ONG dos Grael diz não e governo do Rio fará nova licitação para limpar baía
O secretário estadual do meio-ambiente do Rio de Janeiro, André Corrêa, anunciou na tarde desta segunda-feira que fará uma licitação para o programa de coleta de lixo flutuante na Baía de Guanabara. Pela manhã, o Instituto Rumo Náutico, criado pelos velejadores da família Grael, confirmou que não aceitaria o acordo com o governo do Estado do Rio de Janeiro para conduzir a ação.
O conselho diretivo da entidade se reuniu para discutir o contrato emergencial proposto pela Secretaria de Estado do Ambiente para que o IRN fosse o gestor do projeto de coleta de lixo, parado desde o início do mês. A decisão de não assinar o acordo foi unânime. O convênio teria o valor de R$ 20 milhões, válido por 18 meses, em regime emergencial e sem a necessidade de licitação. O plano envolveria a construção de cinco novas barreiras para segurar o lixo que chega à Guanabara em rios e recolocar em circulação dez barcos equipados para coletar objetos que permanecem boiando.
“Eu fiquei surpreso. Estava discutindo o acordo há 60 dias. Eu imaginava que poderia fazer parceria. Provavelmente, o clima político no Brasil, em que todo mundo é suspeito, assustou os Grael e eles resolveram voltar atrás”, afirmou o secretário ao UOL Esporte. “Entendo a decisão. Isso mostra que são pessoas sérias e que não querem se aproveitar. Mas ainda quero contar com a colaboração do Projeto Grael. Não teremos um convênio, mas eles têm conhecimentos técnicos da Baía de Guanabara que ninguém tem”, completa.
Segundo o secretário, o não da ONG vai atrasar o reinício do processo de limpeza do local. Ele informou que serão necessários entre 60 e 70 dias para criação do edital de licitação e mais dois meses para que o processo seja concluído. O problema é que o evento-teste da raia olímpica está marcado para agosto. "Não estou tranquilo em relação à limpeza da raia que será usada até lá. Podemos tentar outras medidas emergenciais”, admite.
O não dos Grael
O acordo entre o Instituto Rumo Náutico, gestor do Projeto Grael, que promove educação ambiental e capacitação esportiva e profissional para crianças carentes, foi anunciado na quarta-feira passada pela Secretaria de Estado do Ambiente. Na sexta-feira, porém, membros do conselho diretor se manifestaram contra uma contratação, principalmente sem licitação. O temor era de que o nome dos velejadores (presidente do Instituto, Torben é bicampepeão olímpico e seu irmão, Lars, que faz parte do conselho, é duas vezes medalhista nos Jogos) fosse usado para justificar fracassos no processo de limpeza.
Por isso, o IRN decidiu não assinar o contrato. Os responsáveis, porém, dizem que o Instituto teria condições de gerir o projeto, que foi criado com consultoria do mais velho dos irmãos Grael, Axel, engenheiro ambiental e, atualmente, vice-prefeito de Niterói. “O Projeto Grael já deu deu uma grande contribuição para a limpeza do lixo flutuante ao elaborar o projeto. Mas, embora tenhamos a expertise para gerenciar o programa, não compete ao Projeto Grael fazer esse trabalho no momento. E o risco institucional era grande. Não valia a pena neste momento”, explicou Torben Grael ao UOL Esporte.
O projeto foi desenvolvido depois que o ex-secretário do meio-ambiente do Rio, Antônio da Hora, criticou ecobarreiras e ecobarcos, dizendo que eram ineficientes. Ele anunciou, no dia 3 de março, a suspensão do investimento nos equipamentos e declarou em nota que a ação dos ecobarcos era "para inglês ver".
O novo plano conta com o auxílio de tecnologia holandesa para prever a movimentação do lixo flutuante e promete uma maior eficiência na ação dos ecobarcos e das ecobarreiras para monitorar a situação das áreas que serão usadas durante os Jogos Olímpicos. “A ação do Projeto Grael não seria despoluir a Baía de Guanabara, mas uma medida para oferecer uma raia mais justa e igualmente competitiva para os atletas. Não é a nossa principal vocação gerir o projeto de coleta de lixo flutuante, mas nos manteremos à disposição do Estado, em prol de uma Baía mais digna para todos os usuários”, fala Lars Grael.
No meio da polêmica, Axel Grael disse que apoiou a decisão do conselho da entidade. "Comecei a minha vida de militância ambientalista há 40 anos, lutando pela Baía de Guanabara, e continuarei fazendo. O Projeto Grael tem sido um importante canal de contribuição para isso e é importante que continue a motivar os seus alunos a se engajarem nessa luta e que contribua sempre com as iniciativas de despoluição. Mas, isso deve ser feito dentro das vocações e das limitações institucionais da nossa organização. A decisão do Conselho Diretor do Instituto Rumo Náutico é prudente e correta”.
O novo plano de limpeza da Baía de Guanabara para a Olimpíada de 2016 terá três fases. A primeira consiste em recolocar em circulação dez ecobarcos e construir cinco ecobarreiras até agosto, mês do evento-teste de vela da Rio-2016. As outras duas fases, que consistem em construção de mais ecobarreiras e no aumento da frota de ecobarcos, focará a limpeza da área de competição dos Jogos Olímpicos. Os ecobarcos são embarcações que circulam na Baía de Guanabara recolhendo lixo flutuante. No novo programa, os barcos serão guiados por um sistema de monitoramento de marés e ventos doado ao governo do Rio pela Holanda. Assim, o Estado espera que o recolhimento do lixo seja mais eficiente. O governo do Rio informou que as ecobarreiras que serão instaladas nos rios que desaguam na baía serão mais fortes que as anteriores e não serão rompidas por chuvas ou barcos. O lixo retido passará a ser recolhido de forma mais eficiente também. Novo programa de limpeza da Baía de Guanabara
Três fases visando à Rio-2016
Ecobarcos guiados por sistema holândes
Ecobarreiras reforçadas
* Atualizado às 17h30