Zanardi compete no Rio 15 anos após acidente em que teve pernas amputadas

A data era 15 de setembro de 2001. Alex Zanardi, bicampeão da F-Indy, saia dos boxes no autódromo de Lausitzig, na Alemanha, quando rodou e foi para o meio da pista. O canadense Alex Tagliani, a mais de 300 km/h, acertou o carro do italiano. A batida foi no meio e o bico do carro atingido foi completamente destruído. O corpo do piloto sofreu demais. Foi reanimado sete vezes, perdeu muito sangue. Por 15 minutos, sua circulação ficou praticamente parada.
“De acordo com a ciência, eu não deveria estar aqui”, diz. Só que Zanardi não foi avisado disso e sobreviveu. No dia em que o acidente faz 15 anos, ele vai desafiar a ciência mais uma vez. O italiano é o favorito na prova de para-ciclismo de estrada, na manhã de quinta-feira. Nesta quarta, um dia antes do aniversário da batida, ele já levou um ouro, na prova de contra-relógio (venceu com 28min36s81s).
Aos poucos, o atleta percebeu que o acidente não iria acabar com sua vida. A volta ao automobilismo foi rápida: em 2003 já estava pilotando no Europeu de Turismo. A chegada ao esporte paraolímpico demorou um pouco mais.
Em 2007, ele leu um artigo sobre o ex-piloto Clay Regazzoni, que perdeu os movimentos abaixo da cintura em um acidente na Fórmula 1 e disputou a maratona de Nova York com uma handbike. Inspirado, aceitou o convite para disputar a prova e terminou em quarto lugar – com só quatro semanas de preparação.
A chance de vitória o deixou animado e ele não parou mais. Dois anos depois, veio a primeira vitória, na maratona de Veneza. Era o início de uma carreira tão vencedora quanto aquelas a bordo dos carros de corrida. Aos 49 anos, ele chegou ao Rio de Janeiro com três medalhas olímpicas, duas delas de ouro (contra o relógio e na prova de estrada de Londres-2012), e oito títulos mundiais. Na Rio-2016, já levou um ouro, no contra-relógio.
Das pistas de corrida ele trouxe o conhecimento mecânico e de aerodinâmica. Tanto que ele mesmo projetou (com ajuda de engenheiros da BMW, sua patrocinadora) e construiu (com peças fabricadas especialmente pela Dallara, empresa italiana que já forneceu chassis para a F-1 e F-Indy) a sua handbike – aquele triciclo que os atletas usam nas provas mais longas, em que os pedais são girados com as mãos.
Para o Rio de Janeiro, usando as informações de percurso e altimetria, ele adaptou o equipamento para as características do percurso que vai encontrar: acertou sua posição na cadeira e alguns ângulos de peças da bicicleta. “A prova será na orla do Rio, então não teremos muitas subidas e descidas, o que torna a aerodinâmica muito importante. Principalmente na prova de estrada, acho que tudo será decidido nos últimos metros”, explica.
Zanardi tem uma relação especial com o Rio de Janeiro. Em 1996, conquistou sua primeira pole position na Fórmula Indy justamente na cidade, em prova disputada no extinto autódromo de Jacarepaguá, que deixou de existir para a construção do Parque Olímpico da Barra - que fica cerca de 15 km de distância da praia do Pontal, onde o italiano conquistou sua medalha nesta quarta-feira.