A primeira mulher brasileira campeã olímpica em um esporte individual não agüentou a distância da filha. Chorando, Maurren Maggi, ouro do salto em distância dos Jogos de Pequim, lembrou que sua filha, Sophia, de 3 anos, não queria que ela fosse para Pequim. Para compensar, então, só mesmo o lugar mais alto do pódio.
"Foi muito difícil para sair de casa. A Sophia falava que não queria que eu fosse viajar. Eu disse: 'Filha, a mamãe está indo buscar outra medalha'. Mas ela falava 'não quero, mamãe. Fica comigo'. Então, tinha de ser ouro, eu tinha que fazer valer a pena. Sinto muita saudade, minha filha a razão do meu viver. O ouro é a segunda coisa mais importante da minha vida. A primeira é a Sophia".
A filha é fruto do período mais difícil da vida de Maurren. Em 2003, no auge de sua forma e dona da melhor marca do ano no salto em distância, a brasileira foi flagrada no doping, às vésperas do Pan-Americano de Santo Domingo. Suspensa por dois, ela se afastou do esporte e teve a filha, em dezembro de 2004, ao lado do ex-piloto de Fórmula 1 Antonio Pizzonia. A volta às pistas só aconteceu em 2006, pela falta de perspectiva.
"Quando fiquei de fora das pistas, não pensava em voltar. Mas depois de dois anos e meio, comecei a pensar se tinha alguma coisa para fazer. Estava com minha filha pra criar. E o que fiz durante minha vida inteira foi atletismo. Não estudei, não trabalhei, não fiz nada. Graças a Deus deu certo. Fiquei com medo voltar saltando seis metros (mais de um metro abaixo de sua marca na final olímpica), não 6,50 m ou 7 m. E tudo voltou devagar, passo a passo. Estou de volta, e com a medalha olímpica no peito. É inacreditável", analisa a saltadora.
Segundo ela, a volta foi difícil e dolorosa. Suspensa até o meio de 2005, ela só voltou a competir em 2006. "Não pensava que pudesse voltar do doping e conquistar o ouro olímpico. Era tudo muito novo para mim. A minha vida, depois desse retorno às pistas, foi reconstruída passo a passo. Nunca pensei que fosse chegar a uma Olimpíada e estou aqui. Nunca pensei que poderia conquistar uma medalha, mas sabia que tinha trabalhado muito para estar aqui. Queria isso para não fazer as coisas pela metade", admite Maurren.
Técnico da saltadora paulista desde os 16 anos, Nélio Moura admitiu que, em 2006, quando voltaram a trabalhar juntos, também duvidava da capacidade da atleta voltar a saltar em alto nível. "No ano em que ela voltou a gente tinha dúvidas. Eram quase três anos parada, absolutamente fora de forma. Mas depois daquela primeira temporada, voltamos a pensar na possibilidade dela voltar a ser uma das melhores do mundo. Mas foi só nesse ano voltamos a acreditar que ela poderia ser campeã olímpica", admite o treinador.