Magnano sabe o que precisa para Olimpíada: protagonistas na NBA e seleção
Rubén Magnano tem 60 anos e está há mais de cinco anos no comando da seleção brasileira. Na próxima semana, ele tem a Copa América pela frente. Mas a cabeça dele está 12 meses à frente, já na Olimpíada de 2016. O treinador argentino já faz planos para seu trabalho até lá, demonstra otimismo na conquista de uma medalha, mas também não esconde suas preocupações.
E a principal delas é saber em qual estágio os jogadores chegarão para o início da preparação. A incerteza sobre o destino de Marcelinho Huertas – ainda sem clube –, a recuperação de Anderson Varejão após ruptura do tendão de Aquiles, a quantidade de minutos que Tiago Splitter pode ter em sua nova equipe, o Atlanta Hawks, e o fato de Leandrinho não ter tanto espaço no Golden State Warriors ligam um sinal de alerta no treinador. Magnano precisará que todos os atletas sejam protagonistas na seleção e não coadjuvantes, como muitas vezes acabam sendo em suas equipes. Hoje na NBA, só Nenê - no Washington Wizards – é titular incontestável.
“Tive jogadores dentro da seleção com uma performance muito boa. Eles foram embora, jogaram poucos minutos na temporada seguinte e quando voltaram à seleção era como se tivessem esquecido o basquete. O que você não joga, não recupera. É difícil trocar o chip em 25, 30 dias. Tentamos isso, mas não é fácil. Prefiro que eles joguem. Se conseguem ser protagonistas é ainda melhor, porque na seleção você precisa que eles sejam protagonistas. Rezo para que nossos jogadores joguem, que pelo menos joguem”, disse o treinador em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
Campeão olímpico com a Argentina em 2004, Magnano também sabe o tamanho da pressão com a qual os atletas terão de lidar competindo em casa. Mas pretende fazer disso algo positivo e não algo que atrapalhe o rendimento e acabe sendo prejudicial.
“A pressão vai existir, isso ninguém pode evitar. Mas o que temos de saber é como canalizar esta pressão, para qual lado canalizar. Temos de ser inteligentes. Pressão eu acho coisa negativa, mas tratar de mudar este conceito por um novo desafio que faça atletas sonharem com medalha é interessante. Passa por aí o nosso trabalho. Não é simples, é verdade. Todos os esportes vão sofrer desta pressão. Preciso ter a capacidade de blindar a equipe para que não sofra esta situação”, afirmou.
No bate-papo exclusivo, o treinador revelou ainda que, pela primeira vez em sua longa carreira, permitiu a presença de psicólogos em uma equipe que dirige e que já tem um grupo fechado de 25 jogadores, dos quais sairão os 12 que brigarão pela sonhada medalha olímpica. Magnano exaltou o momento vivido pela seleção, mas mais uma vez não deixou de criticar a estrutura do basquete brasileiro.
AS CHANCES SÃO BOAS PARA A OLIMPÍADA
“O que falo para vocês, falei numa palestra no Comitê [Olímpico do Brasil]. Nossas perspectivas são boas, pelos números e resultados que temos e pela qualidade de jogadores. Não é uma empreitada fácil, mas pelo que vem acontecendo, acho que as possibilidades estão abertas. Temos de sonhar e trabalhar. Trabalhar mais do que sonhar. Nossos atletas têm de começar a pensar como vão chegar para o primeiro dia de treinos, estarem preparados para que nosso trabalho seja importante e interessante.”
VAGA OLÍMPICA FOI UM ALÍVIO
“A primeira sensação foi de felicidade, mais do que pela vaga, mas sim porque o Brasil precisa jogar estes Jogos Olímpicos. É uma vitrine particular, especial, para ajudar nosso basquete a ir mais para frente. Alguma situação de alívio, também. Era muito claro que não passava por questão esportiva. Mesmo jogando a Copa América e ganhando ainda podíamos ficar fora. Não passava por questão esportiva. Felizmente, a CBB trabalhou nisso, conseguiu apresentar o que a Fiba queria e seguimos em frente. A CBB junto comigo e a comissão técnica tomou a decisão corajosa de encarar este processo com jogadores novos, de pouca rodagem em competição internacional e dar força dentro deste trabalho pensando no futuro.”
A PRESSÃO EXISTE PARA A OLIMPÍADA
“A pressão vai existir, isso ninguém pode evitar. Mas o que temos de saber é como canalizar esta pressão, para qual lado canalizar. Temos de ser inteligentes. Pressão eu acho coisa negativa, mas tratar de mudar este conceito por um novo desafio, que faça atletas sonharem com medalha, é interessante. Passa por aí o nosso trabalho. Não é simples, é verdade. Todos os esportes vão sofrer desta pressão. Preciso ter a capacidade de blindar a equipe para que não sofra esta situação. Você vai ver que facilmente temos dez jogadores com capacidade de absorção e atuar frente a um grande público. O fato de jogar em seu país, representando 240 milhões de brasileiros, não é fácil, mas é muito interessante.”
MAGNANO AGORA ACEITA PSICÓLOGOS
“Eu aceitei agora. Nunca tinha trabalhado com psicólogos. Tive esta possibilidade porque o COB ofereceu e resolvi fazer uma experiência. É uma experiência nova para mim. As duas psicólogas montaram uma equipe e o trabalho vai acabar agora depois da Copa América. Achei interessante que os atletas aceitaram muito bem a ideia, sentiram-se confortáveis. Mas tenho de fazer a minha avaliação.”
ELE REZA PARA QUE OS JOGADORES ATUEM
“Lógico que me preocupa [jogadores não atuarem em seus times]. Dentro da seleção sofri situações assim. Tive jogadores dentro da seleção com uma performance muito boa. Eles foram embora, jogaram poucos minutos na temporada seguinte e quando voltaram à seleção era como se tivessem esquecido o basquete. O que você não joga, não recupera. É difícil trocar o chip em 25, 30 dias. Tentamos isso, mas não é fácil. Prefiro que eles joguem e, se conseguem ser protagonistas, é ainda melhor, porque na seleção você precisa que eles sejam protagonistas. Rezo para que nossos jogadores joguem, que pelo menos joguem.”
OS 25 JOGADORES NA CABEÇA PARA A RIO-2016
“É impossível falar em número. Não é um número pequeno, mas também não é tão grande. Posso falar de 25 jogadores facilmente. Jogadores que serão avaliados pensando nesta temporada e no futuro. Todo mundo fala em Jogos Olímpicos como se o basquete acabasse em 2016. Minha ideia e pensamento é mais apetitoso do que isso. Por isso digo que podemos falar de 25 jogadores. Não vamos trabalhar com 25 porque é impossível. Mas a partir daí teremos o número final de atletas para Olimpíada.”
NATURALIZAR LARRY TAYLOR FOI DECISÃO ACERTADA?
“Sem dúvida foi acertada, sobretudo porque nós, eu pessoalmente, tive de tomar a decisão de colocar Raulzinho com 18 anos para jogar. Tinha de dar respaldo de alguém experiente, com muitos anos mais de basquete, que pudesse jogar na posição 1 e 2. No momento era importante. Foi uma decisão acertada 100%. Se tivesse errado, falaria sem problema. Foi uma decisão muito boa. Hoje, teria que avaliar seriamente. Felizmente, pelo crescimento de nossos atletas nesta posição, como Raulzinho, Rafael Luz, Fischer, Benite, há uma concorrência interessante. Hoje, não sei se tomaria esta decisão que tomei tempos atrás.”
COPA AMÉRICA SEM JOGADORES DA NBA
“Não era nossa ideia contar com todos jogadores da NBA e da Europa, além daqueles jogadores que estão se recuperando, os que jogaram muito e os que têm idade mais avançada. Por isso, tomamos decisão de ir com equipe mais nova. Hoje, podemos falar que está tudo certo. Claro que existe um grau de pressão jogando sem ter a vaga ou jogando tendo a vaga. Mas no nosso primeiro dia de treino, há mais de dois meses, nunca falamos da vaga e sim de metas pessoais e coletivas. Assim trabalhamos diariamente.”
O TRABALHO DE BASE PRECISA SER MELHOR
“Todo mundo está olhando para a seleção adulta masculina. Sem medo de errar, eu digo que ela está em um lugar importante no mundo. Mas se olharmos a estrutura e a quantidade de atletas, a quinta posição em um Jogo Olímpico (em Londres-2012) reflete o que acontece embaixo? Não sei se sou um eterno insatisfeito. Mas quantos clubes masculinos temos no Brasil? Não existe mini-basquete, o número de jogadores de 13, 14, 15 anos é muito baixa. Felizmente saiu a Liga de desenvolvimento. Mas tem faixa de 13 a 18 anos que ainda é fraca. Em São Paulo, pode ser bom, mas vamos para os outros 26 estados, o que acontece? Quantos jogos disputam os meninos por ano? Isso é o que falo de estrutura. Não podemos errar e falar que o basquete brasileiro está progredindo de maneira extraordinária.”
BASQUETE ARGENTINO X BASQUETE BRASILEIRO
“Se você falar em números, falamos do Flamengo campeão mundial, equipes do Brasil campeã de torneios americanos de clubes. Se falamos de conquistas de clubes, podemos falar que o basquete brasileiro está à frente do argentino. Mas você sabe quantos clubes tem na Argentina jogando de 8 anos até adulto? 1.300 clubes. Eu sonho que o Brasil tenha esta estrutura, que chegue um dia em que o Brasil tenha dois mil clubes jogando. Esse é meu sonho. Se conseguirmos despertar vontade dos clubes de fazer basquete, o Brasil vai dar um salto de qualidade e quantidade.”
QUEM É O ÍDOLO DO MAGNANO?
“Tenho um ídolo. Tenho como ídolo o general San Martín, libertador da América. É muito interessante sua vida como patriota, como pessoa. Tudo o que ele fez não só por nosso país, como pela América junto com Simón Bolívar. Tem uma história importante e espero que muitos argentinos sigam este exemplo de governante. Era militar, mas tinha função política. Para mim é um ídolo. Sem dúvidas levo lições dele para o basquete. ‘Será o que deva ser, ou não será nada’. Falo para os atletas que a verdadeira mudança dos atletas estará neles mesmo e qualquer mudança virá a partir deles. Respeito, solidariedade. Tratamos de colocar isso na hora de jogar, isso não se negocia. Eu falo para eles que ninguém joga com esforço do outro, se eu me esforço e o outro se esforça, nós nos esforçamos para conseguir algo. Peguei estas coisas da história do personagem, passar confiança a seus soldados, acreditar na empreitada que vão buscar. Acho que até inconscientemente recebo isso. Eu não sei em que parte do livro está, mas recebo inconscientemente. Eu li e trato de ler e me informar sobre este personagem.”
HÁ PROBLEMAS FINANCEIROS PARA A SELEÇÃO?
“Em absoluto. Eu estou mexendo muito com a seleção adulta, estou a cargo dela. Eu não tenho que falar nada. Falaria sem problema. Mas a mim nunca faltou nada em termos de viagem. E também tivemos um parceiro importante que foi o Comitê Olímpico do Brasil, que sempre deu força.”
CONTINUIDADE APÓS 2016
“Não parei para pensar no que vai acontecer depois do Jogos Olímpicos. Hoje não me permito pensar nem um passo a mais. Vamos avaliar o que pode acontecer. Hoje está tudo parado, não estou pensando além disso, estou bem tranquilo. Eu nunca falo nunca. Não sei o que pode acontecer.”
SUCESSOR NA SELEÇÃO
“Nomes próprios não, mas não tem que pesquisar muito. Tem pessoal perto de mim que vem trabalhando há muito tempo na seleção e seriam pessoas indicadas para continuar, sem dúvida. A experiência internacional, o grau de percepção que tem ano a ano é um valor que não se compra na banca de jornal. Essa convivência, você não consegue. Não é só mexer com basquete. E eles fizeram um estágio de muitos anos para pensar que o Brasil pode ficar em boas mãos no futuro. Eu não falo em nomes próprios. Temos estafe de pessoas que pode se escolher. Ficará a cargo dos dirigentes escolher quem vai ter a continuidade.”