15 mil. Ao lado da técnica Monika Queiroz viajou para o país que é uma das referências da modalidade. Da Confederação Brasileira ginástica (CBG) ganhou apenas a passagem aérea. Antes, em abril, parte do dinheiro havia sido fundamental para a sua participação na etapa de Bucareste (ROM) da Copa do Mundo.
Apesar de ter garantido a vaga no Mundial, Natália esteve longe da briga por finais em todos os aparelhos (arco, maça, fita e bola) e terminou apenas no 51º lugar na classificação geral. Beneficiada pelo fato de o Brasil ser país-sede dos Jogos teve direito a vaga, dificilmente estará na briga por medalhas no ano que vem.
"Elaborei um projeto juto com a minha técnica com todos os gastos que teria de hospedagem, alimentação e diárias para o uso do ginásio. Pegamos este projeto e enviamos a amigos, familiares, amigos de amigos e alguns empresários. Fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que quis ajudar. A Confederação tentou ajudar como podia, mas sabemos que o momento no Brasil, com a crise econômica é muito complicado. Mas depois desta classificação vejo que todo o esforço valeu a pena", disse Natália em entrevista ao UOL Esporte.
Com a vaga assegurada para ser a primeira brasileira na competição olímpica da ginástica artística desde Rosana Favilla em Los Angeles-1984, Natália espera atrair patrocinadores para ajudar na sua preparação para o Rio.
"Espero que isso (classificação) abra novas portas", disse a ginasta.
Para fazer um bom papel competindo em casa e tentar a improvável vaga na final de um dos quatro aparelhos ou no individual geral, Natália pretende intensificar os treinamentos e até passar um tempo maior no exterior.
"Terei muito trabalho pela frente. Vou montar um projeto para fazer mais intercâmbios e passar muito mais tempo treinando fora, na Bulgária ou no Azerbaijão (duas referências na modalidade). Talvez precise aumentar um pouco a carga de treinos. E claro, montar uma nova coreografia. Em 2016, quero deixar o Brasil orgulhoso da ginástica rítmica, ajudar a criar um legado", disse a capixaba de 22 anos.
"Estou muito feliz de ter conseguido esta classificação. Parece que estou sonhando. A ficha só vai cair quando eu voltar ao Brasil", afirmou.