Paraolimpíadas

Zanardi compete no Rio 15 anos após acidente em que teve pernas amputadas

Andrew Matthews/AP
Zanardi se emociona ao receber a medalha de ouro dos Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro imagem: Andrew Matthews/AP

Do UOL, em São Paulo

A data era 15 de setembro de 2001. Alex Zanardi, bicampeão da F-Indy, saia dos boxes no autódromo de Lausitzig, na Alemanha, quando rodou e foi para o meio da pista. O canadense Alex Tagliani, a mais de 300 km/h, acertou o carro do italiano. A batida foi no meio e o bico do carro atingido foi completamente destruído. O corpo do piloto sofreu demais. Foi reanimado sete vezes, perdeu muito sangue. Por 15 minutos, sua circulação ficou praticamente parada.

“De acordo com a ciência, eu não deveria estar aqui”, diz. Só que Zanardi não foi avisado disso e sobreviveu. No dia em que o acidente faz 15 anos, ele vai desafiar a ciência mais uma vez. O italiano é o favorito na prova de para-ciclismo de estrada, na manhã de quinta-feira. Nesta quarta, um dia antes do aniversário da batida, ele já levou um ouro, na prova de contra-relógio (venceu com 28min36s81s).

Jason Cairnduff/Reuters
Zanardi compete na Rio-2016: ouro na prova de contra-relógio imagem: Jason Cairnduff/Reuters
As sequelas da batida foram enormes. A maior delas: Zanardi teve de amputar as duas pernas acima do joelho. “No começo, foi muito difícil. Eu dependia de alguém 24 horas por dia. No começo, até fazer xixi era um feito”, lembrou o atleta, em entrevista coletiva na Vila dos Atletas dos Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro.

Aos poucos, o atleta percebeu que o acidente não iria acabar com sua vida. A volta ao automobilismo foi rápida: em 2003 já estava pilotando no Europeu de Turismo. A chegada ao esporte paraolímpico demorou um pouco mais.

BMW AG
Zanardi e a handbike que ele mesmo projetou, com supervisão de engenheiros de sua patrocinadora e peças criadas por uma fabricante de chassis de carros de corrida imagem: BMW AG

Em 2007, ele leu um artigo sobre o ex-piloto Clay Regazzoni, que perdeu os movimentos abaixo da cintura em um acidente na Fórmula 1 e disputou a maratona de Nova York com uma handbike. Inspirado, aceitou o convite para disputar a prova e terminou em quarto lugar – com só quatro semanas de preparação.

A chance de vitória o deixou animado e ele não parou mais. Dois anos depois, veio a primeira vitória, na maratona de Veneza. Era o início de uma carreira tão vencedora quanto aquelas a bordo dos carros de corrida. Aos 49 anos, ele chegou ao Rio de Janeiro com três medalhas olímpicas, duas delas de ouro (contra o relógio e na prova de estrada de Londres-2012), e oito títulos mundiais. Na Rio-2016, já levou um ouro, no contra-relógio.

Das pistas de corrida ele trouxe o conhecimento mecânico e de aerodinâmica. Tanto que ele mesmo projetou (com ajuda de engenheiros da BMW, sua patrocinadora) e construiu (com peças fabricadas especialmente pela Dallara, empresa italiana que já forneceu chassis para a F-1 e F-Indy) a sua handbike – aquele triciclo que os atletas usam nas provas mais longas, em que os pedais são girados com as mãos.

Para o Rio de Janeiro, usando as informações de percurso e altimetria, ele adaptou o equipamento para as características do percurso que vai encontrar: acertou sua posição na cadeira e alguns ângulos de peças da bicicleta. “A prova será na orla do Rio, então não teremos muitas subidas e descidas, o que torna a aerodinâmica muito importante. Principalmente na prova de estrada, acho que tudo será decidido nos últimos metros”, explica.

Zanardi tem uma relação especial com o Rio de Janeiro. Em 1996, conquistou sua primeira pole position na Fórmula Indy justamente na cidade, em prova disputada no extinto autódromo de Jacarepaguá, que deixou de existir para a construção do Parque Olímpico da Barra - que fica cerca de 15 km de distância da praia do Pontal, onde o italiano conquistou sua medalha nesta quarta-feira.

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