Não é fácil. Entenda por que duvidar da presença de Anderson no Rio-16
Maurício DehòDo UOL, em São Paulo
A Confederação Brasileira de Taekwondo revelou que o astro do MMA Anderson Silva retomou os planos de disputar uma Olimpíada. Em uma carta divulgada pela entidade, o ex-campeão do UFC revela sua vontade de disputar os Jogos do Rio, em 2016, lutando a arte marcial em que é faixa preta – e uma das que foi definitiva para seu estilo e sua fama nos octógonos. Mas, há pouco mais de um ano da competição, a missão é quase impossível.
Para realizar essa meta, o currículo vencedor no MMA fica de lado. Além do desafio técnico de se testar em outra modalidade de luta, ainda que tenha experiência treinando na academia, Anderson teria de passar por uma maratona de competições só para integrar a seleção brasileira. E, dentro dela, ainda precisaria de resultados internacionais de destaque para ser escolhido para uma vaga olímpica.
Técnico da seleção brasileira adulta, Fernando Madureira explica que, além da licença de lutador de taekwondo, Anderson precisaria ao menos de bons resultados nacionais até chegar à seletiva que leva à seleção.
Para avançar a tanto, o lutador do UFC precisaria participar de competições como estaduais ou o Campeonato Brasileiro para, de acordo com os resultados, entrar na lista dos 8 melhores do país. Desta forma, poderia competir no Grand Slam que forma a seleção. Hoje, os três melhores lutadores vão para a equipe, mas não há vaga fixa.
“Os três primeiros do Grand Slam são considerados da seleção. Mas não é uma vaga garantida. Queremos que eles fiquem em situação de desconforto, para eles trabalharem mais ao saberem que há outros querendo a vaga”, diz Madureira. O Grand Slam, este ano, aconteceu em março, e Maicon Siqueira venceu. Segundo colocado, Guilherme Félix é o melhor ranqueado do Brasil e deve ser o representante do país no Pan do Canadá.
Estar na seleção também não é sinônimo de vaga olímpica. O taekwondo olímpico tem oito categorias, quatro masculinas, quatro femininas. Mas o país sede só conta com quatro lugares garantidos. Isso significa que, mesmo que Anderson consiga o feito de ser o número 1 do país em seu peso, ainda teria de convencer os técnicos da seleção a escolhê-lo para uma das duas vagas - contra atletas que estão há anos em campanha olímpica.
Para não depender dessa escolha, Anderson até poderia tentar a sorte e apostar no ranking mundial. Afinal, os seis melhores de cada categoria olímpica (obedecendo o limite de um atleta por país) ganham a vaga. O problema é que o lutador de MMA precisaria começar a ganhar pontos imediatamente - e ainda assim não ter tempo para ir aos Jogos. Ele teria de somar pontos suficiente para ser um dos melhores do mundo até dezembro, quando fecha a lista da Confederação Internacional.
Para complicar ainda mais as coisas, não basta dominar só uma categoria. O taekwondo tem oito pesos diferentes em cada gênero, com rankings mundiais distintos. Mas na Olimpíada, são apenas quatro divisões. Por isso, é em um ranking mundial paralelo, que mescla atletas de diferentes categorias, em que Anderson precisa se destacar. Lembrando que resultados estão sendo acumulados desde o início do ciclo olímpico, em 2013.
Nesse quadro, a única chance real do Spider seria um dos dois convites da CBTKD. Nesse caso, a fama dos octógonos teria de valer mais do que o esforço de lutadores com melhores resultados e chances reais de medalha. De acordo com o técnico, isso não vai acontecer. Um fato, porém, serve como alerta para que as regras possam ser dobradas para o astro do UFC: na última semana, a Confederação anunciou que garantiu uma das vagas por convite exatamente para a categoria acima de 80 kg, em que Anderson competiria.
Madureira afirmou que haverá um processo interno, cujas regras ainda serão definidas, para escolher quem serão os contemplados. Ele adiantou que os atletas com melhores resultados devem se enfrentar entre si algumas vezes para definir para quem vai a vaga direta. Como comparação, hoje o atleta com os melhores resultados do país no +80kg é Guilherme Felix, em 18º lugar.
O doping
Como se sabe, Anderson Silva enfrenta um caso de doping e, por enquanto, está parado em suas atribuições como lutador de MMA, suspenso preventivamente e aguardando julgamento em maio. Apesar de ser um atleta que se mantém constantemente nos treinos – mesmo sem luta marcada -, já falou em retornar ao octógono apenas em 2016, aparentemente conformando-se em cumprir uma suspensão que deve variar de nove meses a um ano e meio por conta dos esteroides encontrados em seu organismo antes do UFC 183.
Mas, o doping a princípio não é a questão que mais afeta o brasileiro. Isso porque a decisão sobre seu futuro é feita pela Comissão Atlética de Nevada (NSAC), que regulamenta os esportes de luta em Las Vegas. Mesmo sendo uma entidade que é exemplo para as outras que trabalham com esportes de luta, ela não é filiada à Wada (Agência Mundial Antidoping) e, portanto, a pena se aplica ao estado de Nevada e às suas filiadas – além da longa lista de entidades que seguem as punições aplicadas pela NSAC nos EUA e no mundo -, mas não vale em nível global.
Caso Anderson Silva tivesse sido suspenso por um órgão filiado à Wada, a história seria diferente. “Quando um atleta é suspenso por doping em uma modalidade, ele é suspenso do esporte em geral. Ele é obrigado a cumprir a suspensão dele e, caso seja excluído de uma modalidade, ele não poderá mais competir em nenhum outro esporte”, explicou o médico Eduardo De Rose, membro do Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional (COI) e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).