! "Fiz vídeo porque engoli muita mentira", diz ex-atleta da seleção olímpica - 27/02/2015 - UOL Olimpíadas

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"Fiz vídeo porque engoli muita mentira", diz ex-atleta da seleção olímpica

Daniel Brito*

Do UOL, em Brasília

Havia meses que a paulista Élora Ugo Pattaro, 29, pensava em produzir um vídeo desabafo da situação da esgrima no país. Consumou o ato na última quarta-feira, 25, e publicou na internet. As redes sociais amplificaram suas críticas sobre a má gestão do dinheiro público no esporte e as condições oferecidas aos atletas que se preparam para representar o país nos Jogos Olímpicos do Rio-2016.

Élora está no litoral do Rio Grande do Norte, numa espécie de exílio voluntário. Foi fazer um mochilão e não tem previsão para voltar para São Paulo, onde mora. “Desde julho do ano passado eu vinha pensando em escrever um texto para contar essa situação. Passei anos engolindo mentiras dos dirigentes. Até um certo dia que acordei no meio da noite com a ideia de fazer um vídeo”, contou a ex-esgrimista.

Gravou o desabafo na terça-feira, 24, submeteu a três amigas, uma delas documentarista, que aprovaram a mensagem e a encorajaram a publicar na internet. “Não fiz calculando qual seria a reação das pessoas, foi visceral, e é o que se passa na cabeça de todos os atletas da esgrima hoje.”

Élora fala em corrupção na CBE (Confederação Brasileira de Esgrima) na filmagem, mas não faz acusações diretas a nenhum dirigente. "Apesar de eu não ser uma atleta que iria com certeza ganhar medalha, eu não quero representar o meu país dessa forma, eu tenho vergonha de competir pelo Brasil, sabendo dessas coisas. Tenho vergonha dessas pessoas que são coniventes e concordam com o que está acontecendo", diz no vídeo, emocionada.

No vídeo, ela anunciou que estava pondo um ponto final na sua carreira como atleta. Até então, integrava a equipe nacional que treinava para competir no Rio, em 2016. Desde 2003, ela representava o Brasil em competições internacionais. Em 2014, fora vice-campeã sul-americana, e, no currículo, acumulava participações nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo-2003 e Guadalajara-2011.

Em 2013, Élora promoveu uma vaquinha na internet para angariar fundos para treinar fora do país. A intenção era arrecadar R$ 5 mil, mas ela conseguiu R$ 8 mil. Neste mesmo ano, a CBE foi contemplada com R$ 1,1 milhão de convênio com o Ministério do Esporte. A pasta informou que se encerrou em 16 de fevereiro e a confederação tem até 17 de abril para apresentar a prestação de contas.

A ex-atleta reclama que os médicos que atendem os atletas em São Paulo o fazem como que por favor, porque a CBE não paga aos profissionais. “Houve, também, casos de atleta que chegaram em uma competição e a confederação não havia feito a inscrição dele. Viajou, mas não competiu”, relatou.

“Todos na esgrima brasileira estão revoltados com alguma coisa, mas eu me envolvi demais, tive brigas homéricas dentro da confederação por melhores condições. Em 2013, um grupo de atletas cobrou da direção mais transparência, porque a gente via que tinha dinheiro de Lei Piva, patrocínio da Petrobras, convênios com o Ministério do Esporte, mas não se traduzia em investimento nos atletas”.

O presidente da CBE, Gerly dos Santos, e o vice, Ricardo Machado, foram procurados para comentar as declarações de Élora, mas não responderam à reportagem.

Ela conta que abriu mão de pleitear a bolsa atleta a que tinha direito pela medalha de prata no Sul-Americano do ano passado, no Chile. Diz que está recebendo diversas mensagens de amigos a parabenizando pela coragem de se expor, teme que suas queixas possam prejudicar os atletas, mas não foi procurada por ninguém da confederação desde que o vídeo entrou na rede.

“Vão fazer vista grossa, porque eu não sou importante para eles, porque não era uma atleta com chance real de ganhar medalha em 2016. Longe de mim achar que mudaria o mundo com este vídeo”, disse. 

*Colaborou Gustavo Franceschini

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