Gigante iraniano e mais exemplos de que não tem coitadinho na Paraolimpíada
O gigante iraniano Morteza Mehrzad tem 2,46m. É um dos quatro homens mais altos do mundo, mas precisa de muletas para ficar em pé – uma de suas pernas é mais curta do que a outra. Ele mesmo se considerava um coitadinho: por causa da altura, tinha vergonha de sair de casa. Hoje, não. Tem orgulho. Sua história, porém, não está aqui pela superação. Mas pelo seu significado para o vôlei sentado.
Recrutar gigantes mostra profissionalismo no vôlei
A presença do jogador no elenco da seleção do Irã, finalista da modalidade por oito Jogos Paraolímpicos seguidos, mostra que a era dos coitadinhos acabou. Mehrzad é deficiente, mas não está na seleção por isso. É fruto de um processo de garimpo de jogadores altos do Irã para manter o país na elite.
A coisa é tão séria que as seleções não mais se contentam em receber interessados em jogar: agora os atletas são recrutados por habilidade e altura. O Brasil, mesmo, tem o seu gigante. O oposto Anderson Ribas foi bicampeão da Superliga e se aposentou por causa de lesão nos dois joelhos. Além da experiência no vôlei tradicional, se destaca pelos 2,12m.
Cadeiras de roda com engenharia de ponta
O vôlei sentado não é o único exemplo. Olhe nas pistas de atletismo. Alguns atletas dos EUA estão usando uma cadeira de rodas bem diferente de seus rivais, toda em fibra de carbono, com um design bem mais aerodinâmico do que os triciclos tradicionais. O equipamento é fruto de uma parceria do comitê olímpicos norte-americano com a BMW, que usou tecnologia da fabricação de carros de corrida e engenheiros acostumados em encontrar maneiras de aumentar a velocidade nas pistas para o desenvolvimento. É uma evolução enorme.
“A tecnologia das cadeiras de roda de competição atingiu um platô no início dos anos 2000. O material que eu usava em 2006, quando comecei, era praticamente o mesmo que eu usava até o ano passado”, escreveu Josh George, campeão mundial paraolímpico de maratona, em seu blog. “O motivo para isso é que o mercado é restrito. Se você comparar com as bicicletas, não temos tantas pessoas usando. Não falta gente com dinheiro disposta a gastar milhares de dólares em um aro de fibra de carbono de bicicleta para usar na pedalada do fim de semana, por exemplo. Com cadeiras de rodas, isso não acontece. Por isso, não existia investimento em pesquisa”, escreveu.
Time de F-1 trabalha com paraolímpicos
Além da BMW, a Honda também trabalha com equipamentos em fibra de carbono para paraolímpicos do Japão. E a Dallara, fabricante italiano de chassis de carros de corrida (foi fornecedora da F-Indy e da F-1, por exemplo), criou algumas peças para a handbike que o italiano Alex Zanardi (bicampeão da Indy) usou em suas seis medalhas. Na Grã-Bretanha, que veio ao Rio de Janeiro com vários atletas paraolímpicos honrados com títulos de nobreza pela rainha Elizabeth, a Williams entrou no páreo: Karen Darke teve a sua handbike projetada pelos engenheiros da fábrica de Grove.
“Eu fui até lá em janeiro e disseram que não teriam tempo para isso. Mas depois, os engenheiros me chamaram e começaram a trabalhar na ideia. Ela não parece muito diferente das handbikes tradicionais, já que existem dimensões e padrões a serem mantidos pelas regras. Mas está muito mais aerodinâmica”, explica Karen, ouro no ciclismo de pista na prova contrarrelógio H1-2-3.
Impressoras 3D nivelam alcance da tecnologia
Sem contar avanços tecnológicos nas próteses. As lâminas usadas pelos corredores amputados, por exemplo, estão cada vez mais leves e resistentes. E mais acessíveis. A alemã Denise Schindler, por exemplo, desenvolveu (em parceria com uma empresa dos EUA de tecnologia) uma prótese que pode ser criada em uma impressora de 3D – e que, portanto, são mais baratas e acessíveis. Com ela, foi duas vezes medalhistas no ciclismo de estrada. Muitos atletas também imprimiram luvas usando a tecnologia.
Os treinamentos também estão muito mais evoluídos. O Brasil, por exemplo, acaba de inaugurar um centro de treinamento em São Paulo moderníssimo e completamente adaptado. Algo que nem mesmo o Comitê Olímpico tem. Nos EUA, a Universidade de Illinois tem um programa atlético voltado para cadeirantes. As salas de musculação estão lotadas de equipamentos adaptados, incluindo esteiras especiais em que um atleta pode simular o esforço necessário para correr provas ao redor do mundo. Incluindo subidas e descidas. É lá que uma das maiores estrelas do atletismo no Rio, Tatyana McFadden, que conquistou cinco medalhas, quatro de ouro, treina.
Como Mehrzad, Tatyana também tem uma história de superação. Nasceu na Rússia com um defeito na coluna, foi deixada em um orfanato e adotada por uma norte-americana, também cadeirante. Muito mais importante, porém, é o que ela já fez pelo esporte. Quando era criança, mudou uma lei para que deficientes pudessem competir nos esportes colegiais. No Rio de Janeiro, subiu ao pódio em cinco das seis provas que disputou. E ainda corre a maratona, sua especialidade. Acha que ela se acha uma coitadinha?