Após polêmica, Nuzman promete espaço aéreo fechado durante a Rio-2016
A logística ainda não foi oficializada pelas autoridades nacionais, mas o comitê organizador dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro, já dá como certo o fechamento do espaço aéreo da cidade no período da competição. O assunto foi tema de grande polêmica antes do evento-teste da vela, encerrado no último sábado (22), que aconteceu com funcionamento normal do aeroporto Santos Dumont.
“O espaço aéreo, durante as competições de vela, será fechado. Isso em qualquer Olimpíada é feito. A transmissão para a televisão é feita através dos helicópteros, mas várias compensações terão de ser dadas. Isso é natural: a cidade vai ter de passar por fechamento de ruas e avenidas – esse é o maior evento do mundo, e por isso traz necessidades”, disse Carlos Arthur Nuzman, presidente do comitê Rio-2016, durante evento realizado em São Paulo.
Há dois motivos para o fechamento do espaço aéreo ser uma questão fundamental para a vela nos Jogos Olímpicos: a circulação de aviões em direção ao aeroporto Santos Dumont, que fica a menos de um quilômetro da área de competição, atrapalharia os helicópteros que fazem a transmissão televisiva e poderia influenciar em algumas provas.
Foi o que aconteceu no evento-teste, por exemplo. A classe RS:X teve uma regata disputada com vento na direção norte, o que é uma condição pouco usual na região. Com isso, aviões interferiram diretamente na disputa.
“A gente aprende na escola que o avião tem de decolar e pousar contra o vento. Então ele vem, contorna o Pão de Açúcar, passa baixinho na raia e pousa. Aí o vento que está de três nós passa para 15. A estratégia foi seguir para onde o avião iria”, relatou o brasileiro Ricardo Winicki, o Bimba. “A rajada não pega para todo mundo. Eu me posicionei completamente, mas não peguei. Quem estava em volta de mim caiu, como o argentino e o inglês, ou disparou. Acabou com a minha regata, e eu fui um dos poucos sem vento”, completou.
O evento-teste da vela para os Jogos Olímpicos não teve helicópteros sobre a Baía de Guanabara. Durante a Rio-2016, pelo menos três veículos devem ficar posicionados na área para captar imagens – eles precisam ficar a uma distância considerável em relação à água para que o vento produzido pelas hélices não tenha impacto nas regatas.
Essa necessidade de os helicópteros ficarem muito acima da água é o que os colocaria na altura normalmente usada pelos aviões em rota direcionada ao Santos Dumont. Esse assunto gerou enorme polêmica em reunião da Cocon (Comissão de Coordenação do Comitê Olímpico Internacional para os Jogos Olímpicos) realizada em 10 de agosto. Segundo o jornal “O Globo”, o secretário-geral do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, e o israelense Alex Gilady, integrante da comissão, bateram boca de forma ríspida sobre o assunto e causaram o encerramento precoce da sessão.
A discussão aconteceu porque o governo federal havia se comprometido a fechar o espaço aéreo do Rio de Janeiro já na semana do evento-teste, mesmo se fosse por apenas uma hora por dia. Depois, alegando falta de tempo para montar uma operação diferente, as autoridades locais desistiram.
Na última segunda-feira (24), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), voltou a dizer que o espaço aéreo será fechado. No entanto, ele não deu detalhes sobre o que a cidade pretende fazer para realocar a operação. Atualmente, a discussão é sobre impedir operações na região durante três ou quatro horas por dia.
A compensação é realmente o maior problema nessa história. Até aqui, nenhuma das autoridades envolvidas deu qualquer detalhe sobre o plano para fechar o espaço aéreo. “Não somos nós que decidimos. Nós apenas transmitimos a necessidade, e os órgãos do governo federal vão decidir”, disse Nuzman.