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Qual é o tamanho da ameaça do zika vírus aos Jogos Olímpicos de 2016?

Do UOL, no Rio de Janeiro

10/02/2016 06h00

Esqueça o andamento das obras, o custo ou a preparação das instalações esportivas. Esqueça a segurança, limpeza da Baía de Guanabara ou o trânsito do Rio de Janeiro. A menos de cinco meses dos Jogos Olímpicos deste ano, a maior preocupação em torno do megaevento é um mosquito. Pelo menos quatro países já manifestaram preocupação publicamente (Austrália, Espanha, Estados Unidos e Inglaterra), e o Brasil tem sofrido para evitar que o zika vírus afete a imagem da Rio-2016.

Mas afinal, qual é o tamanho da ameaça que o vírus oferece aos Jogos? Cientistas norte-americanos já chegaram a sugerir o cancelamento do evento, mas autoridades brasileiras ainda tentam contemporizar. Entre o alarmismo de uns e a confiança de outros, sete perguntas ajudam a entender a proporção do problema:

  • Imagem: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
    José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
    Imagem: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

    Por que existe um medo geral sobre o zika vírus?

    O zika vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que é o mesmo responsável pela disseminação da dengue. O temor atual, contudo, tem sido insuflado pela lista de doenças associadas à contaminação.

    Um possível problema associado ao zika, por exemplo, é a microcefalia. Segundo o Ministério da Saúde, até o dia 30 de janeiro o Brasil teve 4.783 suspeitas e 404 casos confirmados da doença que provoca má formação e prejudica o desenvolvimento do cérebro do bebê. Entre os casos contabilizados, 17 têm associação confirmada ao vírus. Outros 709 foram descartados, mas 3.670 estão em avaliação.

    No dia 1º de fevereiro deste ano, a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou emergência sanitária mundial por causa da microcefalia. A entidade declarou na época que havia uma "forte suspeita" de relação causal entre doença e zika vírus.

    Também existe uma possível associação entre o zika e a Síndrome de Guillain-Barré, doença neurológica autoimune que provoca paralisia muscular. Houve um aumento de casos da condição no Brasil em 2015 (29,8% mais internações e 8,1% mais atendimentos ambulatoriais). A OMS diz que existe uma "relação potencial", mas ainda não confirmou se esses episódios foram causados pelo vírus.

    O zika já atingiu 25 países e territórios das Américas, além de Ásia e África. O Brasil é a região mais afetada - a estimativa do Ministério da Saúde é que o país tenha registrado entre 500 mil e 1,5 milhão de infectados no ano passado. A imprecisão deve-se a uma combinação entre sintomas brandos (pelo menos 80% das pessoas não apresentam reações aparentes) e ausência de um exame laboratorial específico para o vírus.

  • Imagem: Venilton Kuchler/ANPr/Divulgação
    Venilton Kuchler/ANPr/Divulgação
    Imagem: Venilton Kuchler/ANPr/Divulgação

    Quais são os tratamentos indicados?

    Na última segunda-feira (08), a OMS disse que há pelo menos 12 grupos trabalhando no desenvolvimento de vacinas para o zika vírus. A estimativa é que um tratamento esteja pronto em até três anos. Entretanto, a falta de conhecimento sobre o comportamento da condição ainda é o principal entrave aos avanços.

    Alguns trabalhos científicos internacionais já associaram a transmissão do vírus, por exemplo, ao contato sexual e até ao leite materno. A Fiocruz identificou o zika ativo na saliva e na urina, o que abriria a possibilidade de via oral, mas isso ainda está em investigação.

    Até o momento, existe a confirmação de transmissão do vírus diretamente pelo mosquito. Portanto, os tratamentos mais indicados são os mesmos de prevenção à dengue: uso de repelente e combate a águas paradas, por exemplo.

  • Imagem: André Motta/Brasil2016.gov.br
    André Motta/Brasil2016.gov.br
    Imagem: André Motta/Brasil2016.gov.br

    Quais são as precauções que o Brasil já tem tomado para a Rio-2016?

    O Brasil ainda não tomou nenhuma atitude específica sobre o zika na Rio-2016. O vírus tem sido tratado como assunto de saúde nacional, e por isso o combate tem seguido roteiro proposto pelo poder público para áreas infectadas.

    A principal ação de prevenção diretamente relacionada aos Jogos Olímpicos será a distribuição de uma cartilha para esportistas que estiverem no Rio. O material já é repassado a turistas na cidade e tem dicas sobre o combate ao Aedes aegypti, como usar repelente, vestir roupas longas e evitar água parada. Também há uma orientação para que as janelas da vila dos atletas fiquem fechadas durante os Jogos.

    Nenhuma aposta, porém, é maior do que o próprio ciclo do mosquito. O Brasil tem um incremento de casos de dengue nos meses mais quentes do ano, e os Jogos Olímpicos serão disputados em agosto. Além das ações urbanas de combate ao Aedes aegypti, existe entre os organizadores da Rio-2016 a ideia de que o período do ano vai colaborar para reduzir o número de casos.

    "Os meses das Olimpíadas coincidem com uma queda muito importante no número de doenças transmitidas pelo Aedes. É uma série histórica de 20 anos", disse Alexandre Chieppe, secretário de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.

  • Imagem: iStock
    iStock
    Imagem: iStock

    Quem vai bancar as ações do Brasil contra o zika vírus?

    Nos Estados Unidos, a administração Obama solicitou ao Congresso um aporte de US$ 1,8 bilhão (R$ 7,02 bilhões) em fundos de emergência para combate ao zika. O valor inclui pelo menos US$ 300 milhões para Agência de Desenvolvimento Internacional e Departamento de Estado, órgãos que apoiarão países mais afetados pelo vírus.

    O combate ao zika no Brasil tem sido feito primordialmente com orçamento público. O comitê organizador dos Jogos Olímpicos, por exemplo, não tem qualquer previsão de verba para essa finalidade.

  • Imagem: AP Photo/Felipe Dana
    AP Photo/Felipe Dana
    Imagem: AP Photo/Felipe Dana

    Quais países já manifestaram preocupação sobre o zika na Rio-2016?

    O comitê olímpico australiano (AOC, na sigla em inglês) foi o primeiro a falar publicamente sobre o temor relacionado ao vírus. A entidade deu uma série de instruções a seus atletas e aconselhou que mulheres grávidas desistam de acompanhar in loco a Rio-2016.

    "Qualquer pessoa que estiver grávida na época dos Jogos terá de considerar os riscos com muito cuidado antes de decidir se vai seguir viagem para o Brasil", disse o AOC em nota emitida no dia 27 de janeiro.

    O comitê olímpico espanhol também cobrou explicações dos responsáveis pela Rio-2016. ?A situação do Rio de Janeiro é preocupante?, avaliou Alejandro Blanco, presidente da entidade ibérica, em entrevista publicada na edição de 9 de fevereiro do jornal ?AS?.

    Outros países tiveram reações mais contundentes. Segundo o canal "Sky Sports", por exemplo, o comitê olímpico do Quênia já até cogitou liberar seus atletas de comparecer ao evento. "Obviamente, não vamos nos arriscar se o vírus atingir níveis epidêmicos", declarou o presidente da instituição.

    Também houve manifestação de preocupação no comitê olímpico dos Estados Unidos (Usoc, na sigla em inglês). "Estamos monitorando de perto a situação através do Centro de Controle de Prevenção de Doenças. Estamos em contato constante com o COI [Comitê Olímpico Internacional] e com os organizadores", disse Peter Sandusky, porta-voz da entidade norte-americana, ao site "Inside the Games".

    A agência de notícias "Reuters" chegou a dizer que o Usoc teria comunicado a suas federações que elas não seriam obrigadas a enviar atletas ao Brasil. Sandusky, contudo, desmentiu essa informação.

    "Os relatos são 100% imprecisos. Os Estados Unidos esperam com ansiedade os Jogos, e nós não impedimos ou impediríamos os atletas de competirem pelo país", completou o dirigente.

    Ainda nos Estados Unidos, os cientistas Arthur Caplan e Lee Igel assinaram uma coluna na revista "Forbes" sobre a questão zika. Eles recomendaram que as pessoas não viajem ao Brasil e sugeriram o cancelamento dos Jogos Olímpicos.

    "Quem vai viajar para o Rio em meio a uma epidemia de Zika? Não mulheres jovens, que podem ficar grávidas e dar à luz a uma criança com deficiência. Não homens sexualmente ativos que correrão o risco de transmitir o problema à parceira", diz o texto.

  • Imagem: AFP
    AFP
    Imagem: AFP

    E os atletas, o que dizem?

    A repercussão global sobre o zika também incluiu atletas. A rede britânica "BBC", por exemplo, questionou esportistas locais sobre a ameaça. "É assustador quando eu olho as notícias", avaliou Samantha Murray, que compete no pentatlo moderno.

    "A natação está engajada com as autoridades e continua advertindo o time", completou Daniel Sparkes, chefe-executivo da equipe britânica da modalidade.

    "Se eu tivesse de fazer uma escolha hoje, não iria para as Olimpíadas", adicionou Hope Solo, goleira da seleção de futebol feminino dos Estados Unidos, à revista "Sports Illustrated".

    Atletas de outros países também já falaram abertamente sobre o temor causado pelo vírus. "Vou comprar um repelente bem forte", avisou a velejadora dinamarquesa Anne Marie Rindom à agência "Reuters". "Repelente, rede de proteção, roupas compridas.... Esse tipo de coisa", listou Ronak Pandit, técnico e ex-atleta da equipe de tiro da Índia.

    Curiosamente, o nível de preocupação que os atletas expressam com o vírus também é um bom indicativo do quanto eles valorizam os Jogos Olímpicos. O corredor norte-americano Justin Gatlin disse que vai evitar o Rio de Janeiro antes da competição, mas não quer nem pensar nisso depois: "Se tiver de correr o risco, prefiro correr".

  • Imagem: Reprodução
    Reprodução
    Imagem: Reprodução

    Até o momento, organizadores da Rio-2016 minimizam efeito de epidemia

    A presidente da República, Dilma Rousseff, fez um pronunciamento nacional pedindo união e prometendo ações no combate ao zika vírus. Depois, decidiu passar o Carnaval em Brasília e agendou reunião com ministros para a Quarta-feira de Cinzas (10) a fim de discutir iniciativas.

    De acordo com o jornal "O Estado de S. Paulo", a reunião terá participações dos ministros Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia). As duas pastas desenvolveram um projeto conjunto para combater o Aedes aegypti.

    No Comitê Organizador Rio-2016, pelo menos até aqui, o tom tem sido menos alarmista. "Os Jogos acontecem no inverno, quando a incidência do mosquito é muito baixa. Além disso, vamos seguir com nossas inspeções. Receberemos os atletas com segurança", declarou Mario Andrada, diretor de comunicação dos Jogos.

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