"Vergonha de competir pelo Brasil", diz esgrimista da seleção olímpica
A esgrimista paulista Élora Ugo Pattaro, 29, gravou um depoimento e publicou na internet em que ela anuncia sua desistência de participar da preparação para os Jogos Olímpicos do Rio-2016, pela total falta de apoio, à seleção. O jornalista José Cruz foi o primeiro a reproduzir as críticas da atleta em seu blog no UOL Esporte.
No vídeo de pouco mais de cinco minutos, a atleta foi taxativa: “Apesar de eu não ser uma atleta que iria com certeza ganhar medalha, eu não quero representar o meu país dessa forma, eu tenho vergonha de competir pelo Brasil, sabendo dessas coisas. Tenho vergonha dessas pessoas que são coniventes e concordam com o que está acontecendo”.
“Eu estou, pelo menos eu estava na equipe que se prepara para 2016. Eu saí da equipe, porque cheguei em um ponto em que estou completamente sem ajuda, sem patrocínio. Acho que, em grande parte, porque me reuni a um grupo de esgrimistas que pedia transparência, porque não entendemos como a verba estava sendo investida e eles não quiseram nos dizer”, afirmou, no início do depoimento.
Élora representou o Brasil em algumas das mais importantes competições internacionais da esgrima mundial. Em 2004, compôs a delegação brasileira nos Jogos de Atenas, no qual disputou o sabre e caiu na primeira rodada. Ainda disputou o Pan de Santo Domingo-2003 e de Guadalajara-2011, com o 6º lugar no sabre por equipes em 2011 sendo sua melhor colocação. Em 2003, ela foi vice-campeã mundial cadete.
“Eu estou na esgrima desde criança, eu vi muita gente deixando se corromper. Pessoas próximas, técnicos, pessoas com quem convivi desde sempre, chega até ao cúmulo de corromper o próprio atleta. Ele [atleta] tem que abaixar a cabeça, tem que ficar nessa situação humilhate e precisa ficar quieto, ir contra seus colegas, e fazer coisas que não são dignas com o atleta ou com os Jogos Olímpicos”, afirmou.
“Como atleta, raramente, o atleta tem a oportunidade de dizer alguma coisa. Porque o atleta, apesar de ser muito forte [fisicamente], ele é muito frágil, é muito fácil acabar com a carreira de um atleta de uma noite para o dia. A gente não tem poder, a gente foi condicionado a seguir regras a vida inteira”, continuou Élora.
“Olimpíada virou mais uma maneira de ganhar dinheiro, de super faturar, de explorar, de enganar a gente mesmo, é horrível que estejam usando o esporte e os atletas. É horrível fazer parte disso”, lamentou, muito emocionada, a esgrimista. “Meus dois poderes são de poder falar tudo isso e o poder de escolha. Se a minha energia vai alimentar isso, eu tenho o poder de não participar disso e estou fazendo a minha parte”, finalizou, com um sorriso triste.