Paraolimpíadas

"Minha voz são os olhos deles", diz técnico de 'irmãos de ouro' cegos

Marcio Rodrigues/MPIX/CPB
Everaldo Braz comemora com Silvânia o salto que deu a ela o ouro da Paraolimpíada no salto imagem: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

Com desempenhos fantásticos de Silvânia e Ricardo no salto em distância da classe T11 (cego total), a família Oliveira está em festa e possui dois ouros paraolímpicos. Porém, por trás dos irmãos prodígios, há uma pessoa que teve uma parcela considerável nas conquistas.

Treinador da dupla desde 2012, Everaldo Braz é responsável por toda a parte técnica e tática dos atletas desde a corrida até o salto. Como Silvânia e Ricardo não enxergam, ele tem papel fundamental nas orientações.

“Eu fui convocado para ser técnico de saltos e a minha voz passa a ser os olhos deles dentro da pista. Eles seguem o som da minha voz”, declarou Braz.

Apesar de serem irmãos que disputam a mesma modalidade, Everaldo revela que ambos possuem estilos diferentes dentro da pista.

“Cada atleta é um atleta único, ainda mais um paraolímpico. Trabalhar com a família Oliveira tem que ter um jeito diferente de falar com cada um, porque o Ricardo tem um jeito de aquecer, de treinar, uma maneira de interpretar as coisas e compreender o que a gente passa. Já a Silvânia tem outro, e o que a gente busca é tentar deixá-los o mais confortáveis possível”, explicou.

O treinador também destacou que Ricardo e Silvânia possuem personalidades diferentes no dia a dia:

“O Ricardo é mais na dele, mais quietão. Quando ele se enturma, se solta um pouco. Já a Silvânia é mais comunicativa, mais extrovertida, mas os dois são super tranquilos de trabalhar”.

Algo em comum entre os dois está na técnica para os saltos. Ambos preferem que Everaldo conte as passadas durante a corrida para que eles fiquem concentrados apenas na impulsão. Braz costuma também puxar os braços dos irmãos contra o seu peito antes das provas para mostrar a direção correta do percurso.

Como todo técnico, Everaldo não aliviou Silvânia nem com o ouro, dizendo que a brasileira pode saltar melhor.

“É que, na verdade, se for parar para pensar, ela é campeã e recordista mundial. Ela ganhou a medalha, mas não fez uma boa prova. Não sei se pesou por ser em casa, mas ela estava muito nervosa, e a gente tem que se controlar para não passar isso para eles”, declarou o exigente treinador.
 

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