Ursos, tubarão e cobra colocaram atletas nas Paraolimpíadas
As histórias que serão contadas aqui não são para quem tem estômago fraco. O mais leve dos relatos é, provavelmente, o de uma brasileira que foi picada por uma cobra no interior. Mais importante, porém, é o que une os donos das quatro histórias: todos eles ignoraram os obstáculos que as lesões causaram e, hoje, fazem parte da elite do esporte paraolímpico do planeta nos Jogos do Rio de Janeiro.
O perigo dos ursos de zoológico
Em 1984, o ucraniano Vasyl Kovachuck tinha 10 anos quando ganhou um presente de aniversário – ele iria completar 11 quatro dias depois: um passeio no zoológico. Com a escola ele e alguns colegas pensaram ser uma boa ideia acariciar um urso negro asiático. Não era.
O urso mordeu o braço direito do garoto. Seus amigos, desesperados, começaram a puxar Vasyl, para tirá-lo do poder do animal. O urso aumentou a força e o braço de soltou do corpo. Por sorte, a ambulância chegou a tempo e a vida de Vasyl foi salva. Ao voltar para a escola, o garoto teve de reaprender a escrever com a mão esquerda.
Com a romena Mihaela Lulea, o problema foi com a perna esquerda. Aos 12 anos, ela também estava em um zoológico quando chegou muito perto da grade. Um urso a puxou e só soltou depois que os funcionários do local, usando bastões, galhos e água. “Eu fiquei desesperada quando olhei para baixo e vi todo aquele sangue”, lembra. Por causa das lesões, ela teve de amputar a perna esquerda.
No Rio de Janeiro, Vasyl disputa duas provas. Ele foi sétimo colocado no rifle de ar de 10 metros de pé SH2 e nesta terça-feira (13) participa do rifle de ar de 10m pronado. Já Mihaela participa da prova de canoagem velocidade classe KL3, na quarta-feira.
Salva-vidas foi atacado por tubarão branco
A terceira história é da África do Sul. Achmat Hassiem era salva-vidas em uma praia próxima à Cidade do Cabo viu uma grande barbatana fazendo círculos em volta de seu irmão. Ele entrou na água e passou a fazer movimentos, para atrair o animal. Deu certo. O tubarão branco, um dos mais perigosos do planeta, o viu e atacou. Achmat perdeu a perna direita abaixo do joelho.
Hoje, ele agradece pelo acidente. “Os tubarões me deram muita coisa. A chance de defender o meu país e ganhar medalhas paraolímpicas, por exemplo”, fala. Além disso, ele também já tem emprego para quando a carreira de atleta paraolímpico terminar: Achmet foi nomeado guardião marinho pela ONU e vai trabalhar em uma ONG de proteção ao animal. Sua ligação é tão grande que ele até deu nome ao animal que o atacou. “Ela é Sally e está gigante atualmente”.
No Rio de Janeiro, ele disputa duas provas de natação, 100m livre e 100m borboleta da classe S10.
A mordida que mudou a vida de brasileira
Vileide de Almeida tinha 12 anos quando foi picada por uma cobra venenosa quando estava na casa da avó, no interior do Pará. Ela foi socorrida a tempo. O problema foi o local da mordida: no calcanhar do pé esquerdo, atingindo o tendão calcâneo. “Tive de tirar parte do tendão e isso acabou atrofiando o pé esquerdo”, contou a brasileira ao portal Brasil2016.
Os problemas de locomoção a deixaram deprimida. Ela só reencontrou a felicidade quando aceitou um convite de um amigo para praticar basquete. “Eu não me aceitava na sociedade. O esporte me introduziu de volta. Aprendi a me aceitar e a me amar como pessoa. Hoje em dia, sem dúvida, ele é tudo para mim”.
Vileide é atleta da seleção brasileira feminina de basquete em cadeira de rodas, que ganhou uma partida na primeira fase e está nas quartas de final da competição, contra os EUA – a partida está marcada para esta terça.