Paraolimpíadas

Brasileira "trocou" casa por cadeira de rodas para estar na Rio-2016

Washington Alves/MPIX/CPB
Maria de Fátima Chaves pagou R$ 16 mil do próprio bolso para ter sua cadeira de corrida imagem: Washington Alves/MPIX/CPB

Bruno Braz

Do UOL,no Rio de Janeiro

Você abriria mão de uma festa de casamento ou de comprar uma casa por um sonho? A brasileira Maria de Fátima Chaves não pensou duas vezes. Disposta a participar da Paraolimpíada do Rio, ela investiu todo o dinheiro que juntava para as realizações pessoais e comprou sua cadeira de rodas adaptada para provas de velocidade no atletismo.

“Eu comprei a minha ‘preciosa’, como chamo minha cadeira de rodas, em 2012. Eu estava juntando dinheiro para comprar uma casa ou para casar, mas aí resolvi pegar o dinheiro e comprar minha cadeira de corrida, porque antes eu não possuía e tinha que ficar revezando com outra atleta. Chegou um momento em que nem eu e nem ele conseguíamos mais treinar. Então eu decidi comprar a cadeira que, na época, custou R$ 16 mil”, revelou.

A força de vontade surtiu efeito. Maria de Fátima, após competições por Japão, Suíça e Estados Unidos, conseguiu o índice para os Jogos. Embora não tenha chegado em condições de disputar uma medalha, ela se mostrou muito feliz com o 9º lugar na prova dos 5.000 metros:

“Não foi fácil chegar até aqui. Deixei minha família, meu noivo, minha vida mesmo. Eu moro em Fortaleza, mas desde abril estou fora de casa. Eu treino em Santos. Estou muito feliz com o resultado, em estar numa final e disputar com as melhores da minha modalidade”.

Maria de Fátima sofre com o pouco investimento no Brasil. Por ter um custo muito elevado, com cadeiras que chegam a custar até R$ 20 mil, o país não tem um bom desempenho na modalidade, que deverá ser a única do atletismo que não obterá medalha na Rio-2016.

“Me apaixonei por um esporte muito caro, mas que move minha vida. Como eu queria muito estar aqui, foi investimento atrás de investimento”, declarou.

Com a classificação para a Paraolimpíada, a brasileira conseguiu apoio e patrocinadores, todos vindos de Santos (SP), onde treina. Maria de Fátima, no entanto, cobrou um maior investimento na modalidade de um modo geral.

“Eu consegui ser vista para outros lugares, mas e os outros que estão tentando? Só tem eu e Aline Rocha, mas e as outras que estão tentando investimento e cadeira? Há várias meninas querendo entrar no esporte, mas como não tem investimento, não tem equipamento, elas não conseguem entrar. Só por isso mesmo, porque talento elas têm”, defendeu.

Maria de Fátima ainda tem chance de medalha na maratona que acontecerá neste domingo, a partir das 12h30.

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