A história do paraolímpico que escapou das prisões de Saddam Hussein
Quando Saddam Hussei comandava o Iraque a mão de ferro, os rumos do esporte eram determinados por seu filho, Uday. Não faltam histórias de abuso do filho do ditador sobre atletas. Agressões, prisões e até sentenças de morte teriam sido ordenadas contra quem, na opinião de Uday, tivesse um rendimento ruim.
Uma destas histórias chegou às Paraolimpíadas do Rio de Janeiro. No levantamento de peso, Ahmed Shafik ficou em sétimo lugar na categoria até 80 kg. Um detalhe: pelos Estados Unidos, pátria que adotou em 2000 – justamente por causa do regime de terror adotado pelos Hussein no esporte iraquiano.
O atleta nasceu em Bagdá em 1973. Seu pai, Abdul, praticava levantamento de peso olímpico e chegou a representar o país internacionalmente. Ahmed sempre gostou do esporte, mas por ter contraído pólio, que afetou a força nos membros superiores, não poderia chegar ao nível competitivo na modalidade.
Na versão paraolímpica, em que as pernas são amarradas para nivelar diferentes níveis de comprometimento (ausência de membros ou efeitos de doenças), porém, ele podia competir de igual para igual. O problema é que, na primeira competição que disputou, o 5º lugar no Mundial de 1998 desagradou ao chefe do esporte por lá.
“Quando chegamos, o time todo apanhou”, contou o atleta, em entrevista ao Comitê Olímpico dos EUA. Não foi só isso: os levantadores de peso foram presos por causa do resultado, sofrendo agressões diárias. “Quando saí da prisão, decidi nunca mais praticar o esporte. Disse também que deixaria o país”.
Ahmed foi para a Jordânia e, em seguida, chegou aos EUA, onde assumiu o status de refugiado. Em 2003, seu novo país declarou guerra, mais uma vez, contra a sua velha nação. Foi aí que o atleta deixou de ser refugiado para virar cidadão norte-americano. Ele se alistou e foi usado como engenheiro elétrico e tradutor. Fez três campanhas no Iraque, servindo ao exército por dez anos.
Foi lá, de volta ao país em que nasceu, que o levantamento de peso voltou a sua vida. Inspirado pela vida militar, ele voltou a levantar pesos, agora pelos EUA. Em 2010, voltou a um campeonato mundial, terminando em 10º lugar. Em 2012, se classificou para os Jogos Paraolímpicos. No Rio de Janeiro, foi o único atleta do país na modalidade.
E um detalhe: sua mulher, Nour, deu à luz o segundo filho do casal na semana da abertura dos Jogos – que serão os últimos da carreira do atleta. “Eu o vejo todos os dias desde o início dos Jogos e tudo está bem”, falou, após a competição. “A Rio-2016 foi muito mais interessante do que Londres. O resultado foi melhor e eu me diverti muito mais. Espero que em 2020 mais americanos se classifiquem”.